DISCURSO DE RAQUEL COELHO (PTP)
Ao comemorarmos a criação da cidade do Funchal nos seus 510 anos, é
importante que esta efeméride seja frutuosa para os munícipes. De nada servem
palavras bonitas e discursos pomposos se não somos consequentes no nosso
trabalho e fiéis aquilo que nos propusemos a fazer pela população, na qualidade
de autarcas eleitos.
Fazer a mudança política na cidade do Funchal, não foi tarefa fácil.
Conseguir o acordo de seis partidos para retirar a hegemonia do PSD, na Câmara
Municipal, só foi possível com o labor de muita gente. Não foi fruto do
trabalho de UM HOMEM SÓ, muito pelo contrário, deveu-se ao esforço de um conjunto
de democratas e autonomistas, que durante anos lutaram, com muitas derrotas
pelo meio!
Mas finalmente em 2013, fomos bem-sucedidos na nossa missão: conseguimos
alterar a correlação de forças, graças ao espírito de unidade dos democratas de
vários matizes.
O problema é que pouco tempo depois a ambição desmedida do Partido
Socialista deitou tudo a perder, os recém-eleitos depressa se esqueceram que a
vitória foi fruto de um trabalho coletivo e usurparam para si próprios, o
projeto Mudança. Afastando sem qualquer pudor, alguns dos seus ideólogos que
estiveram na sua génese. Infelizmente, a história repete-se sempre: em todas as
revoluções há contra-revoluções. Como bem ilustrou em 1945, o jornalista, George
Orwell, no seu, livro o Triunfo dos Porcos. Uma sátira intemporal, que relata a
derrota dos idealismos e a transformação progressiva dos revolucionários
“libertadores” nos novos privilegiados e opressores.
George Orwell, conta a História, dos animais de uma quinta que se rebelaram
contra o homem que os oprimia. E graças aos comandos dos animais mais
inteligentes da quinta, nomeadamente, o porco Bola de Neve e o porco Napoleão, conseguiram
uma vitória revolucionária.
Os porcos, líderes da revolta, transformaram-se rapidamente na nova elite
dirigente.
O problema é que a meio da história, o porco Napoleão afastou o rival Bola
de Neve e acumulou para si todo o poder. Surgiram então novas máximas: “Longa
vida ao camarada Napoleão” e “o camarada Napoleão tem sempre razão”.
No final, para moral da história, os animais constatam que permanecem tão
explorados como antes e que o domínio dos porcos é em tudo semelhante ao dos
homens. Nada os distinguia.
Ora, assim, encontramos um paralelismo na história da Coligação Mudança,
hoje rebatizada de Coligação Confiança. Conseguimos uma vitória revolucionária,
mas os seus dirigentes foram incapazes de congregar as vontades e respeitar os
partidos do projeto inicial, a governação pouco diverge da do PSD e é propagada
como o projeto revolucionário de um homem só.
Sendo que os principais ideólogos da coligação foram defenestrados, tal e
qual, como aconteceu com o porco Bola de Neve, da nossa história.
A grande obra do regime era, no “Triunfo dos Porcos” original, um moinho.
Na Quinta Cafofiana, a célebre Loja do Munícipe, que prometia modernizar os
serviços camarários e acabar com toda a burocracia. Mas contradição das contradições:
um cidadão que remeta algum processo na Câmara não o consegue agilizar em menos
de um ano. Digamos que montanha pariu um rato!
Com isto não quero dizer que a minha narrativa dramática, seja em resultado
das divergências que existiram, mas porque no final de contas, não prevaleceu
aquilo que deveria unir os poderes públicos democráticos - o supremo interesse
das populações que representam.
Quando o PTP e outros partidos se uniram em torno da Coligação Mudança não
pretendíamos só derrotar o PSD, mas sobretudo, pôr termo às políticas que
levaram à ruina financeira e económica do nosso município.
Com a união das várias forças políticas da então, Oposição, aspirávamos
iniciar um ciclo de mudança na Região. Encetando medidas de combate ao
despesismo, à corrupção, ao compadrio e às políticas eleitoralistas que sempre
caracterizam a governação do PSD.
Todavia, mesmo com alteração da correlação de forças na Câmara do Funchal,
esse sonho de transformação da sociedade, pouco avançou. Os vícios do passado
subsistem a olhos vistos. É alianças com os grupos económicos que dominam e
subjugam a Madeira, é o controlo da imprensa, é negociatas e nomeações para
pagar favores e apoios políticos.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
A Coligação Confiança governa ao sabor das circunstâncias, faz tal e qual como
os fenícios na antiguidade, que apenas se aventuravam no mar com a costa à
vista, receando perderem-se no desconhecido.
Assim é a Coligação Confiança, organiza a cidade do Funchal, mas sem
arriscar grandes transformações, tendo o cuidado de não colidir com os
interesses instalados. Passando entre os pingos da chuva sem se molhar,
permitam-me a expressão popular.
No final de contas, a cidade que temos no presente não é substancialmente diferente
daquela que herdamos em 2013. Ficamos muito aquém dos objetivos pretendidos. O
executivo camarário só foi praticamente bem-sucedido na vertente da propaganda.
Não houve qualquer estratégia e visão de futuro clara para a nossa cidade,
muito distante, por exemplo, do legado histórico que nos deixou o Dr. Fernão de
Ornelas. Um homem audaz e adiantado aos do seu tempo, um visionário que
juntamente com o arquiteto Ventura Terra aproximaram o Funchal,
urbanisticamente, aos padrões das grandes cidades europeias. Se temos hoje as
icónicas: Avenida do Mar, Avenida do Infante, Avenida Arriaga, Rua Fernão de
Ornelas e o Mercado dos Lavradores devemos à tenacidade deste grande autarca.
Que colocou os interesses da cidade à frente dos lobbies e dos senhores da
época.
Muito diferente do atual presidente da Câmara, o Sr. professor Paulo
Cafôfo, que não só não conseguiu arrumar a casa, como não fez a diferença na
Cidade. E não é porque lhe foi dada a maioria absoluta nas últimas eleições,
que esta governação é um exemplo a seguir. Foi mais ou menos, uma vitória à
moda do Robert Mugabe, à base da demagogia e do caciquismo.
E para terminar não posso deixar, de homenagear a luta dos verdadeiros democratas.
Saudar, todos aqueles que de uma forma abnegada e corajosa, intervêm pela
transformação da governação do nosso Município. Que mesmo tendo a espada de
Dâmocles sobre as suas cabeças, com a ameaça das botas cardadas ao serviço dos chamados Órgãos de Soberania, não
eleitos, que tudo fazem para condicionar as liberdades democráticas na nossa
Região Autónoma, em especial, a liberdade de imprensa e de expressão, àqueles
que não baixando os braços, lutam pela organização científica da nossa
sociedade.
Contudo, não temos que estar condenados a tão fatídico percurso. Queremos e
podemos ter uma autarquia democrática e fiel aos ideais de Abril.
Viva à nobre e leal cidade do Funchal!
Muito obrigada!
4 comentários:
Excelente discurso; equilibrado, honesto e sem insultos.
Cada vez mais a Raquel Coelho, evolui mais como interveniente na politica regional.
Parabéns!
Excelente discurso, Raquel Coelho!
Cada vez mais assertiva e equilibrada!
Parabéns!
Oh coelhinha será que esse esforço todo vai ser vão?
Mas quem é que liga a estes Coelhos que hoje estão cheios de ração a custa do erário publico. Mais um aninho e deixam-se de Piar!.
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