Educar não é separar
os bons dos maus alunos
Em vésperas do início do ano lectivo 2015/2016, a Secretaria Regional de
Educação anunciou o lançamento do Projecto Mais, em 7 escolas da Madeira. Em
reação à polémica que o projeto suscitou junto dos professores, dos pais, e dos
partidos da oposição, Jorge Carvalho reagiu esclarecendo que “A
ideia de que todos os alunos podem aprender todas as matérias, ao mesmo tempo e
nas mesmas condições, pode ser politicamente correcta, mas na prática revela-se
penalizador para aqueles cujo ritmo de aprendizagem difere do da maioria”.¹
Para tranquilizar os críticos sobre a qualidade pedagógica do projecto,
Jorge Carvalho garantiu que “A intervenção que está a ser preparada tem bases
técnicas, científicas e pedagógicas robustas, e representará, sem qualquer
dúvida uma melhoria muito significativa da oferta educativa para alunos cujos
horizontes se apresentavam até agora muito comprometedores”.¹
No final do ano lectivo, em Julho de 2016, as escolas envolvidas
apresentaram os resultados alcançados pelo Projecto Mais, destacando que o
número de retenções tinha caído a pique e que tinha havido uma subida
generalizada das notas. Numa das apresentações de resultados, Jorge Carvalho
desvalorizou as críticas iniciais ao projecto e concluiu “É verdade que não
começamos bem, mas acabamos excepcionalmente bem”.
Perante os resultados excepcionais conseguidos pelas 7 escolas, lembrei-me
do alerta “A unanimidade é burra”, de Solomon Asch, e decidi aprofundar a
reflexão sobre o Projecto Mais, nomeadamente as suas bases técnicas,
cientificas e pedagógicas robustas à luz da investigação de Carol Dweck sobre o
poder e influência da atitude mental, cujos resultados são apresentados no seu
livro “Mindset: A Atitude Mental para o Sucesso”.³
Ao reunir os alunos com melhor desempenho na “Turma de Desenvolvimento”,
nivelando-a por cima, e reunir os que revelam mais dificuldades na “Turma de
Recuperação”, nivelando-a por baixo, o Projecto Mais faz um julgamento sumário
sobre as capacidades dos alunos e coloca a uns o rótulo “Bons Alunos” e a
outros o rótulo “Maus Alunos”. A este propósito, lembro-me de Marva Collins que
se recusou a aceitar o rótulo “dificuldades de aprendizagem” que ostentavam os
seus alunos dos bairros degradados de Chicago, dizendo-lhes “Nenhum de vocês
falhou. A escola é que pode ter falhado convosco”.³
Ao contrário do Projecto Mais, Marva Collins decidiu esquecer os rótulos e
tratar os seus alunos como pequenos génios, definindo padrões elevados para
todos os alunos e não apenas para os que já tinham bons resultados. Dessa
forma, Collins conseguiu levar os seus alunos a atingir elevados níveis de
aprendizagem, superando os resultados conseguidos pelos alunos ricos das
escolas de elite de Chicago.
Na mesma linha, Benjamin Bloom, um eminente investigador em pedagogia que
estudou 120 personalidades de alto desempenho, em que a maior parte não tinha
sido uma criança brilhante, nem demonstrado nenhum talento obvio, concluiu
“Depois de 40 anos de investigação intensiva sobre aprender na escola, a minha
maior conclusão é que aquilo que qualquer pessoa no mundo pode aprender, quase
todos as pessoas podem aprender se lhes forem proporcionadas condições de
aprendizagem prévias e presentes apropriadas”.
Se isto é verdade, então qual é a robustez pedagógica do Projecto Mais?
Será que as crianças não conseguem fazer muito mais do que aparentam? Que estão
condenadas a ter “dificuldades de aprendizagem”? Que não podem ser
bem-sucedidas numa “Turma de Desenvolvimento”?
Como Carol Dweck, creio que uma pedagogia robusta deve ter como lema “Não
julguem, ensinem. É um processo de aprendizagem”³. E, nesse processo, em que os
professores ensinam os alunos a adorar aprender e a conseguir pensar por si
próprios, não há atalhos. Para Dweck, a missão da educação é desenvolver o
potencial dos alunos, no pressuposto de que “as escolas são para aprendizagem
dos alunos e dos professores”.³
Em síntese, as escolas não podem continuar a ser, como acontece no Projecto
Mais, um espaço onde os alunos são julgados e rotulados pelos professores que
“olham para o desempenho inicial dos alunos e decidem quem é inteligente e quem
é burro. É assim que os estereótipos funcionam. Indicam aos professores os
grupos inteligentes e os grupos que não o são”.³ Desta forma, o Projecto Mais
está a promover nos alunos aquilo a que Carol Dweck chama de “atitude mental
fixa”, que assenta na crença de que a inteligência é estática, o que leva os
alunos a quererem parecer espertos a todo o custo e a não parecerem burros.
Pelo contrário, Carol Dweck defende que a escola deve ser um espaço onde se
desenvolve a “atitude mental desenvolvimento”, que assenta na crença de que a
inteligência dos alunos pode ser desenvolvida através do esforço e da prática.
Nesta escola, o enfoque não é no julgamento e nos rótulos, mas sim no
desenvolvimento do potencial dos alunos. Neste sentido, cabe aos professores
ensinar os alunos a gostar de desafios, a aprender com os erros, a esforçar-se
e a estar sempre a aprender, num ambiente de desenvolvimento que Paulo Freire
tão bem descreveu “O professor aprende ao ensinar. O aluno ensina ao aprender”.
¹ “‘Bons e maus’ alunos é conceito ultrapassado”,
Diário de Notícias da Madeira, 23 de Agosto de 2015.
² “Projecto com turmas homogéneas na Madeira melhora notas e
reduz reprovações”, Público, 19 de Julho de 2016.
³ “Mindset: A Atitude Mental para o Sucesso”, Carol
Dweck, 2014, 20|20 Editora
4 comentários:
Essa história das turmas de melhores alunos foi uma maneira que a Oligarquia inculta da Ilha arranjou para fazer turmas de elite de alunos filhos-de-Papás, burros.
Esta e mesmo a UNICA medida deste Desgoverno nesta area. Plos vistos do Milhor.
Eduquês. Traduzido por miúdos não sai nada. Aprender exige esforço e não há elites (os mais inteligentes, não os mais ricos) sem um certo nivelamento. A igualdade é uma mentira que é contada aos mais desfavorecidos.
Esra ideologia e a que usaram no desgoverno. Separar os bons dos maus e por os ultimos a governar. Os resultados estão a vista de todos. LOL.
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