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sexta-feira, 16 de abril de 2021

 


CRÓNICA


JUVENAL XAVIER                                                                                  





VOANDO SOBRE 

A LIBERDADE

 

 


Liberdade, tem cuidado! Tem cuidado, que te matam – assim cantam os Canto Ondo, em O teu silêncio de estanho. E, em O madrugar de um sonho, Carlos do Carmo dá voz à força das palavras de Frederico de Brito (Britinho ou poeta-chauffer) – Mas se alguém disser “Não há Liberdade!”, eu posso morrer, mas não é verdade! No pensamento de Sérgio Godinho (que viveu o Maio de 68) só há liberdade a sério quando houver Liberdade de mudar e decidir. Cecília Meireles (a poeta do Brasil) é, ainda, mais clara do que a água ao espelhar a liberdade – “não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.  

“A liberdade, meu filho” (ensinou Moacyr Félix, escritor brasileiro) “é o próprio rosto da vida, que a vida quis desvendar”. Todavia, Bismark – que lançou as bases do 2.º Reich (1871-1918) – entendia que se tratava de “um conceito vago”, pois é “um luxo que nem todos se podem permitir.” Um luxo, só se for na cabeça do Chanceler de Ferro que rejeitou o liberalismo político. (E, na sua raiz, a liberdade é a personificação das ideias liberais). 

Vinicius de Moraes (o branco mais preto do Brasil e o poetinha para Tom Jobim) dizia que era “o destino dos homens”. Por sua vez, Einstein não cria, “no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem”. Para o Nobel da Física, em 1921 (pela descoberta da lei do efeito fotoelétrico), “todos agem, não apenas sob um constrangimento exterior, mas também de acordo com uma necessidade interior”. António Lobo Antunes, que abandonou a psiquiatria pela literatura, deduz que “o próprio do homem é viver, livre, numa prisão”. O autor de “Os Cus de Judas” e “Prémio Camões 2007” faz saber que “estamos, sempre, condicionados e, até, prisioneiros de nós próprios”. Sem meios-termos, Antoine Saint-Exupéry (O Principezinho) garante que “só há uma liberdade – a do pensamento”. Nesse sentido, “o homem livre” (na perspetiva do socialista Léon Blum e antigo primeiro-ministro francês) “é aquele que é capaz de ir até ao fim do seu pensamento”.  

George Orwell (crítico do socialismo autoritário e estalinista) não tem dúvidas de que a liberdade significa, sobretudo, o direito de dizer, às outras pessoas, o que elas não querem ouvir. Liberdade! 

Quem sempre a teve, desconhece a realidade da sua ausência. E quando me perguntam, com malícia dissimulada, se, hoje, há liberdade, faço-me de burro sem baixar a orelha, como se os burros fossem burros. 

1 comentário:

Unknown disse...

Obrigada pela partilha da reflexão! Gostei do conteúdo e da forma! Liberdade, na verdade, só há a do pensamento!Nem os burros dizem sempre o que pensam!