POR QUEM OS SINOS DOBRAM
O Homem é um ser belicoso basta pensarmos nos irmãos Caim e Abel para
nos apercebermos desta triste realidade. Há momentos em que se pára para pensar
no sofrimento que se autoinflige. Foi por isso que, no fim da 1ª Guerra
Mundial, vencedores e vencidos, criaram a Sociedades das Nações. Porém, os bons
propósitos não levaram a nada e, em 1945, terminada outra guerra, ainda mais
devastadora, o arquétipo da PAZ gerou a ONU.
O título fui buscá-lo ao
livro de Ernst Hemingway, onde ele nos fala da Guerra Civil Espanhola, da sua
violência e do sofrimento de homens que apenas queriam viver os seus sonhos.
Deixo-vos duas citações do pastor e poeta Inglês John Donne …”a morte de um único homem me diminui,
porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti”. "Quando
morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade". Não
foi apenas na literatura que a Guerra Civil espanhola foi abordada. Pablo
Picasso, no seu GUERNICA, também imortalizou o sofrimento humano. Leiam-me como
equidistante de falangistas e comunistas, pois apenas estou focado nos Seres
Humanos, combatentes ou não. Todos temos direito a sonhar.
Um escaldante ambiente político-social, depois
da renúncia de Miguel Primo de Rivera, levou Afonso XIII a abdicar face ao
resultado das eleições municipais, em Abril de 1931. A questão religiosa
agudizava-se com incêndios de igrejas, e o ambiente social deteriorava-se. Nas
eleições de 1933, os anarquistas com “a greve do voto” dão a vitória à direita.
Os PDT’s (Pensadores Disto Tudo), à direita, conspiravam para tomar o Poder
pela força, à esquerda, procuravam capitalizar em votos o descontentamento,
resultante da repressão feita nas Astúrias em Outº de 1934. A 16 Fev. 36, a
esquerda conquistava o Poder nas urnas. Em Julho um golpe militar provocava a
derrocada do Estado.
As aviações, alemã e italiana, dão a Franco
vantagem decisiva na guerra. Ensaiaram-se
as técnicas alemãs de Blitzkrieg, para tomar Badajoz, em Agosto de 1936. Os Republicanos, legitimados pelo
voto, pediram ajuda às democracias. Léon Blum – socialista Francês e, à época,
1º Min. de um governo de Frente Popular - responde positivamente, mas em breve,
pressionado, recua. Assim sendo, a ajuda militar à Rep. Espanhola só chegou em
Novº de 1936, através das Brigadas Internacionais o que, foi fundamental para
que Madrid não caísse nas mãos de Franco. O Komintern teve um papel importante
na mobilização desta gente. Os Republicanos tentam a internacionalização do
conflito, apresentando Espanha como vítima de agressão nazi- fascista. Porém,
grassava a pusilanimidade nas relações entre os Estados Europeus e na
conferência de Munique a 29/9/38. Na ânsia de evitarem a guerra, Ingleses e
Franceses, aceitaram as exigências Alemães sobre a Checoslováquia, esvaziando
assim a argumentação Espanhola. Os defensores da Liberdade – a alternativa aos
dois totalitarismos que haviam incendiado Espanha - em Munique, renderam-se a
Hitler.
Os PDT’s totalitários que se defrontaram em
Espanha, obnubilados pelo Poder e intolerantes, apenas admitiam que se fosse
Franquista ou Comunista. Em Fevº de 1939 meio milhão de “espanhóis vermelhos”
fogem da perseguição franquista que se arrastaria até 1950. Porém, a sorte
esteve com as vítimas da intolerância de nazis e comunistas em Espanha. As
Brigadas Internacionais, a encarnação de uma luta romântica e idealista,
incorporavam – além dos combatentes puros que permitiram à propaganda de Franco
rotulá-los a todos de comunistas - companheiros escritores-combatentes
(Hemingway, Malraux, Bernanos etc.) que deixaram relatos lancinantes do
sofrimento humano, combatentes ou não. Os idealistas apenas combatentes –
também os havia do lado de Franco - foram apanhados pela 2ª guerra que, em nome
da Liberdade, eliminaria o nazismo. Churchill não hesitou em dizer, em junho de
1941, após a invasão nazi à Rússia, o seguinte: “Se Hitler invadisse o Inferno,
eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns.” Nestes
idealistas estávamos todos e cada um de nós. A memória que guardamos deles
oscila entre o mito construído pela tradição comunista e o esquecimento das
trajectórias individuais.
Comecei por citar um poeta Inglês. Termino com o
Portuguesíssimo Rómulo de Carvalho:
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
Aos PDT’s de hoje, pede-se que nos deixem
sonhar. Não nos vendam mitos como o dos “mercados” que ninguém explica, mas que
nos impõem com forte propaganda e alguma ameaça.
GAUDÊNCIO FIGUEIRA
3 comentários:
"Aos PDT’s de hoje, pede-se que nos deixem sonhar"
Como assim? Eles nem sequer nos deixam pensar. De resto, todo o sistema educativo está voltado para esse lado. Fazer pensadores pode colocar o poder em perigo.
O drama é precisamente esse. Eles, tal qual Hitler e Estaline, com as suas potentes máquinas de propaganda vendem-nos mitos pelos quais morremos na defesa dos interesses deles - os poderosos.
Pensar é preciso para fugirmos daqueles que apenas querem MANDAR.
Excelente artigo, parabéns dr. Gaudencio, do velho amigo.
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