Há governos que já nascem póstumos
Por Vitorino Seixas
Na moção “Renovação”, apresentada no Congresso Regional do
PSD-Madeira, em janeiro de 2015, Miguel Albuquerque afirmava, com orgulho, “em
2 novembro de 2012, quebrei o falso unanimismo que desde há anos estava a
estagnar a prática do nosso partido no seu pensamento, na sua postura, nas suas
ações políticas” ¹.
No entanto, em 9 de dezembro de 2016, nas eleições para Presidente
do PSD-Madeira, Miguel Albuquerque consegue a reeleição com 98,2% dos 2901
votantes, o que é uma prova cabal de que não foi quebrado o “falso unanismo”,
mas antes reforçado com percentagens só vistas nos regimes totalitários.
Mais adiante, na Renovação, Miguel Albuquerque faz um
diagnóstico “o PSD/M teima em manter-se mumificado, “governamentalizado”,
prisioneiro dos interesses instalados, impelido pelos acontecimentos” ¹,
terminando com “acredito
no PSD/M mas NÃO neste
PSD/M de fim de ciclo” ¹.
Perante este diagnóstico arrasador, o que mudou? Na prática,
fora uns arranjos cosméticos, pode-se dizer que Renovação é igual a Continuidade.
O PSD/M continua mumificado como na “era Jardim”, governamentalizado em capelas
onde os secretários regionais navegam á vista e se atropelam uns aos outros,
como acontece entre a Agricultura e o Ambiente, e prisioneiro dos interesses
instalados, como é o caso dos portos. A única diferença é que o governo da
Renovação investe milhares de euros em marketing político para vender aos
madeirenses a ilusão de que tudo está a mudar para melhor.
Senão vejamos. No PAEF, Miguel Albuquerque confessa que “o
contexto em que o Plano de Ajustamento está atualmente negociado é um beco sem
saída para a Região” ¹ e que “a Região tem de assumir-se como um destino de
concorrência fiscal e também de competitividade fiscal” ¹. Da leitura destas confissões,
constata-se que não há Renovação das políticas de Jardim relativas ao PAEF,
pois Miguel Albuquerque assume que “as receitas correntes da Região e as transferências ao abrigo da
Lei das Finanças Regionais não são suficientes para manter em funcionamento os
serviços e honrar o serviço da dívida Regional” ¹, mas não aponta nenhuma
solução, ou seja, mantém o estado de “não-solução” em que vive a Madeira desde
2008.
No turismo, a Renovação proposta
por Miguel Albuquerque é deveras esclarecedora “temos de mudar de rumo. E abandonar a política de remendos e
de “autocontentamento” que pode levar à decadência irreversível da Madeira como
destino turístico” ¹. Contudo, o governo regional não possui um plano estratégico para
o turismo, apenas se propõe fazer a adoção crítica do Estudo Estratégico para o
Turismo realizado pela ACIF. Neste contexto, de indefinição estratégica, não
deixa de ser surpreendente que o governo divulgue que “turismo bate recordes em
apenas 10 meses” ², o que é um sinal de autocontentamento de Miguel
Albuquerque com os resultados.
Nos transportes aéreos, a
Renovação de Miguel Albuquerque defende que “o Estado deve garantir o
cumprimento das obrigações de serviço público em especial, no processo de
privatização da TAP. Nada justifica os preços praticados - os mais altos do
País” ¹.
No entanto, o que constatamos é que não há serviço público e que os preços
altos são praticados sem que o governo regional revele a mínima capacidade de acabar
com estas práticas abusivas. Perante a gravidade da situação, a intervenção de
Eduardo Jesus limita-se a fazer queixinhas através dos jornais: “pagamos o
dobro para voar na TAP” ³ do que pagam os açorianos. Que tal Miguel Albuquerque começar
a fazer Política a sério? Para tal, basta seguir a bíblia da sua Renovação: “é
essencial avaliar os cenários políticos, liderar causas, mobilizar pessoas e
comunidades, … para as grandes causas da Madeira e da Autonomia” ¹.
No transporte de carga, a
Renovação assume um compromisso “é evidente que este “dossier” deve ser
reaberto, discutido com toda a transparência, e independentemente dos
interesses em jogo – Operador, APRAM, Rendas TUP (Taxas de Uso Portuário),
Armadores, etc. -, devem ser tomadas rapidamente as decisões necessárias para
beneficiar os principais interessados” ¹. Neste domínio, passados mais de 18
meses, ainda não foi encontrada uma chave da Renovação capaz de reabrir o
dossier herdado de Jardim.
No transporte marítimo de passageiros, a Renovação assume mais
um compromisso “a Região deve atrair operadores para introduzir de novo uma
linha de ligação marítima entre a Região e o Continente, tipo ferry, com
possibilidade de ligação a outros portos” ¹. No entanto, aquilo que era um
compromisso de honra de Miguel Albuquerque, afinal só será viável se o governo
central suportar os custos.
Na política de saúde, a Renovação
defende que “o PSD/M deve inscrever como um desígnio regional a construção
futura da nova estrutura hospitalar” ¹. Mais uma vez, aquilo que era um compromisso
de honra de Miguel Albuquerque, afinal depende do financiamento do governo
central, o qual, entretanto, se comprometeu a financiar 50% do custo do novo
Hospital, sem que haja qualquer esclarecimento sobre o financiamento dos
restantes 50% por parte do governo regional. Entretanto, tomou posse o 3º
Secretário Regional da Saúde em 20 meses.
Na política social, a Renovação faz o diagnóstico “é certo
que não basta derramar dinheiro público sobre os problemas para que estes
desapareçam” ¹. Contudo, na prática, é isso que faz. Por exemplo, se aumenta o
desemprego, derrama mais dinheiro nas políticas ativas de emprego. Se aumenta a
pobreza, derrama mais dinheiro em programas de ajuda alimentar a carenciados e
no apoio às IPSS. Entretanto, as taxas de desemprego e de pobreza continuam em
níveis dignos dos países do terceiro mundo.
Na política de educação, a Renovação faz o diagnóstico “a
região possui uma elevadíssima taxa de abandono escolar dos jovens entre os 18
e os 24 anos: cerca de 27%, o que contrasta com os 5% e 6% de muitos dos países
que integraram recentemente a União Europeia” ¹. Perante esta dramática realidade,
a resposta é a mesma do passado: separar os bons dos maus alunos, agora
assumida às claras como uma política para melhorar a educação e que antes era uma
prática feita às escondidas.
Por último, na política agrícola, a Renovação defende que
se deve “agir preventivamente contra a introdução de pragas e doenças” ¹,
mas deixa dizimar 60% da produção de castanha do Curral das Freiras em 2016.
Defende, também, “o pagamento imediato das entregas dos agricultores” ¹,
mas são bem conhecidas as queixas dos produtores de banana sobre os pagamentos
da GESBA e a sua política de preços da banana. Ainda neste domínio, defende “torna-se
fundamental encurtar substancialmente o tempo que medeia entre a entrega dos
projetos agrícolas ao PRODERAM, e a sua análise, aprovação e financiamento” ¹, mas,
na prática, os atrasos superam o que de pior aconteceu na “era Jardim”.
Desta análise, constata-se que as
políticas renovadoras de Miguel Albuquerque são um nado morto e que muitas das políticas
do Jardinismo continuam bem vivas depois de manipuladas com Photoshop político.
Parafraseando Nietzsche⁴,
no caso do governo da
Renovação, pode dizer-se que “Há governos que já nascem póstumos”.
¹ “Renovação”, Miguel Albuquerque,
janeiro de 2015
http://www.psd-madeira.com/2011/MOCOES/MOCAO_MA.pdf
² “Turismo bate recordes em apenas 10 meses”, Diário de
Notícias da Madeira, 16 de dezembro de 2016
http://www.dnoticias.pt/impressa/hemeroteca/diario-de-noticias/hotelaria-ja-superou-os-proveitos-de-2015-YC598320
³ “Pagamos o dobro para
voar na TAP”, Diário de
Notícias da Madeira, 13 de dezembro de 2016
http://www.dnoticias.pt/impressa/hemeroteca/diario-de-noticias/eduardo-jesus-confronta-tap-sobre-disparidades-XL5
⁴ “Há homens que já nascem
póstumos”, Friedrich
Nietzsche
35 comentários:
E a saúde que era uma camioneta desgovernada a ir pela serra abaixo? hahahahaah. Bem vindos à sucata Albuquerque.
Ja agora a dita taxa de abandono que tecnicamente e a taxa de abandono escolar precoce,nao so diminuiu como aumentou, parece.
Parabéns, bem desmascarado. O tempo passa e as pessoas esqueçem o que foi dito e prometido. Ficou o baladado "novo Hospital", "ferry" e "Avião Cargueiro" mas como aqui se leu, houve muito mais do que isso.
Albuquerque é um político de imagem e chavões mas para nosso mal, inconsequente.
Há afirmações genéricas não justificadas que induzem erro aos leitores. Há outras que são fundamentadas.
O analista deve ser mais concreto e fazer prova. Não basta dizer que o proveram está atrasado...o que não corresponde à verdade. E outros aspectos generalistas.
Mas M Albuquerque tem realmente de ser diferente e mais cumpridor das promessas, embora qualquer governo leve tempo para inovar o sistema derrubando barreiras instaladas.
Vej-se Lisboa... ao contrário do que Costa prometeu, a divida pública aumenta, na Madeira reduz-se dívida do grande Buraco(diferença de Jardim) e aumenta credibilidade junto da Banca.
Excelente artigo de Vitorino Seixas. Eu já não me lembrava.
Quando é que o sr.eng. Seixas e demais madeirenses vão perceber que quem manda na mamadeira são apenas 4 criaturas a saber: Luís Miguel de Sousa, Dionísio Pestana, Jaime Ramos e Avelino Farinha! Vota Pipidê! Viva o Pipidê!
Ao comentador das 13:00:
A dívida da Madeira diminuiu. O desemprego, a educação, saúde, etc está muito pior.
Credibilidade junto da banca? Isso é como cair nas boas graças do gatuno da zona para não ser assaltado à porta de casa. Só que neste caso, somos sempre assaltados. Credibilidade e bancos na mesma frase nem faz sentido. E depois, temos credibilidade. Diminuíram os juros? Não! A vantagem é que podemos aumentar a dívida, para encher outra vez os bancos...
Esta análise está concreta e objetiva. Na prática, a única coisa que mudou foram os títulos do Diário...
Ao Anónimo das 13 horas: O aumentar a credibilidade da banca por aqueles senhores do telexfree ou dos banif? Ou será aquele que vendeu produtos tóxicos do BES na Venezuela? Claro que aumenta imenso a credibilidade junto da banca
Aos Senhores das 15.10 e 15.42
Então se aumentasse a dívida era o mesmo descalabro...que o anterior.
Como está a reduzir já não é factor de referência?
A questão que se exige é objetividade e verdade...
A dívida só reduziu porque o Secretário vem do tempo do PAEF.
E as dividas do Presidente? Aumentaram ou reduziram?
É meio dificil acreditar que as dividas diminuiram quando o público sabe que uma secretaria regional é apanhada a mentir, e ninguém é exonerado do cargo.
É o chamado embuste monumental...
Claro que há redução, acompanha a redução das vacinas, da formação, dos aparelhos etc. Claro que há redução. Parabéns!!
Anonimo ds 18.09. Junte.lhe as faltas de papel,papel higiénico, toner,paus de giz e afins das escolas e tem aqui muita poupança.
Muito boa leitura e lembretes. Falta apontar um fator diferenciador de crescimento da economia, a energia, seja ela nos combustíveis ou em electricidade. Esse fator que está sob a tutela novamente de Eduardo Jesus, é um peso muito elevado nos custos de qualquer empresa. É de lembrar que continuam a cobrar a energia eléctrica a uns e a outros existe perdão. A Renovação não chegou à Eletricidade, a não ser no roseiral.
Será que o Dr. Rui Abreu está a assistir ao debate e hoje - 03.01.2017 - na RTP-Madeira?
O deputado do PSD é uma anedota... das grandes.
Parolos que de nada sabem...Governam mal, show off , concertos, festas regadas com poncha, o descalabro chegou aos serviços onde arranjam dispensas aos trabalhadores, tolerancias de ponto, como nunca vimos, bebidas nos locais de trabalho, a ilha no seu melhor...
Este Governo deve meter uma coisa na cabeça porque se está mesmo a por a jeito para uma queixa no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Ser trabalhador da administração pública não é igual ou o mesmo a ser funcionário do Governo. Deixem de por medo às pessoas!!!
Agora lá vem a da Inclusão com a conversa (da treta, obviamente) da transparência quanto aos donativos de solidariedade, mas reparem no diploma que vai ser hoje aprovado na Assembleia: mais burocracia nos procedimentos, mais relatórios várias vezes ao ano (quem os lê?), que se traduzirá por mais demora na efectivação dos auxílios, mas, sobretudo, é o escancarar ao olho guloso das Finanças (e da Inclusão), as contas das entidades privadas.
Mas o problema de fundo permanece: quem regula o Regulador?
Ou seja: com o pretexto da transparência, um dos mitos mais ilusórios do politicamente correto, reduz-se a nada a legítima privacidade de quem dá e de quem recebe, brinca-se ao faz de conta com associações de direito privado, enfim... mostra-se finalmente o tique soviético do controleirismo, que é o que, em vários outros aspectos, caracteriza o governo dos renovadinhos! Veja-se o "paleio soviético" dos comunicados de "reposição da verdade" emanados dos gabinetes de comunicação dos Secretários Regionais, ou o frenesim em responder às notícias de cada dia, por exemplo do que manda nos portos e aeroportos e que julga que é possível passar imaculado por entre os pingos da "chuva de lamas"...
Senhor(a) das 22.51
O grupo parlamentar do PSD, é uma desgraça sem deputados competentes. Salvam-se dois a três.
De resto é um desastre.
Mas maior se torna o problema quando Têm de defender ou apoiar um governo com algumas promessas por cumprir.
Enquanto a Oposição aposta nos mesmos, porque são poucos, o PSD vai rodando por deputados que não têm postura e competência para debates.
A ideia, cada vez mais transformada em TENTATIVA de idelogia de que esta tudo calmo e sereno e melhor ate que antes onde tudo estava desconforme e o anterior Governo era mau, vai cair e com estrondo. Os atuais dirigentes nao sabem sequer "ouvir" os sinais e vão bater de frente. Na altura virá a vitimização. Cabe JA aos pliticos antecipar e fazer mudanças que nao aquilo que foi feito, meras cosmeticas muitas expetáveis. Este trabalho deve ser feito area a area e ver onde estão os descontetimentos e agir.
O Eduardo Jesus não ter sido dispensado na remodelação do governo diz muito sobre este a governação do Albuquerque.
Dispensou pessoas válidas e mantém lá o Eduardo Jesus que só arruinou a nossa mobilidade e só lhe interessa defender os negócios dos grandes empresários do turismo e das companhias aéreas...
Pena que o Diário de Noticias da Madeira passou a ser um "jornal mentiroso" como era o JM. Deixei de ler o DN. Só tem noticias a enaltecer esses governantes que tanto mal fazem à população da Madeira. Até os comentários incómodos dos leitores eles trataram de dificultar com o novo formato.
Vou lendo as opiniões que aparecem por aqui que são muito mais válidas e correspondem à realidade.
Equipa da Rubina PSD Camara do Funchal João Rodrigues ( Apoiante Manuel António) Amílcar Rodrigues ( Apoiante de Miguel Albuquerque)Isabel Catarino ( Apoiante de Cunha e Silva ) João Machado ( Apoiante de Cunha e Silva ) Savino Correia ( Apoiante de Manuel António ) E assim temos a lista da própria oposição dentro do PSD ....
Verdadeiro setor onde impera o tal controleirismo balofo e a educação, onde impera o desconhecimento confrangedor das matérias e as coisas vão indo embrulhadas em bla, bla sem substancia apoiadas por uma comunicação social pouco exigente e amarrada.
Como em todas as mudanças, no princípio é sempre mais dificil de aceitar. Realmente falharam em algumas promessas mas não admito que digam que está pior do que estava, pois não está.
Oh Sr. Joelo das 14:33h "não admito que digam que está pior do que estava, pois não está"
WHAT???? Só pelo estilo já dá para ver de que lado é que este personagem está.
De que é que estão à espera de um Governo de Vereadores e amigos e que apenas recorre aos quadros do Partido que o apoiaram?!
Governo gasto, sem ideias, sem projectos, sem credibilidade e sem vergonha! Exige-se uma mudança de todos os quadros e uma mudança total das figuras tristes que estão neste PSD.
A Secretária do Presidente do Governo Regional, a Srª Elda Chaves, anda a telefonar para os militantes (note-se militantes) para um convivio dos cantares dos reis, na Quinta Vigia. Não sabia que afinal a Quinta Vigia é a sede do PSD Madeira!É uma vergonha usar dinheiros publicos e património da RAM para pagar copos e convivios
O Albuquerque já nomeou aquela amiga dele para aquele tacho que foi criado há dias na cultura.Sem concurso nem nada. E lá o Jesus engoliu mais um sapo.
Porque é que eu não tenho amigos destes ?
Viva a renovação. Tudo diferente do que no tempo de Jardim, não haja dúvidas.
Albuqueqe cantar os Reis. Ta certo nao foi pouco tempo que o víamos um monárquico acerrimo.
E o pior é que ela foi nomeada para "fazer nada", porque a Diretora cultural não quer e não deixa. Não confia em ninguém e centraliza tudo. Como tem muita papelada em cima da mesa, os concursos para diretores de museus estâo mais que atrasados. Mas não interessa: o Clode supostamente governa por elas todas! E ainda falta lançar depois o concurso para esta amiga de peito da Quinta Sissi... Enfim, um sapo grande e velho que o Secretário e a sua querida Diretora lá tiveram que engolir para não serem "remodelados" pelo natal...
Concordo, temos de agir estamos a ser tratados como lixo, perseguidos, enxovalhados, ameaçados, tanto no GR como na ALM...
ahhhh, a música do vitorino do rouxinol faduncho assenta-te bem.
sempre a consultar e a opinar...
e os ares de importante, deixando de cumprimentar antigos colegas, que bonito.
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