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sábado, 9 de julho de 2016

La Règle du Jeu




COMPREENDER OS FRANCESES





Os Franceses estão desesperados. Perceberam que o título europeu está perdido para eles. Já não podem com uma gata pelo rabo. E sabe-se como é no desporto: quando as pernas não obedecem aos anseios, dá-se à língua.
Eles estão a exagerar na forma de expressar a raiva de se verem sem argumentos para bater os tais tipos a quem dão emprego, no âmbito da multi-imigração. Compreendo-os. Eles sabem que, em desporto, o segundo classificado é o primeiro dos últimos. Vá lá a gente confortá-los fazendo-lhes ver que é uma honra ser o segundo atrás de Portugal! Ficariam mais raivosos.
Desde meio Campeonato Europeu que eles estão a ver o filme. Até esperavam um final mais infeliz: serem batidos pela Alemanha no trajecto e ficaram nas praças de França a ver a final entre portugueses e germânicos. O jogo da meia-final foi isso, a França passou por milagre. 
Eles não se conformavam com o filme que estava a correr num cinema perto deles e desataram a implicar com a gente. Que Portugal não devia estar sequer nos quartos e nas meias-finais. Que apresentava um futebol... nojento. Não percebo o que é um futebol nojento, acho que eles queriam dizer feio, mas fugiu-lhes a boca para a falta de desportivismo que leva o galo francês a embirrar com o galo de Barcelos.
Passaram semanas a dizer que Portugal não ganhava nos 90 minutos regulamentares. Como se o prolongamento e os penáltis não fossem do regulamento. 
Com efeito, na fase de grupos, Portugal foi surpreendido por uma Islândia poderosa fisicamente que iria surpreender muito mais gente. Empate 1-1. Que disse Fernando Santos então? Que não estava preocupado. O plano era chegar a Paris, de comboio ou a pé ou de triciclo, porque só havia de regressar a Lisboa no dia 11.
Seguiu-se o jogo com a Áustria e novo empate: 0-0. Que havia de novo? Era assumido! O importante residia na final do dia 10 de Julho.
Finalmente, ainda no grupo F, 3-3 com a Hungria. Com Portugal a recuperar de várias desvantagens no marcador. Pronto: qualificação assegurada. Por acaso, num milagroso terceiro lugar que abriu ainda mais a estrada para Paris.
Sim, mas foi sempre à rasca, sem ganhar nos 90 minutos - insistem os Franceses, a espumar raiva. 
E a França? Como foi a caminhada até Saint-Denis?
Voilà:
Na primeira jornada do grupo A, França-Roménia, registava-se empate 1-1 aos 89 minutos. Payet salvou a honra do convento a 1 minuto do fim, fixando o 2-1. Quase aos 90, pois.
Na segunda jornada, havia no França-Albânia 0-0 aos 90 minutos. Foi quando Griezmann fez respirar a grande França... porque o treinador albanês, para queimar tempo, procedeu a uma substituição suicida a instantes dos 90, tirando aquele carequinha do eixo da defesa, o tal que se mostrara intransponível até então. Grande cabeçada táctica! Payet marcou o 2.º aos 96.
No França-Suíça, registava-se 0-0 aos 90 minutos. E registava-se o mesmo resultado no fim dos descontos também.
Como se vê, a carreira francesa não foi assim tão diferente da portuguesa, na fase de grupos. Tudo 'pelas peles'.
Nos oitavos-de-final, Portugal mandou a fortíssima Croácia para casa, com o golo de Quaresma aos 117 minutos.
Por sua vez, a França fez o mesmo à República da Irlanda, depois de estar a perder por 1-0 durante 56 minutos. Dizem que em cada lar francês com cardíacos na família, o televisor foi desligado no intervalo.
Quartos-de-final, Portugal teve a grandeza de ser mais competente nos penáltis, despachando a Polónia de Lewandowski.
Já os franceses apanharam os ingénuos da Islândia, todos 'partidos' do esforço para chegarem ali, e tiraram a barriga de misérias, vencendo por 5-2.
E as meias-finais, senhores? Que dizer do serviço de Portugal e da França?
Da nossa parte, está tudo ainda muito fresco: Ronaldo foi às nuvens e... Grande vitória por 2-0 sobre o País de Gales, revelação da prova.
Quanto aos franceses, eles certamente já se esqueceram do penaltizinho da ordem, por infantilidade de Schweinsteiger, que o árbitro conseguiu ver com os seus óculos fundo de garrafa, e de outra infantilidade de Kimmich, a permitir o 2.º golo. 
É ou não é verdade que os franceses derrotaram a Alemanha sem saber ler nem escrever? Foram ou não foram toureados nos humilhantes 70% de posse de bola dos alemães? É verdade ou não que raramente conseguiram passar de meio-campo, com Griezmann e Giroud a correrem para a baliza algumas vezes, mas sem pernas para concluir a jogada?

Sejamos objectivos: os Franceses de parvos não têm nada. Sabem que Portugal traçou um plano - frugal, é verdade -, que cumpriu na íntegra, encontrando-se agora como um dos beligerantes entre os finalistas de amanhã. Já perceberam, por outro lado, que a sua Selecção é só propaganda nos parcialíssimos e chauvinistas media gauleses. Que no terreno é tudo diferente das maravilhas que eles inventam para moralizar. A França não está com pedalada nesta altura para enfrentar um guarda-redes pragmático e eficaz como Rui Patrício. Um par de laterais com idade e pernas para não deixar Griezmann e Giroud brincarem como fazem com cubos de gelo islandeses. Este Portugal que conta com um Cristiano Ronaldo capaz da velocidade e das fintas de Griez - e todo o mundo sabe quem é a grande vedeta do campeonato espanhol. Portugal que tem um Ronaldo capaz de subir mais alto do que Giroud, com a particularidade de concretizar em golo as cabeçadas suspensas - como contra a Hungria e o País de Gales. A França tem Payet? E Portugal não tem Renato Sanches? Os gauleses tremem só de pensar no 'tratado de bola' que os espera no meio-campo.
Se Pepe jogar, a 'malha' será mais severa.

Para iludir os seus justificados medos, eles dizem que o nosso futebol é nojento. Um jogueiro qualquer do Bastia, a quem a imprensa gaulesa dá tempo de antena, ora bem, acaba de ofender internacionais portugueses, negando-lhes qualidades e garantindo que Portugal não tem a menor hipótese na final. Aqueles rapazes 'francius' não andam nada bem. Parecem drogados com overdoses de desespero.
Perante o desalento daquele País inteiro, Ronaldo 'ajudou', atribuindo favoritismo à França. Fez muito bem. Se sonhar é grátis, como diz o nosso capitão, delirar também é. 
A esperança dos Franceses está na arbitragem, ora se é. Cá estaremos para reparar bem no trabalho do sr. árbitro. Não se trata de desculpas, mas de rigor. Os penáltis a favor de Portugal, como já houve alguns, os árbitros não dão por eles. Quando favoráveis à França, Griez já corre para a marcação da penalidade antes de o juiz apitar.
Os Franceses estão descrentes, lá no fundo. Só há um grupo que, embora não baixando a guarda em público, já se deu por entregue, dentro da sua cabecinha: Didier Deschamps e os seus jogadores. Eles ainda hão-de confessar um dia que, antes desta final, já sabiam que iriam sofrer muito e perder sem espinhas com Portugal. Eles querem dar uma alegria aos compatriotas, mas pelo caminho há 'A Regra do Jogo', como diria Renoir. A regra não funcionou no Alemanha-França. Porque a Alemanha não foi suficientemente audaz. Já Portugal está mobilizado, não dará hipóteses.
Espero que, uma vez acabada a final, os Franceses recuperem o desportivismo perdido e compareçam a saudar o verde-vermelho que a Torre Eiffel vestirá no domingo à noite.


5 comentários:

Miss Take disse...

Depois desta magistral crónica, acredito ainda nais em Portugal. Gostava de ser o CR7 para oferecer aos Madeirenses, Emigrantes e restantes Portugueses a vitória contra a França.

Anónimo disse...

Gosto muito de Portugal, gosro muito dos portugueses, gosto muito da Madeira, dos madeirenses. Gosto muito de futebol, de grandes jogos , da emoção , dos golos artísticos, da luta, da coragem, do jogo até ao último segundo... Mas não gosto da desvio de atenção dos graves problemas que nos afligem. Mesmo se Portugal ganhar no futebol, continuará a ser um país corrupto e mal gerido. Especialmente a RAM que conheço melhor. Esta euforia e sensação de que é possível ganhar, só favorece os políticos podres. Toda a atenção está focada na bola e a bandalheira pode continuar tranquilamente com a grande ajuda dos media.

Margarida disse...

Até eu que pouco percebo de futebol adorei este artigo!! Parabéns sr. Calisto!! Divinal!

Luís Calisto disse...

Caro comentador das 14.56

É verdade, sabemos como os regimes de ferro utilizam as manifestações desportivas como ópio para anestesiar o povo. Mas no caso português, conhecemos muitos anti-fascistas ferrenhos que maldiziam os 3 F's e que, depois do 25 de Abril, já no papel de Presidentes da República, não perdiam, por exemplo, uma final da Taça de Portugal para adormecerem a populaça ao ombro.
Deixe lá, não queremos desfocar-nos do jogo de amanhã. Na terça-feira, depois da ressaca da segunda a comemorar a vitória, estaremos em força a chicotear outra vez os corruptos da política. Estamos bem preparados fisicamente, para combater tanto os franceses como os bandidos da banca e da política.

Anónimo disse...

;)