Internas no PS-Madeira

Carlos Pereira 'dá a volta'

em Câmara de Lobos

Mais de 150 militantes socialistas conviveram ontem num jantar em Câmara de Lobos organizado por apoiantes de Carlos Pereira, recandidato à liderança do PS-M nas internas de 19 de Janeiro.

Depois do afastamento em relação às forças pereiristas de Amândio Silva, operacional influente na concelhia camaralobense, o qual declarou então apoio a Paulo Cafôfo e a Emanuel Câmara, os adversários de Carlos Pereira mobilizaram-se para uma estocada final no concelho em causa. É voz corrente em Câmara de Lobos que Cafôfo e Câmara, fortemente complementados por Miguel Iglésias e Victor Freitas, avançaram com vários ataques propagandísticos no concelho, com multiplicação de promessas de emprego por todo o lado aos votantes e gerações seguintes.

Entretanto, chegava-nos uma informação fidedigna: os socialistas Sidónio-pai e Sidónio-filho mantiveram-se ao lado do actual líder, mesmo contra Amândio Silva (filho e irmão daqueles). Há 3 ou 4 dias garantiram-nos que havia mais de 300 subscritores socialistas camaralobenses no apoio a Carlos Pereira. Marca importante que preocupa vivamente a facção rival e acaba de ser confirmada na sequência do jantar de ontem.

O optimismo reinava nos discursos que animaram o jantar, feitos por Emanuel Freitas, ex-candidato socialista à Assembleia Municipal de Câmara de Lobos, e pelo próprio recandidato à liderança, Carlos Pereira. A tónica da noite virou-se para o divisionismo que é registo da candidatura adversária, a incompetência e a 'falta de palavra' das figuras mais conhecidas dessa mesma candidatura. A fuga ao debate com Carlos Pereira por parte de Emanuel e Cafôfo também mereceu duras críticas.

A candidatura da linha vigente no partido lançou o desafio à "candidatura bicéfala" para um frente-a-frente com Carlos Pereira, repto até à data sem resposta. Sabíamos que Emanuel não aceitaria debates, se fosse desafiado. Esperávamos que ao menos Paulo Cafôfo aceitasse. Mas o actual Mayor do Funchal optou por mais uma das suas fugas que começam a tornar-se imagem de marca. Ele não aceita a convocatória para debater no Parlamento regional as 13 mortes do Monte; não se filia no PS; não anuncia formalmente a candidatura a 2019 embora esteja em todas as sessões de propaganda de Emanuel Câmara onde esse projecto-19 é invariavelmente focado; e agora não aceita debates para uma eleição onde o seu nome ocupa posição decisiva. Cafôfo não só foge às situações complicadas como se recusa a explicar porquê.

Ora, o debate que se impõe nesta fase precisa de envolver quem disputa a liderança do PS em 19 de Janeiro de 2018 e quem vai disputar o governo regional em 2019, principal trabalho da Direcção do partido a sair das internas do mês que vem. Daí Carlos Pereira desafiar ambos os nomes da outra candidatura: o que vai à luta pela liderança confessando-se sem perfil para as eleições de 2019, ao apontar o independente Paulo Cafôfo como seu candidato regional dentro de um ano e meio, e o próprio Cafôfo.

Que se vê? Vê-se que Paulo Cafôfo não quer debater, agitando a bengala de independente. Mas na campanha interna em curso já é mais do que um simples militante, figurando lado a lado com um dos candidatos. Neste pormenor, está a trabalhar obviamente para 2019. Então, tem obrigação de debater com Carlos Pereira, que procura ganhar Janeiro para mais tarde enfrentar Albuquerque. Por sua vez, Emanuel devia debater com Carlos Pereira, por ser, embora em fato falacioso, o 'challenger' na disputa partidária de Janeiro.

As eleições no PS não podem ser separadas das regionais seguintes, de maneira nenhuma. Ganhará em Janeiro quem melhor programa prenunciar tendo em vista tirar o poder regional ao 'eterno' PSD. Se Carlos Pereira pode debater com Emanuel Câmara questões orgânicas internas do partido, não o pode fazer com ele a respeito de estratégias para 2019, já que essas competem a quem for indicado para presidente do governo regional. Não estamos a ver Emanuel dizer, dentro de um ano: Paulo, está aqui a minha estratégia para tu aplicares na corrida ao governo regional. Também estamos a gargalhar, Leitor.

Um desabafo: não sabemos se fica mais feio a vergonhosa fuga dos dois alucinados ambiciosos ao debate aventado, se seria ainda mais deprimente a banhada que ambos, mesmo juntos, apanhariam seguramente num debate com Carlos Pereira.

É tudo muito confuso. Emanuel usa o nome e a presença de Cafôfo para ser eleito líder do partido. Cafôfo propõe-se usar Emanuel para ganhar o partido e depois seguir ele mesmo para 'bingo', em 2019. 

As contradições começam a dar frutos podres, como se vê agora em Câmara de Lobos, um dos três concelhos fundamentais que decidirão as eleições de Janeiro. De repente, a doença da fruta contagia os socialistas dos outros dois concelhos decisivos, Funchal e Machico. A presença diária e profusa de Cafôfo nos media comerciais da Tabanca, a propósito de lapinhas e patuscadas cá dentro e lá fora,  pode não chegar na hora da contagem de votos. A modos que vão precisar de trabalhar e puxar pela cabeça. Ainda não ouvimos ninguém da 'Bagunça rumo a 2019' perguntar a Carlos Pereira como é isso de juntar resultados eleitorais com sondagens, ainda por cima descaradamente encomendadas, para dizer que o PS em dois anos triplicou o seu número de eleitores. 

Deixem lá. Victor Freitas já deve ter tratado para a LPM vir aí na recta final, dar um jeitinho à facção de loucos.