Discurso de João Paulo Marques (PSD-M) no Dia da Cidade
Quinhentos
e dez anos. É essa a marca centenária que hoje assinalamos na cidade do
Funchal. Mas não é apenas uma data o que neste dia festejamos. Hoje, mais do
que os anos, celebramos a memória da nossa cidade. Porque, como escreveu Saramago,
somos a memória que temos e sem memória não existimos. Talvez seja por isso que
esta cerimónia se repete todos os anos: para não perdemos a memória da cidade
em que vivemos. Para não nos esquecermos que o Funchal foi a primeira cidade
atlântica.
A
primeira cidade dos Descobrimentos. Fomos terra de passagem para Cristóvão
Colombo, Napoleão Bonaparte e para a imperatriz Isabel da Áustria. Mas também
fomos e somos lugar de destino e ponto de partida para o resto do mundo. Foi no
Funchal a primeira escala na rota do açúcar, a qual viria a moldar, de forma
tão profunda, as novas sociedades resultantes da diáspora europeia. E foi
também aqui que, à procura de melhor saúde, o turismo europeu deu os primeiros
passos. Mas o Funchal foi e é muito mais que isso.
A
partir de uma pequena cidade no Atlântico, desafiámos Presidentes da República,
revoltámo-nos pela farinha e pelo leite, levantámo-nos contra o Estado Novo e até
a monarquia ousámos enfrentar. Tudo sem a necessidade de prometer murros na
mesa, mas apenas com a simples e genuína ideia de que os madeirenses estão
primeiro do que qualquer ego, pessoa ou partido. É isso que torna o Funchal
único. O cruzamento entre uma memória de mais de 500 anos e a vontade
inabalável de quem vive nesta cidade.
A
vontade em reerguer-se sempre que a Natureza nos relembra da nossa fragilidade e
a coragem de reinventar-se na esperança de um futuro melhor. É assim que somos
e é assim que continuaremos a ser. Do sítio da corujeira, no Monte, ao Lombo
dos Aguiares, em Santo António. Do Sítio da Cova, em São Roque até ao Alto da
Pena, em Santa Luzia. Somos gente boa e trabalhadora. Gente resiliente e
indomável. Todos, e cada um de nós, orgulhosos da sua cidade.
Minhas
Senhoras e Meus Senhores,
O dia
é de festa, mas também de reconhecimento. E por isso permitam-me não só uma
palavra de gratidão aos condecorados de hoje, mas acima de tudo uma saudação singela,
mas genuína, a todos os cidadãos do Funchal. São eles que merecem, sem qualquer
dúvida, ser homenageados. E a melhor homenagem que lhes podemos fazer é tornar este
dia num dia de balanço da nossa cidade.
Sem
vertigens partidárias. Para o bem e para o mal. Para isso, sabemos, de antemão,
que temos uma visão diferente para a cidade, que defendemos um rumo alternativo
para o Funchal. Um rumo com mais investimento na cidade e menos impostos para
as pessoas. Com mais limpeza e aprumo nas ruas e com menos publicidade nos jornais.
Ainda assim, isso não nos impede de
participar, de forma construtiva, na governação do Funchal, aprovando o que for
positivo para a cidade.
Temo-lo
feito e continuaremos a fazê-lo na Câmara e na Assembleia Municipal. Mas a
missão que nos confiaram os funchalenses obriga-nos a uma fiscalização imparcial
e constante da governação da cidade. Custe o que custar, doa a quem doer.
Disse-o há um ano atrás e volto a dizê-lo: não contem com o PSD para passar um
cheque em branco a esta vereação. Não seremos nós a remediar o que esta Câmara
não consegue resolver.
Se os
funchalenses garantiram a esta Câmara condições absolutas de governabilidade, o
mínimo que V. Exas. podem fazer é governar e dar um rumo à cidade do Funchal. E
se em 2013, o rumo da Câmara era traçado em função do passado, a partir de
2017, ele simplesmente deixou de existir. Hoje o Funchal navega à vista, sem
destino certo, pois o seu Presidente, apesar de presente, há muito que
abandonou o leme da cidade.
Agora,
a cidade é gerida ao ritmo dos avanços e recuos de quem não pode, de quem não
quer comprometer-se com nada. Vejamos o caso da taxa turística para o Funchal,
anunciada pela Câmara em Março como uma medida fundamental para a estratégia de
turismo para a cidade. Apesar do anúncio, a autarquia não falou previamente com
os parceiros, não sabia qual seria o valor da taxa, nem sequer a receita que
poderia gerar. Passado um mês, a taxa passava de fundamental a adiada para o
final de 2019.
O
mesmo destino teria a polícia municipal. Anunciada em 2016, como a resposta
para a ocupação indevida de espaços públicos, em 2018, continuamos sem saber
quantos elementos terá, quanto custará ou sequer quem a irá pagar.
Curiosamente, a mesma Câmara que estava preocupada com os espaços públicos, anunciou
que levará entre 2 a 5 anos a aplicar o seu regulamento de esplanadas. Por fim,
e porventura mais grave, é a incapacidade desta Câmara em construir a ETAR do
Funchal.
Passados
mais de 3 anos e esgotados todos os prazos impostos pela União Europeia, começa
a formar-se uma nuvem negra sobre a cidade do Funchal. A mesma nuvem negra que
chegou a Matosinhos, acompanhada de uma multa de 3 milhões de euros e de uma
sanção diária de 8 mil euros até a conclusão da obra. Quando a multa chegar ao
Funchal, saberemos muito bem a quem pedir a conta.
Minhas
Senhoras e Meus Senhores,
O
Funchal é hoje uma cidade em suspenso. Parada num tempo que podia ser o seu,
mas que não é porque está refém de uma estratégia que coloca a carreira
política de uma pessoa à frente dos interesses da cidade. Sejamos muito claros.
O Funchal é uma cidade sem rumo, porque tem um presidente em part-time. E Sr.
Presidente da Câmara, sinto-me na obrigação de lhe dirigir algumas palavras.
Permita-me
que o faça sem intermediários, cara a cara, olhos nos olhos. Talvez porque só
assim é que sei estar na política: de corpo inteiro e sem medos. Ao contrário
do que muitos pensam, alguns até do meu partido, não me sinto no direito de
criticá-lo por querer abraçar outro desafio político. Ainda que o faça
quebrando o compromisso assumido com as pessoas. Acredito, piamente, que cada
um é livre de escolher o seu caminho.
Da
mesma forma que acredito que caberá aos eleitores fazer esse juízo e que esse
julgamento, mais tarde ou mais cedo, chegará. O que não posso admitir, Sr.
Presidente, é que mantenha a minha cidade, a nossa cidade, parada á espera do
momento em que V. Exa. finalmente assumirá aquilo que todos já sabemos – o seu
coração já não está no Funchal. Por isso, Sr. Presidente da Câmara, faça um
favor à cidade, faça um favor a todos os funchalenses - siga o seu coração e
siga com a sua vida!
Mas
antes de o fazer, peço-lhe que tenha a coragem de tomar duas decisões.
Primeira, devolva a dignidade à freguesia e a todas as pessoas que vivem no
Monte. Aquilo que as pessoas esperam de nós, não é que estejamos sempre de
acordo, mas que, no final do dia, prevaleça sempre o interesse daqueles que
representamos. Ora, não é do interesse de ninguém que o Monte esteja desde
Março sem receber um cêntimo da Câmara. Sr. Presidente, está nas suas mãos,
assine o contrato e ajude quem vive no Monte.
Segunda
decisão, ponha fim à matança de árvores inocentes na cidade do Funchal. Cada
árvore injustamente derrubada, é um atentado à memória que hoje celebramos. O
que está em causa é a nossa identidade, aquilo que nos torna numa cidade única
e que depois destes abates, levará décadas a recuperar. Sr. Presidente, ainda
vamos a tempo de parar com esta loucura. Não queira que a sua herança no
Funchal, seja a de uma cidade sem árvores. Os madeirenses nunca lhe iriam
perdoar.
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