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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021


CRÓNICA 


JUVENAL XAVIER                                                                                    

 SOMOS PRODUTOS DO PODER?

 

O poder não passa da imagem de um troféu bordado a ouro que se ostenta, com desprezo e desdém, ao coro de vozes consumidas e humilhadas. O poder do mundo não passa de um chão áspero por lavrar e de conversas mais do que loucas para orelhas mais do que moucas. Conversas, indiretamente, surdas para fugir às escondidas à política e às doces ilusões. Às agressões que não são crime. À moderna tecnologia da poesia do belo sofridamente rimada de dois em dois versos.

Esse poderoso poder possesso, endemoninhado, ajuda de mansinho a fabricar projetos e tretas “ad hoc” à última da hora que alimentam variáveis e dissolvem dissimulações. Ou puros engenhos da esperteza ardilosa da improvisação até ao limite da caricatura, para dourar a pílula a alguém bem colocado na esfera dos autocratas.

Sub-repticiamente, fraudulentamente e de forma ambígua, promovem-se em espiral certos fingimentos extravagantes de representações do protótipo do poder, almofadadas pelos fautores do totalitarismo de discurso branco e unívoco.

Roland Barthes olha para o poder como “o parasita de um organismo trans-social ligado a toda a história do homem e não apenas à sua história política, histórica.”

Já Alvin Toffler observa que “o poder em si não é nem bom nem mau.” Em Os Novos Poderes, o autor (que procura estudar o poder no pináculo e nos abismos da sociedade) associa-o a “um aspeto inevitável de todas as relações humanas e influencia tudo, das nossas relações sexuais aos empregos que temos, aos carros que conduzimos, à televisão que vemos, às esperanças que acalentamos.” Toffler, ideólogo do futuro, é bastante claro – “Num grau maior do que muitos imaginam nós somos produtos do poder.”

Mas, na sua imutável oposição ao totalitarismo, George Orwell defende que “o poder autêntico, o poder pelo qual temos de lutar noite e dia, não é o poder sobre as coisas, mas sobre os homens.” Daí que Robinson Crusoé, depois do naufrágio, só seja patrão, só seja realmente poder, quando encontrou o índio Sexta-Feira.

Pois, “seja como for – argumenta Jean-Jacques Rousseau – “não se pode negar que Adão fosse soberano do mundo como Robinson o foi na sua ilha pelo menos enquanto só ele a habitou.”

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