LARANJAL

JOSÉ PEDRO VAI INTERFERIR

NA CORRIDA DOS DELFINS

Jardinista, sempre - ao contrário dos "cobardes que fogem agora".

Na Assembleia Legislativa, é deputado independente. Mas, como se sabe, continua militante do PPD. Por isso, não será mero espectador na luta pela liderança. Pelo contrário. Para começar, aludindo ao recém-reconstituído 'Autonomia XXI', Zé Pedro pergunta que raio de pensadores são esses que "não pensam nada de novo" , que querem é "encostar-se ao Delfim que ganhar". 

José Pedro Pereira levanta-se da mesa do café para ir à porta espreitar o movimento de social-democratas à porta do Colégio dos Jesuítas, na Rua dos Ferreiros. São quadros da geração de Jaime Filipe Ramos a entrar para o anunciado lançamento do 'Autonomia XXI'. Fim de tarde de quinta-feira.

"Chegaram agora mais dois derrotados", ironiza no regresso à mesa do café, referindo-se a ex-candidatos laranja que saíram chamuscados das autárquicas.

Há outros "derrotados" que Zé Pedro vê chegar, nos seus fatos engomados de conferência. Não nos pede segredo quando, por exemplo, fala em Rui Moisés, que "rebentou com o PSD em Santana", deixando escapar para o PP a Câmara de que era presidente. E há Bruno Pereira, que perdeu as eleições no Funchal por causa da campanha feita pelos serviços precisamente de Jaime Filipe... e agora lá vai Bruno para o fórum de Jaime!
Zé Pedro, entre outros, fala ainda de Luís Filipe Santos, que "deitou a Junta do Imaculado a perder". Ei-lo um pouco à deriva, ora juntando-se a Sérgio Marques, agora marcando presença no 'Autonomia XXI'... "Está baralhado, mas é bom pequeno", sorri José Pedro. 

O deputado independente faz finca-pé nos desígnios que lê nos promotores e aderentes do 'Autonomia XXI': "Eles não conseguem constituir uma linha política com um líder que se atreva a disputar o partido, o que eles querem é marcar terreno para se 'encostarem' ao candidato que ganhar."

Contra jogos políticos sujos

Não se tratará, perguntamos nós, de uma análise despeitada perante a família Jaime Ramos, depois de uns tempos em harmonia, quando Pedro não se cansava de elogiar publicamente o secretário-geral do partido?

José Pedro reconhece uma grande animosidade com Jaime Ramos, hoje. "Alguém costuma dizer que em política não existe a amizade, a sinceridade. Não penso assim. Em política, temos até de ser leais, e a lealdade deve ser recíproca. A partir do momento em que se vai por outros caminhos, quando as pessoas optam pela mesquinhice e pelos jogos sujos, em nome dos interesses próprios, mesmo prejudicando a instituição partido, da minha parte há ruptura total com esse tipo de gente."

Estamos numa dissertação teórica. Em que...?

"Eu explico."

E explica: Jaime Ramos ignorou a lealdade de Zé Pedro preferindo "proteger as costas" de Rómulo Coelho, actual líder da JSD, e rival dele, Zé Pedro. De enfiada, desbobina uma série de acusações a Rómulo, deixando mais do que claro que a situação se radicalizou irremediavelmente.

"Traidores" que apoiam Passos Coelho

Mais uma vista de olhos à Rua dos Ferreiros e um ataque em força: "Não consigo perceber o que é que estes 'pensadores da reflexão' vão pensar ali para dentro, porque nunca os vi pensar nada de novo. Aquela Autonomia XXI é um projecto ultrapassado que eles não conseguem reformular e modernizar, eles querem é garantir o seu tacho futuro."

Logo, Zé Pedro acusa o núcleo duro do fórum: "Eles estão a seguir a ideia que lancei há pouco tempo, o movimento 'Associação de Jovens da Madeira', que já saiu na imprensa. Somos mais de 120 fundadores, jovens destacados no mundo da arte, da política, da cultura, desporto, gente de vários partidos, independentes."

E com um pormenor importante: "São tudo gente nova, sem os vícios políticos que se podem ver em todos estes 'pensadores' que vão para ali", acusa, referindo-se ao interior do Colégio dos Jesuítas.

"O que o povo madeirense precisa de saber é se o Jaime Filipe, que sempre se deu com o Passos Coelho, primeiro-ministro que só prejudica a Madeira, se o Jaime Filipe continua do lado do Passos Coelho", desafia o jovem deputado. "É traição à Madeira. Olhe, em Lisboa, num congresso, Jaime Filipe, o Rómulo e outros foram para o Jardim Zoológico jantar com o Passos Coelho. Eu fui ao MacDonald. Aliás, fui ao Pinóquio, comer uns camarões. Não me misturei com o Passos Coelho, eu já sabia que ele não gosta do PSD da Madeira."

"Por andar com 'gajas' e tomar um copo..."

José Pedro parece que atrai a polémica. Depois de tudo o que tem saído a público, agora mesmo andam a condená-lo por ter viajado ao Brasil à custa de faltas nas sessões parlamentares. Há gente indignada sugerindo que o jovem devia, inclusivamente, perder o mandato. Mas que é isso de uma boémia no Brasil perante os 'sarilhos' em que já andou metido?

"As pessoas gostam de falar de mim. Criticam porque eu ando com umas 'gajas' e tomo um copo. Tenho 25 anos, isto não é normal? O que é que acha que eles iam dizer se eu, em vez de mulheres, andasse com homens, se fosse um santinho do seminário e não tomasse um copo?"

A viagem ao Brasil está explicada e Zé Pedro não lhe dá mais importância. Vai continuar a divertir-se como gosta, um copo, umas amigas, e ninguém tem nada com isso.

O que o preocupa é o caminho que o seu partido leva. "E não são os pensadores que estão nessa Autonomia XXI a resolver nada. Vão resolver o quê, se sempre andaram dentro do partido a beneficiar dele, sem defeitos para apontar?! Agora acham tudo mal! Uma cobardia! Há 5 e 10 anos ninguém lhes viu nenhum espírito crítico."

Diz que lhe azeda a disposição ver os valentes que agora manifestam descontentamento com o líder do partido. "Não reconheço nenhum mérito a estes pensadores que de repente se tornaram rebeldes. Da minha parte, sempre fui irreverente. Mas resolvi os meus problemas. Ia falar com o presidente e resolvia-se tudo, com mais ou menos troca de ideias. Cheguei a levar questões da Jota, e outras, ao Dr. Alberto João... Ia lá hoje e amanhã o plenário do governo tratava de tudo. Estes nunca se manifestaram... e agora fazem isto. Julgam que estão a bater num leão moribundo."

"Com o flagelo do desemprego, andam a debater a co-adopção dos gays..."

Até por isto, Zé Pedro Pereira insiste em se afirmar jardinista. Se o ainda líder, por alguma razão, decidisse recandidatar-se nas próximas eleições internas, teria ali um apoiante incondicional. 

"Claro que faria campanha pelo Dr. Alberto João", esclarece Pedro Pereira. "Não é saudosismo, porque sou novo, mas penso assim. O PSD dividiu-se em tantas facções que o único dirigente capaz da reunificação é o Dr. Alberto João. Perante as fragilidades, só ele conseguiria juntar os cacos."

O deputado independente acredita num cenário que já parece utopia: se Jardim avançasse para eleições regionais com quadros renovados, venceria outra vez.

Mas, para isso, teria de haver 'limpeza' no partido. Naquilo que mais diz respeito a Zé Pedro, a Jota não poderia continuar como está: "ridícula". Em vez de iniciativas diárias, como quando o próprio Pedro era líder, hoje é o vazio. "Quando o grande problema da população, da juventude, é a gritante falta de emprego, os jovens social-democratas põem-se a debater a co-adopção nos casais gay! Não tenho nada contra as opções de cada um, mas neste caso... Ridículo!" 

Daqui a convicção de que tanto a JSD nacional como a JSD-Madeira são dominadas pelo lobby gay e pelo lobby da incompetência. "Por esta e por outras é que o PSD vai perdendo força, como se viu nas autárquicas", desabafa.

Tudo diferente do seu tempo de liderança, numa altura em que foi preciso lutar e intervir, mesmo com erros. "É melhor errar aos 25 anos do que aos 35", entende. "Nunca percebi o medo que esta juventude tem de errar. É que ninguém arrisca!" 

Nesse espírito, os jotas do tempo de Pedro juntaram os seus esforços aos do partido para uma grande batalha, as eleições de 2011. "Havia uma tremenda hostilidade para com a liderança do partido, tanto internamente como externamente", recorda Zé Pedro. "Tivemos de constituir uma task-force à volta do partido e do Dr. Alberto João. Estávamos numa altura em que o desemprego preocupava como nunca. Mas a JSD encarnou a renovação que o partido precisava de mostrar ao eleitorado. E ganhámos as eleições. Arranjaram-me depois muitos sarilhos, alguns ainda em tribunal, mas não interessa. O próprio Dr. Alberto João agradeceu em plena televisão o trabalho da Jota."

"Defeitos políticos ninguém me aponta, só vida privada"

É grato para o deputado independente, a quem Jardim pediu que não se desfiliasse do PSD, constatar que defeitos políticos ninguém lhe aponta. "É. Ninguém diz que não sei falar, que não tenho ideias, que apresento poucos projectos. Aí não me conseguem atacar. Então, dizem que tomei um copo aqui, namorei acolá, dancei além... É o que digo, talvez achassem melhor que eu gostasse de homens e bebesse água quando saio à noite."

Nem sequer aqui se distancia muito do líder, dizemos nós. E ainda bem, no caso. Pedro Pereira não hesita ao confirmar que, sim senhor, é jardinista. "Pois se desde que me conheço me revejo naquela linha! Não foi por interesse. Se o Dr. Alberto João quiser, claro que o apoio. E se ele caísse, caía com ele. Depois era questão de tornar a levantar-me. E mais, está ouvir? Eu dou a cara pelo que o jardinismo fez de bom, mas também dou a cara pelo que foi feito de mal. Não me escondo, como os cobardes estão a fazer agora."

Para que não fiquem dúvidas, fala das suas convicções partidárias inabaláveis: "Gosto demais do PSD. Gosto demais da Madeira. Nunca gostei tanto de uma mulher como gosto do PSD, da JSD e da Madeira!"

Daí não descansar enquanto não puser de pé o seu projecto Associação de Jovens da Madeira. Como as coisas vão, nada como uma estrutura com raízes em toda a Região, concelho a concelho, freguesia a freguesia, para quando for preciso entrar em acção.

Dado que Jardim possivelmente já não vai à luta interna em Dezembro, Zé Pedro acha dever preparar-se para uma guerra dura.

Será preciso rasgar caminhos que levem a novos sucessos social-democratas.

"Sim, porque não é com a geração de derrotados do Autonomia XXI que vamos lá", carrega Zé Pedro. 

Miguel de Sousa e Cunha e Silva - os preferidos

O momento não é de ficar a ver correr o marfim. Há que intervir, para bem do PSD e da Madeira - declara. 

Miguel Albuquerque? "Não me parece", diz Zé Pedro. "Não por ele, mas por quem está atrás. Diz-se que Jaime Ramos o apoia. Nesse caso..."

Quanto a Sérgio Marques, Pedro pensa como Jardim: é políticamante correcto, em demasia. Não é o que o PSD-Madeira precisa.

E Manuel António Correia, que foi indicado por Jardim? Nem esse. "Boa pessoa, mas sem faro político", analisa o jovem deputado. Com uma ressalva: entre Albuquerque, Sérgio e Manuel António, votaria neste último. Mas só nessas circunstâncias.

O antigo líder da Jota espera, isso sim, pelo lançamento dos seus Delfins preferidos: João Cunha e Silva e Miguel de Sousa.

"Miguel de Sousa nem sequer precisa de subir a presidente para ser uma voz política respeitada. Mas está muito bem preparado para liderar. Cunha e Silva também. É bom orador, tem visão política e perfil para dirigir o PSD e a Madeira."

Uma poderosa máquina paralela

O tempo urge e Zé Pedro não vai ficar nestas meias tintas. Quando se decidir, trabalhará pelo Delfim escolhido. "Tenho uma máquina paralela montada em toda a Madeira para trabalhar pelo partido. Sabe de uma coisa? Ainda hoje, é para mim que o Dr. Alberto João liga quando é preciso tratar de fazer uma mobilização. Não é para a JSD do Rómulo que ele liga."

São todas essas capacidades que, mais tarde ou mais cedo, andarão nos terrenos da sucessão. Em defesa de um dos candidatos. 

Também há quem diga que o apoio de Zé Pedro não será lá muito conveniente para o delfim apoiado... O jovem deputado ironiza: "Olhem que a corrida será longa."