CRÓNICA
JUVENAL XAVIER
OUVIR AS PALAVRAS
É a falar que a gente se entende? Será mesmo assim mesmo? Ou será que é a falar que a gente se desentende, numa gritaria que alarma quem passa, porque se diz nos olhos o que não se quer ouvir na cara? Mas, se como dizem, é a ouvir que a gente se compreende, ouvimos por ouvir ou, então, fazemos de conta com paninhos quentes?
Luigi Pirandello (Nobel da Literatura em 1934 e que se descrevia como um fascista porque sou italiano) pergunta: “tem ideia de quanto mal nos fazemos por essa maldita necessidade de falar?” Como que reagindo a Pirandello (que pediu a Mussolini para aderir ao Partido Nacional Fascista), Ernest Hemingway (Por Quem os Sinos Dobram) ironiza dizendo que “são precisos dois anos para aprender a falar e sessenta para aprender a calar.”
Aprende-se, com o tempo, que entender é ter uma ideia clara ou chegar a um acordo. O entendimento, acredito, só existe dentro da razão que, para os racionalistas, é o modo de descobrir o que é verdadeiro ou melhor. Porém, compreender será, também, a mesma coisa? As palavras, que são diferentes por fora, serão iguais por dentro como fantasia e sonho? Utopia e irreal?
“A palavra sábia” – define Miguel de Unamuno – “é aquela que, dita a uma criança, é sempre compreendida sem a necessidade de explicações.” E, sem hesitação, concorde-se (ou concordo) com William Shakespeare (poeta nacional de Inglaterra) quando deduz, simplesmente, que “os homens de poucas palavras são os melhores.”
E as palavram que doem a ouvir e rasgam, clandestinamente, a consciência?
Mick Hume lembra que “há poucas coisas mais dolorosas do que um adeus que não desejamos ouvir.” O autor do livro (Direito a Ofender – a liberdade de expressão e o politicamente correcto) salienta que “o consenso moderno é que as palavras magoam, por causarem prejuízos e ofensas.” Segundo este jornalista britânico (que participou no Festival Literário da Madeira em 2018) “ouvimos muitas vezes que as palavras nocivas causam feridas emocionais e cicatrizes psicológicas que são piores e mais douradoras do que as marcas exteriores de maus-tratos físicos.”
Risco, sem fim, as palavras ambíguas porque se alimentam de dúvidas e incertezas. Mesmo que matem a coragem da palavra ela viverá para sempre na memória.
Fico-me na voz que não se calou de Ary dos Santos – a cidade é um chão de palavras pisadas. ERDADE
1 comentário:
Concordo! Gostei do dito! As palavras "são punhais" , às vezes! As palavras são orvalhos, às vezes!
São às vezes um fonte de mal entendidos, as palavras!
Mas eu gosto das palavras! Enfrento-as, quando me apetece! A ausência de palavras também fala muito alto! O silêncio é de ouro, às vezes! Não é? Sabedoria para gerir!
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