Lógica Saloia           

Luís Calisto                                                                                            

Morgado e o seu 'ouro do Curral' 

'Lugar à disposição' 

ou 'pontapé no rabichol?

Jorge Morgado apressou-se a divulgar a ideia de demissionário assim que a decisão do Supremo sobre o caso da Escola do Curral das Freiras acabou como acabou: num estrondoso desaire para a Direcção Regional chefiada pelo próprio Morgado e logo para a Secretaria da Educação e para o Governo Regional.

A história está contada tim-tim por tim-tim no post anterior aqui do Fénix, pelo secretário regional Jorge de Carvalho, em comunicado oficial. 

Jorge Morgado tomou uma atitude digna? Ou fingiu que a tomou?

Que é isso de um técnico pôr o lugar à disposição de quem o nomeou? 

À disposição do secretário regional, no caso em apreço, sobrevivem todos os cargos a todo o instante. 

Quem se quer demitir não aparece com 'patinhas de lã' na alcatifa do gabinete superior a sussurrar que o seu mandato está à disposição. Quem acha que chegou a hora de se pôr ao fresco só tem de preencher a papelada e apresentar-se com tudo pronto à mesa do chefe: já formalizei a saída, obrigado pela confiança, desculpe pela decepção, assine-me a guia de marcha por favor.

O titular superior é que vai confirmar a despedida ou apelar para o colaborador no sentido da sua permanência.

Não se trata, pois, de espalhar pela opinião pública o indeciso 'lugar à disposição' para tentar deixar o assunto morrer na 'espuma dos dias', como se diz agora - e continuar tudo como dantes, como se a 'barracada' monumental do processo fosse mera impressão nossa.

Não é bonito, isso do lugar à disposição apresentado com a casa a arder. Até porque o artifício transfere responsabilidades para o superior. Jorge Carvalho é que fica sempre com uma grande responsabilidade: ou demite, quando na realidade o colaborador não disse que queria sair; ou não demite, quando o dito estava na disposição de sair. 

...E assim pode muita populaça comentar que 'isto' vai de mal a pior, que nesta Tabanca insular quem erra acaba sempre beneficiado.

O que não é mentira nenhuma, cá para nós.

Devemos levar em conta que Jorge Morgado não é a primeira pessoa com esta postura ultra-defensiva, tanto assim que o tema já aqui foi tratado. 

O País está cheio de histórias idênticas. Até os treinadores, na hora da derrota, dizem colocar o lugar à disposição dos presidentes como se em algum momento um presidente precisasse de carta branca do assalariado para o pôr a mexer. 

Se são boas maneiras ou não, é outro debate.

Fora Jorge Coelho, é difícil de encontrar um português que se chegue ao pé do chefe a dizer: falhei o projecto ou sinto-me já sem ideias e portanto decidi apresentar o pedido de demissão.

Há em todos os sectores. O que me ri em 40 anos de comunicação social com 'ameaças' do género 'lugar à disposição'!

De vez em quando aparecem aquelas demissões "irrevogáveis", à Paulo Portas; aquele seráfico bater no peito a jurar "nem que Cristo desça à terra", ao jeito do actual Presidente da República. Quando, no fundo, está tudo agarrado ao tacho e à procura de mais.

Vendedores de banha de cobra!

Daí este recado não ser apenas para Jorge Morgado, aliás um quadro discreto muito mais executivo do que exibicionista. Provavelmente deixou-se embalar pela moda do árido "lugar à disposição', sem se lembrar que a gravidade do problema jurídico, que tanto mal fez a um responsável de escola, Joaquim Batalha, não pode ser lidada como nos negócios de "ouro do Curral" de antanho por essas ourivesarias da Madeira e bancas clandestinas da Rua da Praia.

É que o ingrato desenlace atinge também o próprio secretário regional. 

Jorge de Carvalho já teve ocasião de mostrar não tomar a política como forma de carreirismo. Ele enfrentou o antigo mandante da Tabanca sem olhar a cargos que pudesse perder. Fê-lo para não violentar o seu pensamento próprio. Isso numa altura perigosa, de explosiva tensão na Rua dos Netos, quando Miguel Albuquerque representava a corrente interna opositora do Chefe.

Mas os ventos mudam de direcção. Passado é passado. Já está. Agora é o presente, implacável.

E então? Lugar à disposição ou chuto no rabichol?

Contra a semântica dos interesses pessoais, marchar, marchar! Atenção Morgado, atenção Carvalho, atenção Albuquerque. 

É inevitável: este caso, naturalmente em agenda nos próximos tempos, chamuscará muito a Secretaria de Educação e o Governo Regional.

Parafraseando o Presidente Albuquerque, isto não pode ser uma 'bandalheira'!