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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

 

OPINIÃO


DONATO MACEDO                                                                              





É ASSIM, MAS...


À medida que a situação pandémica se agrava em todo o lado e aqui em Portugal, a vida coletiva também volta a travar. Há vários meses enchia-se o peito para nos assumirmos um país do "milagre" e outras balelas que nos insuflavam o ego, por não termos os cenários dantescos de Itália ou de Espanha, mas, agora estamos a tirar a prova dos nove, de que esse mito fora mesmo uma fábula para adormecer mansos ruminantes.


Tal como em Março e Abril travámos a fundo, agora, depois do folguedo das festividades de Natal e Fim de Ano, em que fomos MESMO "exemplares", (pois quem matou os porcos do Natal foi o vírus), eis que o sempre atento e bom planeador sr. Governo, obriga-nos novamente a travar, mas desta vez, sem travão de mão. Vamos agora como se costuma dizer: fazer a vez, pois não há dinheiro para hibernar completamente, apesar do frio acentuado deste início de 2021. Contudo, mesmo com toda a renovada sangria económica que se avizinha, com a paragem da atividade económica que já estava ligada ao ventilador, o ritual das eleições presidenciais não se detém, pois, o calendário eleitoral não se compadece de moratórias, adiamentos nem paragens, mesmo quando o país real e consequentemente a vida de muitos de nós, se despedaça a olhos vistos, onde se amontoam todos os dias escombros de dramas.
Com que lata tem o mundo político, e os principais órgãos de soberania, ancorados em rígidas leis desfasadas desta realidade, para obrigar e impor que empresas e famílias se detenham no ganha-pão, enquanto o cortejo político dumas eleições sigam, em condições de exceção, enquanto as pessoas se aprisionam, empobrecem e morrem? O Estado tem a mesma sobrançaria que tem a CGTP e o PCP na manifestação do 1º de Maio ou da Festa do Avante, que foi "avante" com todo o carácter de excecionalidade que Costa e Marcelo anuíram? Estaremos agora todos a desonrar a civilidade, mediante o uso de máscara, quando a sua utilização nas enfastiosas celebrações do 25 de Abril no Parlamento do ano passado, era considerada um desrespeito por Ferro Rodrigues?  
Como se pode acreditar que o mesmo mundo político e os sacralizados partidos, se afirmem preocupados com a abstenção, quando na atual situação mantêm o calendário político de exceção, sabendo de antemão que teremos uma abstenção recorde, e que aquando da marcação da data, já se previa a óbvia agudização dos números da pandemia?
Não. Somos demasiado dóceis com esta leviandade, e não vale invocar o argumento habitual de que o voto foi uma luta de muitos que tombaram pelo seu exercício e demais blá-blá...Não que isso não seja verdade, mas nunca vivemos uma crise sanitária desta dimensão, onde o raquítico Serviço Nacional de Saúde está esgotadíssimo, quando já em condições normais funcionava muito mal.
Estamos a viver um absurdo político, aliás, em consonância com o país que somos. Na verdade ninguém se surpreenderá com esta situação. Há um país das famílias e do tecido produtivo composto por micro e pequenas empresas que por decreto, são obrigados a suspender a vida. Depois há o palco político com os seus rituais, leis talhadas a corte de alfaiate, para pretensamente defender a democracia, mas que no final de contas exceciona a partidocracia dos intestinos interesses e dos seus titulares, como uma corte absolutista. Apenas e só.
Tal como a vacina que chega como aqueles conteúdos da internet nas ligações lentas e desfasadas das velocidades contratadas, em que desistimos dos vídeos que fazem imensas pausas, a grande "bazuca" de dinheiro europeu (dos contribuintes europeus mais abastados), também chegará a uma economia transformada num árido deserto, onde a água tardia se evaporará mal saia do jerricã. Marcelo disse ontem que iremos nos endividar (ainda mais), para manter a cabeça à tona... da areia.

4 comentários:

Miguel Freitas disse...

Caríssimo, texto muito bem escrito como é-lhe habitual. Contudo, se me permite, a sua orientação política de direita parece-me que não lhe permite fazer, também, uma dissecação ao estado moribundo da economia da nossa região e das medidas desastrosas e que têm sido tomadas (ou não) pelo (des)Governo de Albuquerque e seus séquitos. É uma pena, porque muita coisa haveria para dizer...

Anónimo disse...

Donato Macedo a escrever para o Fénix, visto que é articulista do Diário dos Sousas, levanta-me algumas dúvidas. Será que escolheu o Fénix por ser um espaço de liberdade, ou foi um rolo compressor dos sousas, que passou nos artigos de Donato Macedo?
De qualquer forma perfiro que o Donato escreva para o Fénix do que para o diário dos sousas, porque não se coloca o problema da auto-censura quando se trata de atacar a máfia no bom sentido e os portos em particular.

Anónimo disse...

é muito perigoso para a democracia permitir que as eleições não se façam devido a um qualquer argumento.

Anónimo disse...

O artigo muito bem escrito, aliás, a ironia é uma caracteristica que adoro em Donato, ainda que dissimulada... "mansos ruminantes"; ou uma economia transformada num árido deserto, etc...que se evaporará mal saia do jerricã...eh,eh. ainda bem que deixaste o pasquim do Sousa. O DN opinião é para os vulgares não para ti.