Recomendamos a leitura do artigo de opinião que publicamos a seguir da autoria do Dr. Eduardo Abreu. Actualíssimo e perspicaz.
RICAS AVALIAÇÕES
Segundo a Deco a taxa de juro cobrada pelos bancos no financiamento dos
próprios imóveis é de cerca de metade da aplicada no crédito à habitação
tradicional.
Com o fecho da torneira do crédito e a escalada dos ‘spreads', os imóveis
da banca passaram a ser quase um oásis para quem pretendia comprar casa com
recurso a crédito. Face à necessidade de se desfazerem do grande número de
imóveis em carteira, os bancos apostaram na oferta de condições mais vantajosas
no crédito para essas casas. Nomeadamente, rácios de financiamento mais
elevados e ‘spreads' mais baixos. Dados de um estudo que a Deco publica na
revista Dinheiro & Direitos, na próxima quarta-feira, permitem aferir que a
taxa de juro cobrada pelos bancos é, em média, menos de metade da aplicada no
restante crédito à habitação. (in Diário Económico de 24-02-2014)
Fruto, em grande parte, da conjuntura que vivemos, tem surgido inúmeros
casos de pessoas e empresas que se vêem confrontados com a impossibilidade de
poder cumprir atempadamente com as suas obrigações, nomeadamente com
financiamentos contraídos junto da banca.
Trata-se, obviamente, duma situação constrangedora e de extrema preocupação
para todos aqueles que estão envolvidos, quer directa quer indirectamente, e
que tem levado ao desespero de muitas famílias.
Na sua grande maioria, tais financiamentos estão suportados por garantias
reais (casas, terrenos, etc) e a solução que tem sido encontrada tem passado,
invariavelmente, pelo aumento da maturidade da divida (como está na moda
dizer-se) com revisão das taxas de juro ou pela dação em pagamento de bens para
amortização do capital em divida e acabar com o suplício das pessoas.
Ora, é precisamente aqui que encontramos situações com as quais não podemos
concordar de forma alguma, uma vez que se nos afigura que, nomeadamente a
banca, age conforme quer e lhe apetece e, pasme-se, o valor de avaliação do
imóvel em causa vai sempre de encontro às suas aspirações, quase sempre em
prejuízo dos depauperados devedores. O critério de escolha dos peritos avaliadores
e os métodos e ponderadores de avaliação, bem como um possível recurso, não é
claro nem transparente e, sem querer colocar em causa a competência e
honestidade dos avaliadores, tenho de contestar vivamente o sistema de
avaliação. Ainda por cima, “ inventaram”, mais recentemente, um critério de
avaliação que é o da “Venda Imediata”, isto é, já não bastava o mercado
imobiliário ter sofrido a quebra que sofreu, (fruto da especulação imobiliária
da responsabilidade da banca) ainda lhe adicionam mais esta da venda imediata,
o que só penaliza quem é dono do imóvel. E, assim sendo, não é de estranhar que
o valor em divida seja, dum modo geral, sempre superior ao valor do bem que a
garante, o que beneficia a banca em prejuízo dos já de si descapitalizados devedores.
Assim, o devedor fica sem o bem e ainda tem de pagar o diferencial por um tempo
indeterminado. Chega-se ao cúmulo de haver avaliações efectuadas pela banca,
cujo valor é inferior às avaliações efectuadas pelas Finanças (outros juízes em
causa própria) para efeitos de IMI! E, atenção, porque o Banco de Portugal
prepara-se para emanar directrizes que só farão piorar as coisas, pedindo que
os imóveis, na posse da banca há menos de um ano, sejam reavaliados em baixa!
Vai ser o bom e o bonito, e ninguém se mexe, ninguém faz nada. Será que os
nossos políticos não percebem o que se está a passar, ou será incompetência
e/ou conivência com o sistema.
Dir-me-ão que o negócio dos bancos não é ficar com imóveis. Pois não, mas o
que é um facto é que para concederem o financiamento pediram a respectiva
garantia real, a qual, inicialmente, cobria integralmente todo o capital
financiado e, inclusivamente, com alguma pompa e circunstância, diziam-se
parceiros de negócio; mas, agora que a coisa está preta, e depois de terem sido
ajudados pelo Estado com o dinheiro de todos nós, já não somos parceiros (onde
está o financiamento para as PME´s?) e toca a expropriar (é este o termo) a
qualquer preço, este “bando” de incumpridores. Ou seja, não querem os imóveis,
mas a primeira acção é partir para a execução dos mesmos, sem fazerem,
previamente, uma tentativa de acordo no sentido da viabilização dos devedores.
Depois, promovem vendas em leilão, a preços anormalmente baixos e, pasme-se,
com taxas de juro substancialmente reduzidas, conforme tem sido público e
notório. É caso para perguntar, onde anda a Autoridade da Concorrência? Não
temos dúvidas que estamos perante um fenómeno de concorrência desleal a todo o
sector, com prejuízo evidente para os promotores imobiliários. Claro está, como estes não conseguem vender e
construíram os seus empreendimentos em parte com financiamentos da Banca, não
lhes resta alternativa senão aquela em que consiste na entrega dos
empreendimentos (acabados ou não) aos seus credores. Assim, o ciclo torna-se
vicioso e não virtuoso, como seria desejável. Com este procedimento,
dificilmente sairemos disto.
Tudo isto se passa e não vemos nenhuma autoridade, instituição ou conjunto
de deputados (seja de que partido for), tomar a iniciativa de abordar este
assunto com a seriedade que ele merece e estipular regras que, no mínimo,
garantam isenção e equidistância nestes procedimentos.
Não podemos concordar que cada entidade (banca, fisco, etc.) seja juiz em
causa própria; sabemos que podemos reclamar da avaliação, mas quem decide, na
generalidade dos casos, é sempre a entidade interessada. Além disso, o recurso
custa sempre dinheiro e todos sabemos que a maioria daqueles que pretendem reclamar não tem possibilidades de o fazer.
Em nosso modesto entender, a criação duma entidade independente,
avaliadora, credível, equidistante, com regras de funcionamento bem definidas,
poderia ser uma solução, mesmo que fosse só de supervisão e de garante dos
direitos de todos nós ou, em alternativa, atribua-se essas competências a
alguma entidade já existente e que reúna o perfil mais próximo e adequado
(evita-se a criação duma nova), mas faça-se qualquer coisa, porque é urgente.
Eduardo Abreu
A propósito do artigo acima, reproduzimos uma graça clássica, enviada também pelo Dr. Eduardo Abreu
A NOSSA CASA VISTA...
Por nós próprios
Pelo comprador
Pelo banco
Pelo avaliador
Pelas Finanças
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