Não podemos confundir
prémios com excelência
Por Vitorino Seixas
Marques Mendes foi o convidado de honra das “500 Maiores e Melhores
Empresas da Madeira”, evento que teve lugar no passado dia 17 de Novembro de
2016, no Centro de Congressos da Madeira. Na véspera, Marques Mendes deu uma
extensa entrevista ao Diário de Notícias da Madeira onde deixou uma mensagem
aos empresários “A circunstância de a Madeira ser uma ilha, um espaço pequeno,
não retira nem de longe nem de perto a oportunidade de ser um exemplo de
excelência.” ¹. Sobre a “Economia do Futuro” deixou outra mensagem “Temos
que ter uma economia que tem sustentabilidade financeira, competitiva e que
acentue a vertente da internacionalização” ¹.
Como se constata, as mensagens de Marques Mendes representam uma visão da
economia que é coerente com a visão das “500 Maiores”, ou seja, o centro das
preocupações é a sustentabilidade financeira, sem quaisquer referências à
sustentabilidade ambiental e social. A leitura do suplemento “500 Maiores
Empresas da Madeira” ², onde constam todos os indicadores de análise tidos
em consideração na atribuição de 80 prémios a empresas regionais, permite
verificar que nenhum dos indicadores avalia o desempenho social e ambiental das
empresas premiadas.
Sobre esta questão, convém lembrar que, no longínquo ano de 2001, a
Comissão das Comunidades Europeias definiu a responsabilidade social das
empresas como sendo "a integração voluntária de preocupações sociais e
ambientais por parte das empresas nas suas operações e na sua interação com
outras partes interessadas" ³. Por outras palavras, as empresas
demonstram ter responsabilidade social quando decidem, por sua iniciativa,
contribuir para um ambiente mais limpo e uma sociedade mais justa, indo além do
cumprimento de todas as obrigações legais, através de maior investimento nos
trabalhadores, no ambiente e nas relações com as comunidades locais e as partes
interessadas.
De lembrar ainda que, em Julho de 2002, um Comunicado da Comissão das
Comunidades Europeias apontava para novo rumo: “Existe hoje na esfera
empresarial a perceção de que o sucesso das empresas e os benefícios duradouros
para os agentes seus associados não se obtêm através de uma tónica na
maximização de lucros a curto prazo, mas sim de um comportamento orientado pelo
mercado, porém coerente e responsável” ⁴.
Neste contexto, fica claro que a atribuição de prémios de mérito
empresarial deveria olhar para o todo da empresa e incluir critérios que
permitam analisar o seu impacto social e ambiental e não apenas o seu impacto
económico. Caso contrário, os prémios “Melhores Empresas” podem ser atribuídos
a empresas que apresentam os melhores resultados económicos, mas que não
investem nas áreas social e ambiental, podendo apresentar, nestes domínios,
resultados que nada têm a ver com excelência.
Por exemplo, na área social, será que as empresas premiadas investiram em
políticas de gestão de recursos humanos, tais como “práticas de recrutamento
responsáveis e não discriminatórias, planos de formação e aprendizagem ao longo
da vida, criação de condições de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal
dos trabalhadores, e medidas para garantir a segurança dos postos de trabalho e
a manutenção de altos níveis de empregabilidade” ⁵?
Em síntese, sem políticas sociais não será possível promover o bem-estar
social nas empresas e, por conseguinte, a sua sustentabilidade e o reforço da
sua competitividade. Sem responsabilidade social, não há excelência.
¹ “Pequenez não é irrelevância”, Diário de Notícias da Madeira, 16 de
Novembro de 2016.
² “500 Maiores Empresas da Madeira”, Diário de Notícias da Madeira -
Suplemento, 17 de Novembro de 2016.
³ “Livro Verde – Promover um quadro europeu para a responsabilidade social
das empresas”, Comissão das Comunidades Europeias (2001).
⁴ “Comunicação relativa à responsabilidade social das empresas: Um
contributo das empresas para o desenvolvimento sustentável”, Comissão das
Comunidades Europeias (2002).
⁵ “A Responsabilidade Social das Empresas”, Manuel Alves Monteiro,
Cadernos do Mercado de Valores Mobiliários, 2005.
4 comentários:
Quem é esse Marques Mendes de que falam?
Os patrões ainda usam peúga branca.
Muitos dos candidatos a prémios apresentam contas marteladas.
O Marques Mendes não é aquele que vinha à Madeira fazer lobie pelo Joaquim Coimbra do BPN e do Colombo ?
Esperar que a empresa capitalista tenha responsabilidade social e ambiental, é esperar que os lobos protejam as ovelhas.
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