O Eichmann das árvores

Gil Canha

O corte das belas árvores-do-fogo da rua do Bom Jesus mostram uma vez mais a senda destruidora do sr. Prof. Paulo Cafofo e a sua aversão doentia às árvores, que se agravou após a queda da árvore no monte.

Este cavalheiro, conhecido por lidar mal com a verdade, após a queda trágica da árvore do Monte e coadjuvado por uns pseudotécnicos semianalfabetos e vendidos, desatou a cortar árvores a torto e a direito pela cidade e a realizar podas selvagens, fora do tempo, a dezenas delas, tipo Adolf Eichmann, quando andou na Alemanha dos anos quarenta, a eliminar israelitas.

Bastou uma árvore beliscar o narcisismo e o apego doentio do sr. Cafofo ao poder, para este declarar a sentença de morte a tantas árvores da nossa urbe, sem estas terem direito a uma segunda opinião técnica. Aliás, o “fuzilamento” sumário sem direito a “julgamento” foi decidido pelo nosso Eichmann arbóreo sem mais contemplações nem pingo de piedade.

Logo após a tragédia do Monte, em frente ao prédio onde vivo, em S. João da Ribeira, estes “lambuzas” também cortaram uma, das duas belas, frondosas e centenárias figueira-da-índia que existiam na praceta, porque na cabeça deles, uma das árvores estava em perigo de cair.

Quando os algozes se preparavam para cortar a bela árvore, opus-me ao corte, e perguntei-lhes quem tinha dado ordens para cortar. Disseram-me que tinha sido o condomínio do nosso prédio a reclamar do estado da árvore, pois causava perigo. Eu expliquei-lhes que o condomínio reclamara dum galho enorme seco que ameaçava cair, mas que nem era dessa árvore, era da figueira-da-índia do lado.  (É como aquela história dum desgraçado que vai ao dentista por causa dum dente estragado, e ele arranca-lhe um dente são)

Também referiram que o tronco da árvore estada podre, pois furaram com uma sonda/broca e verificaram que o âmago estava podre; eu expliquei-lhes que aquela espécie de árvores era escorada por raízes fortíssimas que se desenvolviam a partir do exterior da “casca”, e que a árvore ao lado também tinha o âmago podre. Para meu espanto, disseram-me: sim, é verdade! Mas o sr. Engenheiro não conseguiu furar com a broca para ver, porque encheram o buraco podre com cimento, e a broca podia se partir, é por isso que ela não vai ser cortada, é só esta!

Como a broca não entrou nesta árvore, cujo âmago estava ocupado por pedras e cimento, ela salvou-se.

Ainda tentei ligar para a autarquia a explicar que podiam cortar os galhos superiores da árvore para lhe reduzir o centro de gravidade e salvar a árvore, tentei explicar-lhes que aquela espécie arbórea tem um sistema radicular muito peculiar, semelhante a muitas árvores de zonas tropicais e subtropicais, mas a besta que estava do outro lado parecia-me o tal técnico contratado, especialista em árvores do hemisfério norte, mas um completo ignorante em espécies arbóreas de zonas quentes e húmidas.

Impotente, só me restou assistir ao corte assassino da amiga e saudosa árvore e, na semana seguinte, e para descargo da minha consciência (não vai dar em nada), fizemos queixa no MP, junto do Tribunal Administrativo, porque os executores da sentença não tinham com eles a licença obrigatória para o abate.

Por isso, caros cidadãos, tenho a reconhecer que algumas das árvores-do-fogo da rua do Bom Jesus estavam fracas, mas a maioria delas estavam frondosas e belas, e, afastando as caixas de telecomunicações e outros equipamentos do saneamento básico dos seus sistemas radiculares, poderiam continuar a  dar-nos sombra e beleza; aliás, as atuais condutas de água são em PVC e resistem bem à “agressividade” das raízes, como acontece em milhares de cidades europeias que têm as suas ruas cheias de árvores. Mas o nosso Eichmann das árvores não quis saber de uma segunda ou terceira opinião, e de uma forma sumária mandou abater espécies arbóreas lindíssimas e que faziam parte do nosso imaginário de anos e anos, transformando aquela artéria numa ruela calva e horrorosa, como infelizmente se está transformando esteticamente a nossa política regional.