PICA-MIOLOS 

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O PRESIDENTE DA CÂMARA QUER 'INVENTAR'

Tempo novo com ideias velhas é criar problemas. (Foto JM)

Nos longínquos tempos do sorriso pepsodent, dos PSoas, dos outdoors e da LPM, nesse tempo das iniciativas em maralha para candidatos a novos-ricos tachistas, naquela era das apresentações em directo (para o site) de figurões e programas à americana, que aliás acabavam em fiasco, um dos sonhos de Paulo Cafofo tinha muita piada. 

Ele sonhava com o Dia da Cidade a nascer risonho e a Praça do Município apinhada de milhares de PSoas em aclamação histérica, enquanto, de óculos escuros e calva reflectindo o sol de Agosto, ele passava revista aos bombeiros e polícias municipais rodeado de câmaras de televisão.  

Profe Mentiras abandonou a edilidade sem materializar o devaneio da polícia municipal, projecto anedótico evidentemente atirado para a arrecadação dos despojos da fábrica de patetices que animaram aqueles tempos extravagantes e que hoje parecem não ter existido.

Poucos anos depois, todavia, o sensato e perspicaz sucessor na Presidência da Câmara apareceu pr'aí a tentar ressuscitar essa da polícia municipal. A que propósito? Bem, o importante é que foi um sol fugaz que só durou até ao vento SW seguinte.

Eis senão quando pegamos hoje no JM e vemos Miguel Gouveia todo arrebitado a retomar, género "a gente não dizia?", o fantasma da tal polícia. 

A mensagem do moço ao jornal é: o Funchal precisa de uma polícia 'nossa' para acabar com a pequena criminalidade que tomou conta da capital beneficiando do pandémico recolher obrigatório.

Caso para perguntar a Miguel: "Outra vez tu, Brutus?!"

Quando a Madeira precisa urgentemente de gente nova que permita ao eleitorado mandar as antigas e teimosas ideias para a feira semanal de velharias, e justo quando Miguel Gouveia surge ao fundo do túnel como uma luz de abrangente esperança, entre pouquíssimas outras, ei-lo a trocar a jovialidade política por uma posição que julgávamos haver passado à história!

Cafofo, que precisava de justificar a formação do famigerado corpo policial da Câmara, dizia que a sua missão - da polícia municipal - seria disciplinar a "bandalheira" das esplanadas que estavam a ocupar ruas e passeios. Situação real aliás resultante do facilitismo eleiçoeiro do próprio Cafofo. 

Agora, do nada, Miguel Gouveia volta com a mesma conversa. E, para explicar a recauchutada tara da polícia municipal, ele agita o fantasma da pequena criminalidade que se aproveita das particularidades da pandemia para 'chatear' a atmosfera.

Eram as esplanadas. Agora os pilha-galinhas da cidade. 

Já agora: e depois da pandemia? Que se faz à polícia municipal? Esplanadas com ela? E depois de as esplanadas estarem direitinhas e quando não houver covid? Que se faz daquilo?

Decidam-se.

Voltemos a outras velhas perguntas.

E os fiscais da Câmara? Vão para casa por incompetência ou senilidade?

E a PSP, com agentes profissionais que queimaram as pestanas a estudar e a preparar-se, toca a multar carros?

Sr. Eng.º Miguel Gouveia. Também tenho direito a lugares-comuns. Antes de contribuir para inventar problemas onde eles não existem, mande averiguar as origens da criminalidade, porque os quadros formados nessa área social conseguem certamente melhores resultados do que polícias municipais.

A Sociedade funchalense - como acontece nos outros concelhos da Madeira - já possui as suas instituições de segurança, devidamente credenciadas, e não quer mais Polícias na praça, ainda por cima chefiadas por engenheiros ou néscios veteranos da pseudo-Segurança. 

O Funchal não quer que se ergam mais muros, obstáculos, lombas na rua à medida do Pico Ruivo, não quer mais ruas cortadas. Chega de proibir com sinais vermelhos e de espalhar polícias municipais que podem fazer sentido em Lisboa, Porto, Freixo de Espada à Cinta ou onde quiserem, mas que para cá não interessam rigorosamente nada.

Sr. Presidente, cada munícipe quer ser tratado como a pessoa adulta e inteligente que é. O munícipe quer pessoas adultas e inteligentes no mando da Câmara. O munícipe do Funchal - e o madeirense em geral - quer mudar, mas não para tocar o lado B do mesmo disco. 

Arranjar assunto à toa para preencher agenda e aparecer na televisão provoca o efeito contrário ao desejado. É outro chavão.

Caro Presidente, não faça tudo isto voltar à estaca zero. 

A Política alimenta-se e deve ocupar-se de temas elevados, com substância, de interesse social. 

Para 'inventar' e arranjar intriga cá estamos nós em baixo, à mesa do café.

Luís Calisto