OS INCENDIÁRIO 'DE FATO'
ANDAM À SOLTA
E SÃO CADA VEZ MAIS PERIGOSOS
O homem da Protecção Civil bota entrevista hoje. Surpreendentemente, não é para dar em primeira mão ao DN a notícia da sua demissão. Pelo contrário, denota uma descarada falta de arrependimento pelo que ele e os mandantes ajudaram a destruir a Madeira durante os recentes incêndios. E deixa uma preocupante ameaça: sente-se capaz de repetir numa próxima oportunidade a mesmíssima estratégia suicida.
Como se previa, deixaram-se assentar mais as cinzas, a populaça habituar-se aos escombros, esquecer as vítimas mortais e aí está o 'Consórcio Establishment' em força com a inevitável 'operação branqueamento'.
Luís Neri, presidente da Protecção Civil, passou vários dias e noites bem caladinho, a recato do calor infernal, enquanto as populações corriam desordenadamente atrás e à frente do lume e do fumo, no meio de ambulâncias, sirenes e assustadores estrondos de botijas de gás, o desespero nos engarrafamentos, e as buzinadelas de ruas aflitas, e o povo de olhos vermelhos e máscaras de respirar, labaredas a consumir casas, memórias, automóveis e vidas. Aquele que devia dar instruções ao povo desorientado andou feito surdo-mudo, aparecendo apenas, com expressão... inexpressiva e deslocada, perfeitamente ausente, sentado à conferência de imprensa, limitado a ouvir o que o presidente do governo dizia nos 'pontos de situação' à comunicação social, e de que se ficava a saber menos.
Pois hoje o sujeito aparece a debitar palpites e suposições surreais ao longo de 4 páginas de um jornal regional. De cara a descoberto e sem pinga da sensatez de que o delicado cargo obviamente carece.
Num processo isento, credível e sério, uma entrevista com o referido titular surgiria com natural oportunidade. Só que a vida regional decorre, como antigamente mas de forma mais sofisticada, inquinada por um jogo de conveniências sectárias onde o interesse público é o menos importante. Mas muito menos. O estado de coisas criado em tão pouco tempo, acreditem ou não, chega a pôr em risco o quotidiano e a própria vida do cidadão.
Exemplo da secundarização do interesse social por parte dos eleitos está na caricata situação em que, para debater o mesmo assunto, o governo central reúne com o governo regional e a câmara do Funchal simultaneamente, em salas separadas.
E porquê?
Só porque os festeiros municipais e os broquilheses do Blue Establishment não abdicam de aparecer no arraial de aldeia a rebentar o fogo mais rijo.
Na própria entrevista de hoje, podemos ver - pelas gordas, porque não há pachorra de ler o estendal de asneiras - o chefe da Protecção Civil, que devia inspirar confiança pelo seu distanciamento das politiquices, tomar partido por uma das facções políticas a quem a Madeira está entregue: a de Miguel Albuquerque, em constante despique com a de Paulo Cafôfo, e vice-versa.
Quando a Protecção Civil, que devia pensar apenas em proteger pessoas, território, património e bens particulares, anda envolvida na reles intriga de campanário que nos aborrece diariamente, estamos conversados.
Mas pior do que isso é o perigo que espreita por cima das nossas cabeças: eles não estão arrependidos das suas suicidas opções durante a crise dos incêndios. Não acusam o toque no campo dos equívocos fatais daquela terça-feira à tarde. Ou para não dar o braço a torcer, já que primeiro estão os interesses de facção, ou por manifesta inconsciência, o que é pior.
Eles insistem - como se vê pelas palavras gordas de Neri - no acerto da sua actuação ao pedirem reforços ao Continente já depois de as chamas lavrarem terça-feira pelo anfiteatro abaixo, direitas à cidade. Mantêm que a culpa foi do vento, que mudou repentinamente para sul, como se o vento não tivesse passado o dia em sucessivas mudanças de direcção, e as previsões não explicassem o que viria depois. Isso quando os reforços deviam estar já no terreno, a tentar impedir que os primeiros fogos alastrassem. Não. Para eles, estava tudo "controlado".
E nós a vermos nuvens de fogo e fumo em grande velocidade pelo céu da capital, a largar faúlhas!
De tal envergadura foi a irresponsabilidade que só o desaparecimento do vento evitou a tragédia final, quando, ao início da noite de terça-feira, as labaredas faziam pontaria de São Pedro para a Rua da Carreira, João Tavira e por aí abaixo. Se o vento não parasse milagrosamente, os bombeiros que estavam então a chegar do Continente só conseguiriam ajudar a deitar água nas cinzas fumegantes.
Mas para o Leitor não julgar que estou gratuitamente a levantar ondas, veja com os seus próprios olhos a alucinação do homem:
Estamos entregues a estes inconscientes, que, em lugar de se retractarem, elogiam uma coordenação que não existiu - e se existiu foi para nos pôr a vida e os haveres em risco. Vamos ler este destaque:
Coordenação? Está a chamar imbecis a tantas vítimas? Como é que os cidadãos podem dormir descansados sabendo-se entregues a profissionais deste calibre, e a desgovernantes que além de incompetentes se preocupam mais com a sua imagem pública, como é o caso dos patrões de Neri? Ninguém tem um quotidiano tranquilo quando a segurança da Ilha continua entregue aos mesmos que criminosamente deixaram propagar os incêndios, e que só não são agora chamados a contas porque a democracia degenerou nisto.
A realidade é que continuamos à mercê das fragilidades estratégicas, operacionais e políticas deles, de um estado de espírito que nem sequer lhes permite um rebate de consciência para corrigir os erros. Erros? Quais erros? Perguntar isso a Nery é ouvir a seguinte resposta tremendamente preocupante:
O Leitor já acredita na inconsciência daqueles senhores? Inconsciência e materialismo vilão. Tão incendiário é o vagabundo de 24 anos que está na Cancela, como incendiários são os que deixaram a Madeira arder, deprimindo o Funchal e os funchalenses, deprimindo calhetenses e deixando as labaredas devorar metade do maior concelho da Região. Aparentemente, não há muita disparidade entre os incendiários 'de facto' e os incendiários 'de fato'. Mas, bem lá no fundo, há uma diferença decisiva: o incendiário de São Roque está 'dentro', vigiado; os incendiários de gravata continuam perigosamente à solta.
17 comentários:
Muito bem Calisto, de pé dou palmas e grito bem alto bravo. Parabens.
Existe um Protocolo de Cooperação entre o Consórcio de Emergências de Gran Canaria e o Serviço Regional de Proteção Civil – IP RAM vocacionado para a cooperação em situação de emergência, através da definição de protocolos de atuação conjunta nas áreas de incêndios florestais, acidentes graves e inundações. Porque não foi accionado?
Luís Neri admite que há críticas, mas que nunca as ouviu do Governo Regional.
Críticas do GR? um governo de estudantes queques, que não têm sensibilidade nem visão de Protecção Civil!
Miguel, abres cada vez mais o buraco. Continua a apostar em incompetentes. Rica Renovação.
Estes tipos nao teem mesmo vergonha!!
E quedizer da publicidade paga nos jormais para publicitar as descisoes de um conselho de governo. Alem de ridiculo ate soa a despesismo injustificavel melhor seria comprar facas e colheres que parece ser aquilo mais preciso nos realojamentos. Isto esta claramente a anunciar um final triste para esta desgovernaçao
"Ajuda nacional foi pedida na altura certa "
••• mas se Governo da República / Governo Regional fossem "da mesma cor", a dita "altura certa" de pedido de ajuda teria sido antecipada de muito mas mesmo muito tempo, garantidamente!!
O DN lava mais branco , vai ser o novo slogan do diario do Blandy , lava Cafofo , Miguel , nery .
Lava tudo desde que paguem
... ja tenho medo de viver na Madeira ...
Incrível.Assustador. Está a Madeira e o seu povo entregues a estas pessoas?!
Voltaria a fazer o mesmo! Desgraça. Desgraçados madeirenses.Quem pode viver em Paz nesta terra?
Sr. Calisto, já que o (des)Governo não o faz, não há maneira de se demitir esta gentalha?
Nem através do Ministério Público?
É por estas que todos os cargos, carguinhos e cargões deviam ter limitação de tempo e de renovações.
Na Madeirs nada funciona bem, tb tenho medo de viver numa terra de doidos, estamos entregues a meia duzia de incompetentes, o pedido de ajuda foi tardio, houve mais mortes do que o numero oficial, morreram idosos internados nos Marmeleiros e no Joao Almada, morreram devido ao fumo inalado, todos vimos o numero nasnecronologias dos jornais e quem visitou os cemiterios nesses verificou isso mesmo
Surreal mesmo.
A sorte destes senhores é que o MP não funciona na Mamadeira, caso contrário já tinham sido constituídos arguidos pelas mortes e destruição de património por negligência!
Isto é uma vergonha para a Madeira, Albuquerque e Cafofo fizeram da tragédia dos incêndios, um circo mediático. O Cafofo até se aproveitou dos incêndios para trazer uns jornalista do SOL à Madeira, para dizer bem dele. ISTO SÓ À CHAPADA! como dizia Jardim...
A culpa não é só do sr. Paulo Cafofo a grande culpa é do Tribunal de Contas e do MP que sabem que ele anda a gastar um dinheirão dos munícipes em campanha eleitoral e não fazem nada.
Texto magnífico. E o mais preocupante é ouvir o responsável principal da protecção civil, reafirmar que voltaria a proceder do mesmo modo, numa situação semelhante que eventualmente voltasse acontecer. Vergonhoso! Só demonstra a incompetência, a irresponsabilidade deste senhor. Apesar de ter errado com gravidade, não o reconhece, e insiste que voltaria a repetir tudo da mesma forma. Muita força, Luís Calisto. Continue assim.
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