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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

POLÍTICA



ONDA 'MUDANÇA' JÁ PREOCUPA 
FUTURO PSD-M DE ALBUQUERQUE


Os resultados eleitorais e a onda 'Mudança' vieram estragar o que poderia ser um descontraído 'passeio' de Miguel Albuquerque em direcção à Quinta das Angústias 




O futuro PSD-M, na forja, teme que o fervor oposicionista das autárquicas cresça até  às regionais de 2015





Os chamados miguelistas municipais vivem momentos de apreensão e com motivos para isso. De repente, a conjuntura política regional alterou-se radicalmente. A estratégia da linha Miguel Albuquerque já não poderá resumir-se a desfrutar, de poltrona, o estertor do jardinismo para depois vencer facilmente uma oposição esfrangalhada nas próximas regionais. As coisas mudaram. O vendaval autárquico mexeu com todas as frentes da política insular. Sobretudo o PSD, pois claro. Quanto maior é a nau...


Domingo passado, à medida que no 'bunker' da Rua dos Netos a recepção de resultados permitia prenunciar o desastre laranja, rostos atacados por uma palidez lancinante procuravam descobrir uma coisa muito simples: perante a hecatombe, que poderia estatutariamente maquinar Miguel Albuquerque? A preocupação era essa.

Jardim não estava no 'bunker'. Refugiara-se mais acima, num dos gabinetes da sede social-democrata. Mas estavam lá Manuel António, alguns candidatos ao Funchal, Tranquada Gomes, Sérgio Marques e elementos das 'contas' e da máquina partidária.


Rua dos Netos a receber derrotas e a pensar em Albuquerque 

Manuel António, como se sabe, é candidato assumido à sucessão. Sérgio Marques já decidiu concorrer também, embora sem anúncio formal. E há Cunha e Silva. E há Miguel de Sousa, evidentemente. Mas se qualquer um deles se fixava cada vez mais em Miguel Albuquerque à medida que iam caindo, como chicotadas cortantes, as derrotas no Funchal, em Santa Cruz, em São Vicente, em Machico, no Porto Santo, no Porto Moniz e em Santana, o que fará Jardim! Mesmo sem tragédias eleitorais como a de domingo, chefe social-democrata vive obcecado com o 'atrevimento' de Miguel Albuquerque quanto a roubar-lhe a liderança do partido.
Numa análise fria, as reacções na Rua dos Netos não são de pasmar.

Já Miguel Albuquerque e apoiantes começaram a noite a registar com alguma normalidade a derrocada ruidosa do velho PSD, que aliás partira doente para estas eleições. Mas, de repente... Eh lá! As surpresas na contagem de votos estavam a ir longe demais! E os miguelistas a concluir então que, se a conquista do partido a Jardim é uma questão de tempo, vencer oposições, depois destas gloriosas autárquicas, poderá transformar-se numa tarefa complicadíssima.
Atacado por esse espectro, o PSD municipal de Miguel antecipou-se a todas as reacções no partido, talvez à excepção das habituais declarações do chefe depois dos resultados, na própria noite de domingo, e agendou conferência de imprensa para esta próxima sexta-feira. Ou seja, Miguel não apareceu imediatamente em público, a crucificar os responsáveis pela derrota, mas avisou que a situação não passaria em claro. Obviamente.

Qual é a pressa? Toda!


A facção de Miguel Albuquerque não tem muitas alternativas para escolher. Aquilo que até poderia resultar num secreto prazer de assistir à lenta e triste agonia do jardinismo, para depois receber nas mãos o partido, sem grandes lutas, constitui hoje um perigo de monta. O eleitorado ensinou: quanto mais tempo de Jardim, mais votos para a Oposição. É que, entretanto, adensa-se a vaga 'Mudança' que abalou a capital com réplicas muitos importantes em toda a Região - concelhos das Costas de Baixo à parte.

À serenidade estratégica, Miguel Albuquerque precisa impreterivelmente de juntar celeridade operacional. Sob pena de os ventos de mudança pelos quais a Madeira tanto ansiava o varrerem do mapa, também a ele.
Já lá vai o tempo dos medos e pavores, dos papões, do comunismo canibal, do diabo e do inferno. O povo correu pela primeira vez com a supremacia demolidora de Jardim... e afinal a vida continua, toda a gente continua a dormir, a acordar, a respirar, a trabalhar. A derrota do laranjal não fez desabar o anunciado dilúvio nem tremer a terra, nem atraiu um tsunami devastador. 
Os mitos morrem.


Miguel Albuquerque não pode esperar uma decisão politicamente ética do seu ainda chefe. Postura que, aliás, deveria ter sido assumida no domingo à noite. Jardim nem se demite nem sequer põe tal possibilidade à discussão. A brigada do reumático reúne-se esta quarta-feira à noite na Rua dos Netos para o habitual número de catarse na escalpelização dos resultados. E então?

A Comissão Política ouvirá de Jardim os argumentos a adoptar em todas as análises autorizadas, e daí ninguém sai. Os culpados são tudo e todos - maçonaria, ingleses, comunicação social, todos numa irmandade que se juntou para levar Miguel Albuquerque à liderança do PSD-Madeira. Ah, e é preciso falar da qualidade desta democracia, na qual democracia, escreve o chefe hoje no JM, os votos se compram com sacos de arroz. 
Não vale a pena perder tempo sobre o criador desta 'democracia'. Na qual os votos também se compram com sacos de cimento e telhas, espetada, muito vinho e casas em bairros sociais para quem não precisa, para não falar nos subsídios aos que forem da cor, nos subsídios e também nos subsídios e mais subsídios e subsídios para quem é dos 'nossos'.
Em qualquer terra normal, os comissários políticos não deixariam chefe Jardim avançar muito, esta noite. Mas, se andaram submissos durante décadas, não é desta que algum será capaz de teimar que o rei vai nu. E se, o que nos custa a crer, algum tentar baixar o ambiente à realidade - e vontade não falta a Sérgio Marques - ouvirá o que ouviu aquele velho laranja que há poucos dias, na inauguração de uma cooperativa de vinhos, tentou aconselhar o chefe a moderar um pouco a maneira de falar. Que lhe respondeu o chefe? Agradeceu-lhe o bom conselho? Não. Anunciou ao atrevido que naquele instante se tornara um inimigo dele, Jardim. 


Nem o pai morre...

Miguel Albuquerque, que se encontra em Coimbra nos trabalhos da Associação Nacional de Municípios, não alimenta ilusões nessa matéria. Qual demissão! Qual críticas ao chefe! Os membros da Comissão Política entendem que o chefe já está a mais. Pensam e dizem-no, em privado. Mas alguns, para justificar o seu silêncio à frente de Jardim, refugiam-se no dever de gratidão. Outros pura e simplesmente não arriscam ser corridos da sala, acusados de traidores.


Moral da história: o velho PSD-Madeira não está com ideias de atacar a situação frente a frente com a realidade. E devia fazê-lo, para tentar sair de cena sem um enxovalho maior. É que não há mais nada a fazer, nessa senil ala partidária. 

A hora é de o futuro PSD-M avançar, o PSD-M de Miguel Albuquerque. É esse PSD que ganhará a luta interna, graças à promoção que lhe tem feito o figadal inimigo Jardim.
Dados concretos: Jardim continua obcecado pelo poder e não vê nada para os lados. Cada inspiração para respirar, cada palavra, cada passo, tudo é feito com Albuquerque na cabeça. O chefe prepara-se, que ninguém duvide, para novamente adiar Manuel António e defrontar Albuquerque em Dezembro de 2014. 
Mas Albuquerque acaba de receber um aviso solene do eleitorado: há mais política para além do PSD-Madeira. Portanto, não há tempo a perder. Quanto mais se consolidar a ideia de mudança política na Madeira, quanto melhor se preparar a oposição, mais difícil se tornará o trabalho de Albuquerque numas eleições regionais. Logo, a facção municipal precisa de impor uma 'eutanásia' forçada para acabar com a situação no partido de 'nem o pai morre nem a gente ceia'. 

Antigos social-democratas receiam a revolução radical no partido. Temem que Miguel Albuquerque precipite para muito breve as eleições internas, para depois provocar legislativas regionais antecipadas. "Isso seria uma loucura, o fim do PSD-Madeira, numa altura em que há uma corrente da oposição em sentido contrário que me parece engrossar de dia para dia", disse-nos alarmado um barão laranja, que não esconde outro receio: "Se ele (Jardim) não mostrar na Comissão Política que vai mudar de conversa, está visto que vamos para o suicídio colectivo."

Que dirá Miguel na sexta-feira?

Que fará então Albuquerque na sexta-feira, quando em conferência de imprensa? Propor bom senso a Jardim, de modo a que apresse a sua saída? Dar um prazo para que isso aconteça? Ou anunciará o precipitar dos acontecimentos por exemplo com uma antecipação de eleições no partido, se os estatutos o permitirem, já que há congresso marcado para Janeiro de 2015?
Se Albuquerque pretender definir já o problema da sucessão no PSD, desafiando quem quiser para eleições internas, Jardim poderá fazer o que já disse, que é não aceitar congressos antecipados. Nesse caso, é verdade que Jardim fica numa situação de fragilidade no partido, resultante da fuga diante de Albuquerque. Mas, para este, será um marcar de passo de todo prejudicial para a luta que um dia travará com as oposições.
Já falámos com quadros da facção Albuquerque, mas nada conseguimos arrancar sobre o discurso de sexta-feira. Arriscamos dizer que o autarca cessante não quererá ficar com a bola do seu lado. Ele tratará, julgamos, de deixar bem claro que quer resolver já - já - os problemas internos antes que o PSD-M desapareça. E desafiará Jardim para o combate final. E então Jardim que decida o que fazer.

Oposição: quanto mais Jardim, menos PSD


Por seu lado, os partidos da Oposição fazem votos para que o estado de saúde do ainda partido maioritário se vá degradando lentamente. Os dirigentes da 'Mudança' e dos outros partidos fora do poder percebem que quanto mais tempo houver de Jardim, mais inviável se torna o PSD. Logo, é deixar o adversário arder em 'lume brando'.

Sabemos da firme disposição do maior partido da coligação no Funchal, o PS, para derrubar de uma vez o PSD e o governo laranja, em 2015. A experiência de aliança no Funchal resultou bem, não há que enganar.
O caminho mais provável, pelo pulsar do momento, é o de uma coligação nas regionais. Dirigentes do PS-M dizem-nos desejar até que essa coligação inclua formações além das que integraram agora o projecto 'Mudança' na capital. Pelo andar da carruagem, faz muito sentido. É provável que essa solução ganhe dinâmica - e já não falta muito tempo. 
Os partidos da 'Mudança' abdicaram dos interesses de cada qual, porque alguns já tinham representação na Câmara do Funchal e podiam renová-la - mas abdicaram de pessoalismos a fim de conquistarem a capital e, depois, chegarem ao poder na Região. Não seria por egoísmo que essas mesmas forças abandonariam agora, quando já vislumbram os portões das Angústias, o ideal comum, um ideal madeirense, de afirmação definitiva da democracia que o 25 de Abril não conseguiu libertar nesta terra.


PP com muito para reflectir


E o Partido Popular? Mais uma vez, cabe-lhe decidir se pretende contribuir para uma mudança de regime na Região ou se prefere trilhar o seu caminho , de modo próprio, tentando 'chegar lá' sem parceiros.

José Manuel Rodrigues enfrenta um tempo nebuloso. Para o ano há europeias e já disse que não indicará candidato regional nem fará campanha pela coligação PSD-PP. Mas, em 2015, terá de se assumir. Caso haja no país nova coligação PSD-PP, como integrar o PP uma coligação na Madeira contra o PSD-M? Mas... os populares serão condenados a recolher as sobras da luta bipolar que já se desenha entre o PSD, certamente com Miguel Albuquerque na liderança, e uma coligação de partidos? Isso teria consequências desastrosas para o PP, que José Manuel Rodrigues levou a segundo partido regional com 9 deputados nas últimas eleições legislativas.
Por outro lado ainda... Se nas autárquicas o PP não quis aparecer lado a lado com partidos que especificou, então como fará nas regionais, se a CDU aceitar o repto que de novo lhe será feito para integrar uma coligação?


José Manuel Rodrigues, se recusar aliar-se outra vez, e dado que não o deverá fazer com o PSD-M, mesmo o PSD-M de Albuquerque, pode ser acusado de permitir a recuperação dos social-democratas (já com Albuquerque) para mais 20 anos de laranjal.

Tempos difíceis pela frente, para Rodrigues.

Em breve se conhecerá o posicionamento de todas as formações. Muito em breve. Porque a 'embalagem' dos resultados, na perspectiva das oposições, é de aproveitar, tal como é de aproveitar a crise que consome o PSD no seu interior. É preciso começar a trabalhar ontem - como dizia Luís Jardim, nosso antigo chefe de Redacção.

9 comentários:

Anónimo disse...

Sejamos claros: o castigo foi para AJJ. A maioria não votou a favor deste ou daquele candidato mas sim CONTRA AJJ. Ficando AJJ fora do PSD o panorama volta à normalidade: maioria laranja em todo o lado. É a realidade.

jorge figueira disse...

Acantonado o PPD/PSD, facao ajj, na zona oeste, justifica-se, nos tempos que correm, recordar a frase: da-lhe que e da Calheta. jorge figueira

Anónimo disse...

Caro Calisto

Com esta crónica, resumiu o que vai na cabeça de muitos madeirenses.
Arrisco-me a dizer que, mais importante que as conclusões de uma Comissão Política com o potencial de um ajuste de contas, será a comunicação de sexta de Albuquerque.
Estamos a viver um "outono louco".

Anónimo disse...

Digamos o que vai na cabeça de Albuquerque mas em muito menos caracteres: tratemos já de uma coligação com o CDS antes que descubram os esqueletos que deixei na Câmara.

Anónimo disse...

Para que conste Sérgio Marques não compareceu à reunião da comissão política desta quarta-feira. Isso deve querer dizer algo...

Anónimo disse...

Significa que há falta de hortaliças em casa do Sérgio Marques. .

Anónimo disse...

Os alvos a abater sao Jardim e sua corte proxima. De resto tudo volta à normalidade. A renovacao passa por dentro do PSD. A oposicao partidaria è fraquissima. Os independentes è que recolheram a simpatia dos descontentes com a arrogancia jardinista. O PSD tem quadros superiores a qualquer independente caloiro e sorridente sem experiencia. AJJ deixe o partido se renovar naturalmente...

Anónimo disse...

Miguel Albuquerque ganha a presidência do governo mesmo se filiande na C D U

Anónimo disse...

Faltam Hortaliças? Então espera pela próxima semana...