O mistério dos desempregados desaparecidos
Por Vitorino Seixas
“Há 55 meses que não havia tão poucos desempregados”¹
foi o título escolhido pelo Diário de Notícias da Madeira para uma notícia,
publicada no passado dia 20 de Outubro de 2016, onde dava “conta de uma
realidade mais otimista em relação ao desempenho da economia da Madeira e no
que toca à criação de emprego”, entre Janeiro e Setembro do corrente ano.
Depois de ter lido “quase 6.200 pessoas foram
inseridas no mercado de trabalho nos últimos nove meses, número mais alto dos
últimos quatro anos” e “apenas por sete vezes em 46 anos de estatística
disponível foram registadas melhorias no desemprego face a Agosto”, fiquei com
a perceção de que estávamos perante um milagre no combate ao desemprego, pois há
uma recuperação clara com a criação de milhares de empregos, apesar da economia
regional estar praticamente estagnada.
Para encontrar explicações para este verdadeiro
milagre, elaborei o quadro “Evolução Mensal do Desemprego em 2016 (RAM)”², com
base nas estatísticas do Instituto do Emprego da Madeira (IEM), da Direção
Regional de Estatística da Madeira (DREM) e do Instituto de Emprego e Formação
Profissional (IEFP). A análise do quadro dá pano para mangas, mas vou
limitar-me a destacar apenas 3 mistérios que merecem esclarecimento, sob pena
das estatísticas publicadas passarem a ser olhadas com grande desconfiança.
O primeiro mistério, diz respeito ao cálculo mensal
dos desempregados. A notícia destaca que, entre Janeiro e Setembro de 2016, foram
inseridos no mercado de trabalho 6.198 pessoas mas omite que, no mesmo período,
foram registados 10.995 novos desempregados, ou seja, mais 4.797 pessoas do que
as que foram inseridas no mercado de trabalho. Neste contexto, seria lógico
deduzir que o desemprego teria aumentado, mas como se constata pela leitura do
quadro registou-se um decréscimo de 2.386 desempregados entre Janeiro (22.777)
e Setembro (20.391). Este mistério do decréscimo dos desempregados merece um esclarecimento
cabal, de forma a repor a credibilidade das estatísticas dos desempregados.
O segundo mistério, tem a ver com a inserção dos
desempregados no mercado de trabalho. Das 6.198 pessoas inseridas no mercado de
trabalho, apenas 1.188 foram colocadas pelo IEM, tendo as restantes 5.010
pessoas obtido emprego pelos seus meios, ou seja, utilizando a terminologia
oficial, foram autocolocações sem a intervenção do IEM. Este mistério, entre
19,2% de colocações pelo IEM e 80,8% de autocolocações, merece uma análise
profunda no sentido de implementar medidas para melhorar a taxa de colocações do
IEM. A este propósito, convém ter em consideração que a Madeira apresenta a
taxa mensal de “colocações pelo IEM / ofertas de emprego” mais baixa do país (7
regiões NUT II), tendo registado uma taxa de 53,9% em Setembro de 2016, quando
a média nacional foi de 71%.
O terceiro, é o “mistério dos desempregados
desaparecidos”. Da análise do quadro, constata-se que todos os meses há uma
diferença entre o desemprego anunciado pelo IEM (linha 10 do quadro) e o
desemprego calculado tendo em consideração o desemprego no mês anterior, o
desemprego registado no mês, as colocações e autocolocações, os desempregados ocupados
e os desempregados indisponíveis temporariamente (linha 13). As diferenças
mensais são elevadas, variando entre 542 em Agosto e 962 em Setembro, e
perfazem o total de 6.859 “desempregados desaparecidos” em 2016.
De referir que, atendendo à informação estatística
disponível, é correto calcular o total mensal de desempregados desaparecidos,
mas o cálculo do total de 6.859 desempregados desaparecidos é abusivo, por
falta de informação sobre os desaparecidos. No entanto, decidi calculá-lo
apenas para demonstrar como é fácil utilizar, todos os meses, as estatísticas
do desemprego para publicar notícias que dão toda a razão
a Benjamim Disraeli “Há 3 tipos de mentiras: mentiras, mentiras sujas e
estatísticas”.
PS: Curiosamente, a 10 de novembro de 2016, o DN publicou
“Taxa de desemprego sobe… inesperadamente.”³
¹ “Há 55 meses que não havia tão poucos
desempregados”, Diário de Notícias da Madeira, 20 de Outubro de 2106.
² “Evolução Mensal do Desemprego em
2016 (RAM)”
³ “Desemprego
aumenta ligeiramente na Madeira no 3º trimestre de 2016”, Diário de Notícias da
Madeira, 10 de Novembro de 2106.
8 comentários:
Os governos do PPD sempre foram mestres em batotice! Desde a batotice eleitoral, passando por outras batotices, até chegar à batotice das estatísticas do desemprego! Mas a viloada gosta de ser enganada, não há nada a fazer! Vota PPD!
Deixem-me cá ver se percebi:
a 01 de Fev 2016: Tínhamos 22 777 (01 de Janeiro de 2016) + 818 Novos desempregados em Janeiro (linha 11) = 23 695. Mas a entrada para 01 de Fevereiro diz 22 877... desaparecem 818 desempregados do dia 31 de Janeiro para dia 01 de Fevereiro. E assim por diante todos os meses...
MÁGICO!
Esta magia não funcionaria pela estatística do emprego e não pelo desemprego. Inventar contratatos de trabalho é bem mais difícil.. e dispendioso.
Meu caro anónimo das 12:17: vou dar- lhe dois conselhos e olhe que são gratuitos:
a)Antes de tecer qualquer comentário, analise bem as situações reais! Depois de feita a sua análise pessoal, então elabore os comentários que lhe aprouver! Repare bem se são só os fulanos do PSD que falseiam dados e fazem falcatruas!!! Dê uma olhadela para o que se passa em algumas câmaras socialistas ou no nosso governo central e depois, só depois, decida se realmente quer fazer um comentário deste tipo...
b) Depois de redigir o comentário e antes de decidir publicar, releia o que escreveu e veja se realmente vale a pena comentar e se o que escreveu corresponde de facto ao que realmente acontece...
E pronto, claro que eu sou apartidária e não estou aqui a defender nenhum partido...No entanto, irrita- me solenamente ver gente que vê o Sol através de uma peneira e tenta fazer com que outros também o façam!!!
Sobre a taxa de colocações do IEM é muito difícil de se conseguir alcançar a média nacional... pois a Madeira deverá ter a maior taxa de colocações por cunha no país.
Basta terminar o subsídio de desemprego para que o beneficiário deixe de estar oficialmente e estatisticamente desempregado.
Juntem os profs que lhes foi prometida contratação e estão como os enfermeiros do sesarm. Esta desgovernaçao e muita parra e pouca uva.
isso vai cá uma açorda??!!
Mais uma ou um agachado na RAM, onde sempre houve estatisticas falsas, ocultaçao de divida, falcatruas nas eleiçoes, por isso estao 40 anos no poder...
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