NEM TODOS OS MANUAIS DE COMBATE
PÕEM AS VIDAS EM PRIMEIRO LUGAR
Se não foi miragem, este quadro apareceu ontem no meio da monstruosa onda escarlate e negra que sobrevoou vertiginosamente os céus do Funchal, durante horas. |
Vivemos três
dias de loucos. De inferno. E ainda não acabou. O Funchal cenário de uma
guerra. Uma pavorosa mistura nos ouvidos de sirenes com rajadas de vento,
detonações arrepiantes, carros em pânico de buzinas e pressa, ar irrespirável,
aflição nos engarrafamentos, o trapiche no Largo Severiano Ferraz, fumo, a
trapicheira na Avenida, fumo e cinzas. E elas, as labaredas, por toda a parte,
pulando em comprimento sem direcção nem sentido lógicos. E a gente. Olhos
esbugalhados a sobressair das máscaras de respirar. Correrias com pequenos e
velhos pela mão. Animais à trela. As informações lancinantes de floresta
ardida, de casas devoradas, desalojados, bombeiros exaustos, gente levada às
urgências. E elas a descerem pelo anfiteatro, de sorriso assassino, restando
aos de cá de baixo esperar que mudem de direcção. As labaredas. O inferno. O
inferno a subir dos fogos, a cruzar vertiginosamente o céu do Funchal por cima
das nossas cabeças, um mar suspenso às bolas gigantes, escarlate, envoltas no
negrume do fumo. Um conjunto medonho a tornar o cidadão num pigmeus sem o menor
poder de salvar-se a si próprio. De salvar os seus. De defender a casa de uma
vida. Morreram no Alto da Pena uma idosa, duas idosas, três idosas. Já uma
pessoa viajara para Lisboa à procura de curativo para lesões dolorosas e
profundas. Os habitantes largaram as residências à sorte, fugindo para refúgios
amigos, ou até para lado nenhum. Hotéis evacuados, hóspedes despejados para
improvisados locais de acolhimento.
Contudo, esta
história real vem estimulando leituras que devem estar a ser feitas a partir de
Marte. Por cima ainda das nuvens de fogo. Perante a tragédia que desfila diante
dos olhos de todos, atraindo muitos à fogueira, que ouvimos nas televisões?
Ouvimos que,
apesar do vertiginoso avanço das labaredas, da floresta para as zonas urbanas,
a Madeira tem a situação muito bem controlada e por isso não precisa de ajudas
de Lisboa.
Ouvimos que
a situação está consolidada.
Que as pessoas
têm razões para estarem calmas.
Mas onde é que
já ouvimos isto?
Mas ouvimos que
a monitorização e prevenção dos fogos está muito melhor na Madeira.
E outras
pérolas.
Que a ilha está
a funcionar.
Que os hotéis
estão a funcionar.
Que os hotéis
estão a funcionar - dois, três hotéis foram afectados, mas neste momento o
importante é voltar à normalidade.
Sim, é de
lamentar a morte de três pessoas - mas foram três idosas...
E lembram-nos
que esta é uma terra turística, logo não se deve entrar em pânico. A situação é
complicada, mas não uma situação catastrófica.
Bem, a ilha
está a funcionar, está: a população funciona em busca de refúgio.
Os hotéis estão
a funcionar, funcionando de modo a evacuar as suas instalações,
desresponsabilizando-se da sorte dos clientes.
Não eram
precisos reforços de fora. Pois os reforços de fora estão hoje no terreno a
combater nas várias frentes de fogo.
Pelo que se tem
visto, os processos de antanho que consistiam em desviar atenções da burrice
política estão a servir outra vez. Focos dos media para os 'tarados' que
andaram a pegar fogo aí. Ora, ainda estamos à espera de consequências da
detenção de piromaníacos há meia dúzia de anos, 'investigação' confirmada então
pela PJ para contentar o chefe da altura - teoria que se desfez com as cinzas
desses incêndios. Agora, podemos ficar mais uns anos à espera de consequências
das manobras de diversão que voltaram ao discurso, hoje. Ou então digam quem
eles são. Agora há três 'tarados' apanhados, não deixem fugir todos eles.
Somos uma terra
muito especial. Em tudo. A versão do povo superior não morreu. Segundo o abc
dos fogos, o combate deve seguir a tal hierarquização de primeiramente salvar
vidas, depois os bens e isso. Mas há quem na prática prefira privilegiar, em
primeiro lugar, a sua própria prestação no palco televisivo; em segundo lugar,
o turismo para não agastar amigos; e em terceiro lugar o salvamento de vidas,
a não ser que sejam trapos velhos.
Nos céus de
ontem pintados a laranja e negro, pareceu-nos ver a imagem inesquecível daquele
ministro da Informação de Saddam.
Alto da Pena
7 comentários:
O Governo regional pede a populacao que forneca alimento para os desalojados, pede ao Governo central ajuda financeira, SO SABEM PEDIR! Vergonhoso!!
manuais de operações ? o problema é mesmo esse , o Nery a unica coisa que sabe de cordeação e comando é o que leu em manuais.
Senhor Calisto, nem mais. Deu-me verdadeiro asco esta postura do senhor das rosas.
Anónimo de 10 de agosto de 2016 às 17:29
Tem sido sempre assim: A Autonomia sempre de mão estendida!
Atenção o gajo do Faial já veio esclarecer as asneiras do Albuquerque. Sabem quando é que um chefe de gabinete esclarece as declarações de um governante? Quando o governante faz merda. Penso que os renovadinhos podem sair, depois destas asneiras e irresponsabilidade. Ele e a Rubina não têm condições para continuar perante a quantidade de asneiras que fizeram.
O Dr Rui Abreu a tentar safar as asneiradas do seu Chefe. É Louvável
sem os empregos que o Turismo proporciona muitos mais morreram de fome e não vai dar para pagar a cota no sindicato
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