Estão a comemorar o quê?!
Andam pr'aí com umas comemorações quaisquer dizendo que são sobre os 40 anos de autonomia. O cardápio de sessões comemorativas mete conferências partidárias no Trapiche, concertos, reuniões, expos, encontros alucinantes de terceiro grau no Porto Santo e outras originalidades. O tema tornou-se recorrente. Banalizou-se. Comemora-se porque sim. Ninguém faz a pergunta que interessa: estão a comemorar concretamente o quê?
Presumivelmente,
os autonomistas destas comemorações pseudo-autonómicas estarão a evocar, com
foguetório e banda de música, a libertação da Madeira das amarras e dos
grilhões que historicamente prenderam as ilhas ao Terreiro do Paço. Abram-se os
olhos: que autonomia tem a Madeira hoje? Está bem à vista: a Madeira tem
autonomia para alimentar uma classe política que antigamente não existia e que,
existindo na actualidade, não manda nada nem nada pode fazer porque Lisboa
continua com a mão na massa. Trocando por miúdos: Lisboa dá tacho a uma classe
política provinciana para que os seus beneficiários comemorem conquistas autonómicas
existentes apenas no rol de interesses deles, beneficiários
pseudo-autonomistas.
Que alguém
explique: comemoram-se 40 anos de uma 'autonomia' que veio desembocar hoje em
situação pior do que a que vivíamos antes deste folclore autonómico?
Andam pr'aí a
comemorar um governo 'autonómico' sem poderes para pôr a porcaria de um navio
de terceira classe a ligar-nos ao exterior? Comemora-se um governo de gestão
corrente? Um governo que promete, promete, para depois dizer que Lisboa não
deixa fazer? Que raio de autonomia andam a comemorar?
Alguns dirão:
estamos a comemorar obras que não teríamos se não fosse a autonomia. O
argumento gasto nem merece resposta, mas vá lá pela última vez. O resto do
País, com ou sem autonomia, está completamente diferente do que era antes do 25
de Abril, são obras a mato por metro quadrado, porque os dinheiros de Bruxelas
e de Lisboa (que autonomia!) não foram canalizados apenas para a Madeira. Sem
esses dinheiros e sem 'esta' autonomia, o Fernão de Ornelas transformou a
favela funchalense numa cidade moderna para o seu tempo. Sem 'esta' autonomia,
a Junta Geral demorava à espera das amoladoras decisões do reino, mas ia
fazendo obra - electricidade à proporção do País (fora as grandes cidades), as
escolas e os hospitais que o centralismo 'draculiano' deixava, levadas e
estradas que muito custaram em vidas humanas e em dinheiro.
Que andam então
a comemorar? A criação de riqueza nas contas dos tubarões que se
alimentaram e alimentam dos sistemas Desenvolvimentista e Blue Establishment?
Ou comemorarão
a existência de um poder, regional e municipal, que julga fazer trabalho útil
desde que a 'agenda' saia na tv e nos jornais? Ou estarão em festa pela
existência 'democrática' de uma oposição cujo conceito de felicidade colectiva
coincide com a defesa dos lugarzinhos no parlamento?
Comemora-se o
amiguismo, o clientelismo, a noção de que combater o desemprego é arranjar
emprego para os 'aliados'?
Chega-se ao dia
de hoje, 42 anos depois do 25 de Abril, apanha-se com uma sociedade dividida em
facções malcriadas e incompatibilizadas, na disputa das migalhas de Lisboa, e
andam pr'aí a comemorar não sei que autonomia!
Não há maneira
de entrar naquelas cabeças. Uma coisa é a Autonomia pela qual a Madeira luta
desde o último quartel do século XIX, com pico do combate em 1931. Outra coisa
é a 'autonomia' à medida deles, oportunistas dum raio!
Mas vão lá
comemorando essas décadas de 'autonomia'. Sempre dá para avançar no projecto
político em moda, o das imagens na comunicação social.
14 comentários:
O resultado da autonomia de mão estendida é a descredibilização crescente das soluções autonómicas por parte do País como um todo. Nas eleições dos Açores foram vários os comentadores que proclamaram, o que há alguns anos seria um crime de lesa-pátria, a inutilidade e desperdício de dinheiros públicos que as autonomias representam. Só quem não quis ouvir é que não reparou como as Assembleias Legislativas Regionais, recheadíssimas de tachos e incompetentes, foram descritas como autênticos antros de imbecilidade e promiscuidade. E a ALR dos Açores é bem melhor que a nossa, em caso de dúvida veja-se a produção e qualidade legislativa de uma e de outra e logo se verá a diferença.
A Autonomia é agora a Herdade da Comporta das elites madeirenses que não indo brincar aos pobres, vão brincar aos galos de capoeira num espectaculoso ensaio de incha peito e cacarejar de mão estendida.
No fim paga o madeirense os impostos mais caros do País, o português a vida faustosas dos galos de capoeira e das aves raras do GR e meia dúzia de empresários medíocres (que num mercado aberto nem uma mercearia conseguiam manter aberta) vão enchendo os bolsos nos mercados protegidos pelo espectáculo cirsence chamado autonomia.
Autonomia de fachada, devemos comemorar 40 anos de embrulhadas de alguns que oprimem a maioria do povo? Afinal quem oprime o povo, o Terreiro do Paço ou a viloada de novos ricos da Madeira? Autonomia nunca mais, queremos referendo!!
Nem mais!!!
Querem a autonomia para a pilantragem que se vê (distribuição de empregos públicos, mafiazinhas, monopoliozinhos) e querem ser continuidade territorial para pedir dinheiro para estradas, hospitais, ferrys, subsidios de viagens. Que lata descomunal.
Uma vergonha esta Madeira.
no tempo "da Madeira das amarras e dos grilhões que historicamente prenderam as ilhas ao Terreiro do Paço."...
Mas nesse tempo o "Governador" da ilha não viajava a seu belo prazer ... hoje a dita "autonomia" permite que não só o "Governador" como a "entourage" viajem a seu belo prazer para o Dubai...África do Sul...Venezuela
Caro Luís Calisto
Dou-lhe os parabéns!
Chama-se a isto colocar o dedo na ferida
Um grande abraço.
Anónimo de 8 de novembro de 2016 às 12:05
A Autonomia da mão estendida e de viver à conta dos outros.
Caro Calisto, subscrevo, sem tirar nem pôr.
Calisto,
Parabéns pelo seu texto. Acutilante e verdadeiro.
Se há alguma coisa a comemorar é a perda de autonomia, naquele dia assinada pelo chefe do povo superior, com a sua gravata azul e amarela.
Autonomia é hoje apenas um regime que protege muitos tachos. Daí que a corja de incompetentes que por aí pululam, sejam grandes "autonomistas".
É triste, muito triste, ver ao que chegou a nossa terra.
Não percebem que a Autonomia é uma questão de cultura?
Uma elite toma o poder e cria "uma" cultura, que depois, com o andar dos anos, pela ideologia do regime e pela propaganda diária na Tv e nos jornais, faz passar e engolir, salvo seja, como a nova Cultura da Autonomia, renovada, participada, colorida, multiplicada por mil, contentores de turistas em cada espectáculo, milhares de madeirenses a baterem palmas sempre que há um "invento", seja mero hastear de bandeiras, seja qualquer festivalinho dos milhares que há pr'aí o ano todo! É uma espécie de Fogo de Arte & Ofício do Ano Novo, mas espalhado em pequenas doses pelos 365 dias. Há luz, música, alegria e barulho o ano todo, bebedeira a granel, cultura a potes, vezes 365 dias...
Ainda dizem que não vamos exportar inteligência e cultura? ou não percebem nada, ou só dizem mal! então não viram que já temos "cineastas" nas escolinhas do ciclo a fazerem curtas-metragens? Com mais cultura e autonomia, da boa, quando chegarem ao liceu podem muito bem fazer filmes a sério, e concorrerem a um festival a sério... E não viram a enorme, enormíssima qualidade da nossa produção musical e artística, com uma espécie de "ópera" comemorativa dos tais 40 anos a ser anunciada exactamente na "casa da democracia", no velho palácio da Autonomia (autonomia deles, pois têm ordenado para isso, e não enxergam o "prove")?
Quem vai poder, no futuro, com uma Madeira destas, assim tão culta e autónoma?
Ah, povo bruto e enganado, cada dia mais alienado e vergando o serrote a todos
os jugos, crédulo a todas as patranhas!
Meu Caro Calisto
Este texto merece, senão os dois, pelo um destes juízos de valor:
1 - Curto e grosso para que não subsistam dúvidas;
2 - Clarinho, Clarinho para militar entender
Autonomia, aonde?
A Assembleia regional, parece mas não tem e custa balúrdios para alimentar partidos e respectivas cliantelas. O GR, diz ter mas também não tem e com uma estrutura megalómana, leva-nos imensos recursos, para não resolver e chutar para canto(Lisboa).
Assim, mais vale voltar ao tempo da Junta Geral.
Muito bem escrito senhor Calisto
Muito bem... Viva a autonomia de meia dúzia, as poucas migalhas que temos vão distribuindo pelos amigos, como agora o negocio do CINM.
Ao concurso da lota de camara de lobos feito a medida para o Pestana.
A ALRM que paga esta palhaçada toda dos concertos e exposições que custa uma fortuna.
As obras das ribeiras com adjudicações em cima da perna
A exploração do porto do caniçal com preços escandalosos.
Ao porto do Funchal que vai deixando fugir o turismo de cruzeiro e continuam pávidos e serenos com se estivesse tudo bem.
Ao avião cargueiro e ao ferry que nos impede de termos menos insularidade.
As viagens Aéreas que é um descalabre...
A saúde que esta Moribunda.
etc etc só não vê quem é cego ou tem o "rabo" preso., A Autonomia é uma miragem.
Enviar um comentário