Vamos desafiar o mar?
GIL CANHA
Todos os anos a areia da praia da Ilha do Porto Santo desaparece nos
invernos, e reaparece na Primavera/Verão. Contudo, segundo estudos do ilustre
geólogo João Batista e testemunhos de habitantes locais, o fenómeno tende a se
agravar de ano para ano, nomeadamente no segmento costeiro que vai do velho
cais da vila até ao porto.
Infelizmente, este fenómeno do avanço do mar para terra é incontrolável
(movimento transgressivo do mar) e não é anulável pelas actuais tecnologias ao
dispor do homem. Quanto muito, poderão ser postas em práticas medidas para
minimizar as consequências negativas deste fenómeno, seja pela gestão
sustentável da orla marítima seja por medidas interventivas, que, como se sabe,
têm custos milionários. Assim, o que está acontecendo no Porto Santo é o mesmo
que acontece actualmente em cerca de 90% das zonas costeiras do nosso planeta,
que estão a sofrer uma transformação geológica caracterizada pela migração das
praias para o interior e pelo recuo das arribas costeiras. Este fenómeno de
invasão do mar para terra é visto pelos investigadores, como fazendo parte da Mudança
Global, que já ocorre desde o início do século XIX, mas que devido à
actividade humana recente, (industrialização, aumento da temperatura da
atmosfera “efeito estufa” e consequente degelo das calotes glaciares) está a
acelerar o fenómeno.
A melhor forma de defender a frente-marítima da subida do nível do mar é o
homem não destruir nem ocupar as defesas costeiras naturais, como por exemplo
os sistemas dunares. No caso do Porto Santo, a ocupação das dunas por bares,
casas-das-lanchas e outras construções, fazem com que o mar em alturas de
tempestade embata na base onde estão edificadas essas construções, e as
correntes de refluxo criadas por essa rebentação, aliadas às correntes longitudinais
e em zig-zag que “ocorrem” ao longo da praia, fazem deslocar a areia para
longe, e consequentemente, provocam o descalçamento e o colapso dessas
infra-estruturas.
Tanto os holandeses como os norte-americanos já se aperceberam disso, e
neste momento, a política que estão a seguir é o recuo gradual e planeado da
zona costeira, porque é uma zona de risco. Aliás, todos já sabem que para fixar
a linha de costa e defender certas infra-estruturas vitais; como portos,
urbanizações, centros de lazer, estradas etc… são necessários muitos milhões de
euros/dólares para sua defesa e manutenção. Deste modo, muitos países
desenvolvidos estão a avaliar os custos/benefícios dessas infra-estruturas, e
as que não vale a pena defender, são abandonadas, deixando esses segmentos
costeiros evoluírem naturalmente, segundo os ditames impiedosas da Mudança
Global
No caso da Holanda, os decisores políticos resolveram recuar, e fixaram a
linha-de-costa do país na posição que ocupava em 1990, adoptando uma política
inteligente e ambientalmente sustentável, denominada “Dynamic Preservation”.
No nosso caso temos feito precisamente ao contrário, com a artificialização
selvagem da nossa costa, que levou o Governo Regional de Jardim a “desafiar o
mar” e a construir promenades, portos, marinas, enrocamentos a torto e a
direito e a permitir o licenciamento de hotéis quase dentro do mar. Temos de
reconhecer que a Madeira não tem fundos nem recursos financeiros suficientes
para suportar os altos custos de manutenção da maioria dessas infra-estruturas,
deste modo, há que ir pensando em abandonar algumas delas.
Mas, como referi, não é só o Porto Santo que está a sofrer este implacável
movimento transgressivo do mar, na Ilha da Madeira há geo-indicadores
alarmantes que provam este terrível fenómeno. Toda a zona entre S. Vicente e
Ponta Delgada está em recuo acelerado, como também, o segmento costeiro entre a
zona da Barreirinha e o Lazareto, e a Ribeira Brava e o Paul do Mar. Aliás,
conheço dois trabalhadores agrícolas que brigaram por causa de um terreno que
um senhor idoso lhes deixou de herança, na Fajã do Mar, Arco da Calheta, e
ainda hoje não se falam, apesar do mar já lhes ter levado a referida parcela.
Também há dias falei neste blogue da criminosa retirada de inertes da foz
da Ribeira da Madalena do Mar, que são essenciais para alimentar a praia, e
assim defender a estrada marginal e respectivos terrenos e moradias. Também
reparei, que o actual PDM “cafofiano” fala das aluviões, dos incêndios, mas não
há uma alínea relativa à faixa costeira funchalense, que é uma zona de alto
risco, tendo em atenção a actual subida do nível das águas do mar. E se alguém
acha que isto é uma questão trivial, veja o que aconteceu ao Funchal, na
célebre tempestade marítima de Dezembro de 1926. Se fosse
hoje, seria uma catástrofe!
16 comentários:
Na praia do Porto Santo para defender as dunas, o que é preciso é deitar abaixo os bares e as FALSAS casas de lancha que rebentaram completamente as dunas. Depois disso é reabilita-las para que cumpram a sua função natural.
É preciso é coragem política que não existe.
Senhor Canha qual foi a sua acção quando esteve na Câmara para defender o tal "segmento costeiro do Lazareto-Barreirinha" no seu texto, e, acrescento então eu, também na Praia Formosa?
Obrigado
Este texto fez-me logo pensar naqueles hotéis lá em baixo na Praia Formosa. Todos os anos as ondas rebentam com o exíguo passeio e ameaçam destruir o muro do hotel. Construiram aqueles hotéis mesmo em cima do mar sem respeitar nenhuma distancia de afastamento. Todos os anos lá vão meter umas tábuas junto ao muro do hotel para as pessoas poderem passar junto à praia. É vergonhoso!
Esses hotéis deviam ser demolidos, até porque a praia é dos madeirenses... e do mar pois está claro.
Um alerta importante. PALAVRA DO SENHOR!
E atrás da pontinha o que aconteceu??? E entre o lido e a pontinha tudo dos hoteis.Deviam ver entre S.Vicente e Ponta Delgada o que está a acontecer ,na Calheta com as praias arteficiais e hoteis no calhau.Tudo isto resume-se ;SISTEMA MAMADEIRA.
Anónimo das 10.57.
Realmente só de alertas , isto não funciona.
É preciso Agir e o Senhor Canha em vez de Decidir, Demitiu-se.
E nisto o sem malicia que se indignava com as obras no litoral de jardim, agora faz igual ou pior. Os ppdeias não prestam para nada, cambada de mentirosos!
Atenção anónimo das 13:10. O sr. Cafofo retirou os pelouros ao Gil Canha porque ele andava a fazer vida negra à máfia do costume. O soldado não pode combater sem armas, e andar no combate sem armas ainda se arrisca que lhe chamem maricas... que era o que o Cafofo queria...Ca+price?!
Eu trabalhei com o sr. Vereador Gil Canha no DPE, que depois o sr. Presidente Paulo Cafofo extinguiu. Na altura o Vereador Canha apresentou uma proposta para a demolição da ligação da praia para o ilhéu que estava a condicionar a passagem das areias e que estava a provocar a erosão em frente às instalações da Shell e dos hotéis do sr. Dionísio Pestana. Eu fui um dos técnicos que desenhei o projecto seguindo as indicações do Eng. Jorge e do Vereador que posteriormente foi apresentada à autoridade marítima. Não sei o que foi feito deste projecto, mas isso era fundamental para travar a erosão que o mar está a fazer aos jardins dos hotéis e das tábuas que meteram lá, como bem refere o anónimo das 11:03.
Isto tudo é verdade porque tinha um lagar junto ao mar em Ponta Delgada e que o mar destruiu e já tá a levar os outros poios de vinha.
Não se preocupem que o Renovado director regional da DRAPS vai mandar demolir todas as construções que estão em cima da duna,começando pela casa do Luís Miguel de Sousa e a do João Berardo!
Enquanto o Ambiente não se traduzir em lucros num curto-praza estamos condenados. Se a prevenção e o cuidado ambiental dessem votos já o problema estava resolvido.
A casa que o Luis Miguel de Sousa comprou ao sr. Garton era pequena, depois graças ao compadrio o Sousa ampliou para cima da duna perante o olhar espantado dos Profetas, que não podem mexer numa telha que lhes cai a autoridade marítima. Houve queixas mas ninguém fez caso! Bando de corruptos!
Não fazem queixa por que há muito boa gente com rabos de palha, entre eles vários portosantenses, nesta ocupação do cordão dunar.
isto tem haver com dinâmica de ondas umas vezes trazem pedra outras areia
Ontem vi uma máquina da AFA a tirar areia e pedra na boca da Ribeira da Madalena. O sr. Canha tem razão, se roubam o cascalho da praia, a praia fica sem pedra e o mar entra por lá adentro. A Madalena foi roubada anos e anos pelos barcos arieiros e agora levam a pedra da praia. Só com a força de armas para nos livrar destes ladrões.
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