SEMANA MEXIDA

'SIC TRANSIT GLORIA MUNDI'

É verdade: 'assim passa a glória do mundo'. Até para os que se julgam eternos, conforme os exemplos que a História mostra. Na Madeira, mesmo no antigamente, não houve governante que se mantivesse no poder tanto tempo como Jardim. Também nenhum acabou como ele está a acabar.

Faz esta segunda-feira 36 anos que Jardim ascendeu ao poder regional, em substituição do Eng.º Ornelas Camacho. 

Esta semana inicia-se, pois, com a evocação de uma efeméride curiosa no campo da ciência política: passam hoje 36 anos sobre o distante dia em que Jardim pegou nos destinos da Madeira através de um cargo que tanto tempo depois ainda ocupa.

Segunda-feira: Jardim festeja 36 anos de
governo e Gabriel Farinha é expulso.

A semana começa também com mais uma expulsão no PPD-Madeira, por iniciativa de Jardim: Gabriel Farinha, antigo presidente da Câmara do Porto Moniz.

E esta semana decorrerá em clima de lutas intestinas no PPD-M, mais ainda do que o habitual. O ainda chefe pressiona o Conselho de Jurisdição (CJ), com recurso à chantagem partidária, para que mais expulsões se operem o mais depressa possível, sobretudo a de Miguel Albuquerque.

Quinta-feira: Miguel de Sousa lança candidatura,
apesar do sobrenome que desagrada ao chefe.

Na quinta-feira, mais um ex-Delfim de Jardim, Miguel de Sousa, lançará oficialmente a sua candidatura à liderança, para tentar mudar a Madeira depois dos últimos desastrosos 10 anos de jardinismo - como denunciou já o próprio Miguel de Sousa.

Sexta-feira: Albuquerque no Caniço, com apoiantes.

Sexta-feira, Miguel Albuquerque reúne-se no Caniço com apoiantes, no âmbito dos encontros para promoção da sua candidatura.

É tudo a trabalhar para fazer apear o chefe que um dia fez apear Ornelas Camacho.

Albuquerque, a propósito, era presidente da Câmara do Funchal quando foi atribuído a uma rua o nome do Eng.º Ornelas Camacho, primeiro presidente do governo regional.

No final da semana, sábado, a 'brigada do reumático' - versão 'conselho regional' - há-de comparecer à chamada para, no centro de congressos da Fundação Social Democrata, manifestar apoio a Jardim, tal como a Direita militar fez perante Marcello Caetano, já no estertor do regime fascista.

Sábado: conselheiros ou 'brigada do reumático'?

Quanto às semanas que se seguem, deverão arrastar-se no crescendo penoso que vem marcando a desagregação do PPD-Madeira. Sempre, sempre, até ao adeus estrondoso do chefe e do partido que ele teima em levar consigo abismo abaixo.

É que a votação de sábado nada de novo trará. Os conselheiros, mesmo os indefectíveis do chefe, estão a receber mensagens em forma de alertas - não vão os homens, até por velhice, portar-se como cataventos logo quando é preciso 'saber votar'.

A decadência madeira-novense, 36 anos depois, mete ruído e o desconforto visual de aterros inúteis. Espectros fantasmagóricos de marinas, fóruns, centros cívicos, pavilhões e piscinas para nada, parques industriais oferecidos às cabras serranas. Clubes, associações, instituições da mais variada ordem, outrora prestigiosos, fecham portas. Cidades mal humoradas, ruas desertas com montras forradas a papel de jornal, comércio e cafés às moscas.

São 36 anos de postais deprimentes para coleccionadores de desgraças.

A decadência madeira-novense reflecte-se também nas tentativas plasmadas no jornal do regime para mostrar uma obra feita que já não dá votos. Ridícula sucessão de lamúrias e exibicionismo numa mendicância política degradante, à espera da vaga de fundo...

Na propaganda de hoje, segunda-feira, o chefe demissionário diz que não fará mais nenhum mandato. Ora, o eleitorado é que não o deixaria fazer mais nenhum mandato. Deixaria? 

Mesmo assim, gostaríamos de lhe ouvir um esclarecimento: ele diz que não continua no poder porque se sabe incapaz de repetir a vitória ou porque 'não quer' continuar?

Essa de estar farto do partido... Como já lembrámos aqui, "estão verdes, não prestam".

A semana que ora se inicia poderia ter história. Caso, em retardadíssima decisão sensata, o chefe se mostrasse capaz de abdicar de mais uns mesitos de governação, levando o 'seu' conselho regional a terminar com o pesadelo em que se tornou a vida do PPD-Madeira, votando pela antecipação do congresso electivo.

Seria já fora de tempo. Ainda assim, um atalho para tentar fugir ao inferno que lavra na Rua dos Netos e nas Angústias.

Mas não se vê moita. 

Ao contrário de indícios de apaziguamento, o que a Madeira vê é mais gasolina em cima do fogo. O PPD-M acaba de receber, não vai para muitos minutos, um despacho do CJ onde consta notificação fatal para Gabriel Farinha, antigo presidente da Câmara do Porto Moniz. Farinha foi acusado há tempos de promover a candidatura autárquica socialista naquele concelho, com apelos ao voto e elogios públicos a Emanuel Câmara, que ganharia pelo PS. O CJ, segundo despacho a que o partido teve acesso na Rua dos Netos, deu esses factos como mais do que provados. Sentença: expulsão pura e simples de Gabriel Farinha.

Os estatutos são objectivos e, ouvimos desde a sede social-democrata para fora, não havia que errar na sentença.

O mesmo acontecerá, prevê-se, a Simplício Pestana, pelos seus procedimentos no Imaculado em tempo de campanha eleitoral. Depois de ter indicado mais de 25 testemunhas na resposta à acusação de que foi alvo, Simplício foi notificado para escolher apenas 5. Mas, apesar das várias cartas que o partido lhe enviou, a informação dos correios é sempre a mesma: 'ausente'. 

Os serviços do partido andam 'com a cabeça em água'. Mas o pior poderá recair no arguido, já que o CJ deverá concluir o processo corrente sem ouvir as testemunhas do acusado. Porque se fartou de esperar.

Todas estas situações servem para ilustrar a bagunça dentro da família Laranja.

A falta de senso que acima referimos manifesta-se ainda mais acentuadamente nas posições de Jardim transmitidas a colaboradores seus, relativamente a Miguel Albuquerque. O chefe tem avisado que, a não expulsar Albuquerque, José Prada, presidente do CJ, será responsável por tudo quanto de mal aconteça ao PPD-Madeira. 

Esta agora! 

Um líder o que deveria dizer era isto: se o Conselho de Jurisdição actuar em inconformidade com os estatutos, será responsabilizado pelo que de mau acontecer ao partido. 

Pois ali é diferente. Agir bem é mutilar os estatutos para fazer a vontade ao chefe.

Não acreditamos que José Prada encontre na entrevista de Albuquerque ao 'Sol' - objecto da última queixa de Jardim - qualquer motivo de expulsão, nem pouco mais ou menos. Já publicámos aqui o texto dessa entrevista para os Leitores fazerem também o seu julgamento.

E quem diz a entrevista ao 'Sol' diz a declaração de Albuquerque, em Dezembro, de que havia 'caça às bruxas' no PPD-M - o que também valeu um processo da lavra de Jardim. 

Mas... processos como, se são posições políticas mais do que banalizadas no contexto regional - graças, ironia das ironias, ao estilo brejeiro do próprio Jardim!?

Apesar de tudo, Jardim insiste, sem tratar de ser discreto: José Prada pagará politicamente se o PPD implodir devido ao facto de Albuquerque não ser expulso.

Enfim, Miguel Albuquerque continua a ser - na óptica de Jardim contrariada pelos outros candidatos - o traidor que espetou uma faca nas costas do chefe, ao candidatar-se como outros social-democratas estão a fazer, com toda a legitimidade. Triste arrastar de um líder desautorizado pelos próprios companheiros de partido!

'Sic transit gloria mundi'.

Como dizíamos no princípio deste artigo, faz hoje 36 anos que Jardim espetou uma faca nas costas do Eng.º Ornelas Camacho.  

Faz hoje hoje 36 anos, Ornelas Camacho foi derrubado e
liquidado politicamente pela dupla Jardim-Jaime.

Para que conste, recordamos a constituição do Conselho Regional que no sábado votará favoravelmente aos desejos do chefe: não ao congresso antecipado.

Conselho Regional

Presidente: João Cunha e Silva

Vice-Presidentes: Francisco Jardim Ramos, Manuel Baeta de Castro

Secretários: Emanuel Sabino Vieira Gomes, José Ismael Fernandes

Vice-Secretários: Arlindo Pinto Gomes, Cláudia Sofia G. Monteiro Aguiar

Vogais:

1 – João Carlos Nunes Abreu

2 – João Heliodoro da Silva Dantas

3 – Luís Maurílio da Silva Dantas

4 – Alberto Rufino Fernandes Casimiro

5 – Rosária Isabel Pereira Correia Sardinha

6 – Maria Elisabete Mendonça Andrade

7 – Marco Alexandre Ribeiro Pereira Fernandes

8 – António Emanuel de Oliveira e Freitas

9 – Carlos Alberto Gomes Gonçalves

10 – Carlos Alberto Tomás Rodrigues

11 – Clemente José Pontes Rodrigues

12 – Luís Manuel dos Santos Costa

13 – Maria Iolanda Pereira da Silva

14 – Jorge Manuel da Silva Morgado

15 – Francisco António Caldas Taboada

16 – Francisco Miguel Azinhais Abreu dos Santos

17 – João Afonso de Almeida

18 – João Duarte Mendes

19 – João Lino Pereira Gonçalves

20 – João Manuel Figueira da Silva Santos

21 – Bruno Miguel Velosa de Freitas Pimenta Macedo

22 – Jocelino José Veloza

23 – Jorge Luís Pestana Pereira

24 – Jorge Paulo Antunes de Oliveira

25 – José Aníbal Rodrigues Alves

26 – José António Fernandes de Castro

27 – José Aires Vieira Neto

28 – José Carlos Rodrigues

29 – José Jorge dos Santos Figueira de Faria

30 – José Arlindo Aguiar Gouveia

31 – José Marco Cabral de Oliveira

32 – José Valentim Caldeira

33 – Luísa Aurélio Correia dos Santos Peixe

34 – Manuel Higino Sousa Teles

35 – Maria Antonina Mourato Talhinhas Teixeira

36 – Maria de Fátima de Castro Fernandes

37 – Maria da Graça Luís Oliveira

38 – Maria João Pereira Gonçalves Delgado Gomes

39 – David João Rodrigues Gomes

40 – Marcelino Jacinto Faria Pereira

41 – Rui Adriano Ferreira de Freitas

42 – Miguel José Camacho Afonso

43 – Paulo da Conceição Rocha da Silva

44 – Paulo Jorge Figueiroa de França Gomes

45 – Paulo Jorge Fernandes de Sousa

46 – António João Prado de Almada Cardoso

47 – Rosa Maria Lopes Cravidão Gouveia de Oliveira

48 – Luís Filipe de Freitas Santos

49 – Rui Freitas Pereira

50 – Eduardo Paulo Mendes de Andrade

51 – Sílvia Maria de Sousa Gomes da Silva Freitas

52 – Mário Filipe Soares Rodrigues

Ainda faltam aqui, com direito a voto, os seguintes:

Um representante de cada Freguesia da Região

Quinze representantes da JSD

Quinze representantes da TSD

O secretariado, CPR e jurisdição  não têm direito a voto.