O ASSUNTO 'FELISBERTA'
DEIXOU DE SER RECORRENTE
Não vai para muito tempo, e à semelhança dos vários apelos nas últimas décadas, avançámos com uma peça no Fénix a pedir que os influentes dessem atenção a um bocado muito especial da cidade do Funchal. Recordemos o cabeçalho do artigo:
A opção, como se sabe, foi o 'nem sim nem não, pelo contrário'. Mas olhem, foi a maneira de acabar definitivamente com o tema recorrente. Agora, extintos os incêndios, só nos cheira a queimado, não nos cheira que alguém se vá preocupar com aquele maltratado, desprezado e agora inexistente bocado de memória funchalense, madeirense, portuguesa, internacional.
É verdade que a velha confeitaria tinha uma certa idade. Foi fundada vai para 180 anos - no pré-histórico 1837 -, quando a empreendedora D. Felisberta Rosa arriscou investir no ramo, ganhando paulatinamente prestígio com asas internacionais. Lembrar que a celebérrima Sissi, Imperatriz da Áustria, foi cliente da casa chega para ilustrar a farta procura por parte de quantos estrangeiros visitavam a ilha, durante os séculos XIX e XX.
Sissi, numa segunda viagem à Madeira, julgo que em 1893, cuidou de saber se a tão afamada confeitaria continuava em funcionamento, voltando então a deliciar-se com os cheiros que perpassavam por toda a Rua das Pretas e a fazer muitas compras nos castiços balcões da Felisberta.
Em 1926, já com a sobrinha de D. Felisberta Rosa ao leme do negócio - Felisberta Rodrigues - o celebrado estabelecimento passou por obras de melhoramento, com a criação de uma secção para um serviço especial de chá. A nova sala teve inauguração com a pompa do estilo, à época.
Enfrentando as dificuldades inerentes às diversas fases da vida da Madeira, a Confeitaria Felisberta conseguiu sobreviver até às últimas décadas do século XX. Diversas gerações que frequentaram o 'Caroço' conservam cheiros e sabores da confeitaria.
De nada serviram os apelos lancinantes de figuras da cultura, como o historiador Nelson Veríssimo em diversos artigos; desprezadas foram tantas reportagens de jornalistas que tentaram sensibilizar quem podia salvar a lenda viva; ninguém se mexeu para remover a inércia e os problemas que pudessem existir, financeiros ou de herdeiros.
Dando fundamento às preocupações de Nelson Veríssimo, manifestadas em tempos, o interesse público perdeu a guerra e extinguiu-se definitivamente nas cinzas deste Verão incendiário.
Agora é tarde. A lenda da Felisberta continuará. Mas no além dos finados.
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