O socialista Carlos Pereira produziu
uma intervenção esta manhã de quarta-feira na Assembleia Legislativa Regional
que deveria ser encarada como um alerta vermelho por quem detém
responsabilidades públicas nesta terra. O líder parlamentar traça um
diagnóstico assustador, mas real, da situação a que o regime levou 260 mil
madeirenses. Mas não se fica por aí. Apresenta também, sucintamente, as
soluções que o seu partido entende aplicáveis com vantagem em cada uma das
áreas atingidas pelo destruidor sismo social-democrata.
‘Fénix’ não pode deixar de levar aos
seus leitores a intervenção de Carlos Pereira. Que começa por uma referência à
situação vivida dentro do PPD-M, onde se generalizou a guerra pela sucessão. O
líder parlamentar sintetiza: “Os candidatos do PSD são todos da mesma espécie.”
O temível parlamentar do PS encalacrou mais uma vez a maioria laranja. |
CARLOS PEREIRA APONTA
AS 7 NÓDOAS DA
GOVERNAÇÃO
· O órgão da tirania JM agrava a dívida regional em 40 milhões de euros
· O buraco de 1100 milhões às escondidas
· Os famosos contratos Swap e os prejuízos de 170 milhões de euros
· O negócio ruinoso das famigeradas PPP’s regionais
· O polémico dossier da jornada de trabalho
· Despedimentos na Função Pública: mais de 800 mandados embora
· Os erros do governo nos limites do défice regional
Estamos perante um governo em farrapos. Já não se trata
sequer de uma manta de retalhos. O que temos a governar a Madeira é
mesmo pedaços de governo completamente esfrangalhados. Mas, para
piorar tudo isto, o partido que suporta o Governo Regional anda entretido
em alcançar o recorde do maior número de candidatos a uma
eleição partidária, num reboliço absurdo e num clima sinistro.
Acresce que os
ditos candidatos são todos da mesma espécie, da mesma origem, com os
mesmos vícios e responsabilidades. Sim, as responsabilidades do estado da
Região não é um produto exclusivo de Jardim. Tem origem nele, mas (foi) é
reproduzido por todos os que durante anos subscreveram os métodos e as
opções.
É por isto que
a solução do PSD-M é uma solução inquinada. É por isto que há nestas
eleições internas do partido da maioria um paradoxo insolúvel: as pessoas
que contribuíram para os resultados desastrosos da governação, seja por
omissão, seja com contributos directos, não estão em condições de
serem solução para a complexidade da crise económica, social e financeira
da Madeira. Precisamos de protagonistas diferentes desligados da
governação do passado.
Mas, apesar de
tudo, estas são eleições muito importantes para a Madeira. São importantes
para consolidar os princípios da mudança. Com a eleição do
líder do PSD-M, na data que o partido entender, o que para nós
é completamente indiferente, será eleito o líder da oposição e permitirá
que este partido importante para a democracia inicie o indispensável
processo de “cura na oposição” para limpar os vícios do passado.
Contudo, o
povo precisa de esperança e de soluções concretas. É dever da oposição,
sobretudo de uma oposição que quer governar, mostrar o que faria diferente
e como faria diferente. Mostrar porque valerá a pena mudar e
que transformações ocorrerão na vida das pessoas. Ora, a mudança que
os madeirenses exigem está implícita uma alteração de comportamento e de
atitudes. Parece evidente o desejo por uma governação mais tolerante,
menos arrogante, com respeito pelos adversários e com sentido democrático.
As 7 nódoas do jardinismo
Há mais a
fazer. Há questões concretas que gostaria de introduzir para demonstrar
que não é tudo igual, que não ficaria tudo na mesma. Por isso, gostaria de
apontar 7 nódoas de governação que conduzem ao descrédito e
revelam de
forma clara que temos um governo com defeito. Um governo que não defende
os interesses dos madeirenses.
O primeiro
exemplo é o Jornal da Madeira. E faço-o em primeiro lugar porque durante a
manhã de hoje (quarta-feira) a AR discutirá um diploma do PS para acabar com
a insólita situação deste órgão de comunicação social. Este jornal é mais
do que uma bagunça, é uma iniquidade e uma tirania. Na verdade sobre o JM,
posso sempre lembrar o que escreveu Shakespeare, que “até o diabo pode
citar as
escrituras
quando isso lhe convém”. Na verdade, o JM é um triplo problema político,
económico e financeiro. Do ponto de vista político, o JM é porventura o
mais evidente caso clássico de um jornal de propaganda típico de regimes
totalitários, com sentido persecutório e sem respeito pela pluralidade
informativa ou mesmo pela verdade informativa. E perante isto nem vale
muito a pena que os potenciais candidatos a líderes
do PSD-M em
colisão com Jardim ensaiem uma indignação repentina mas extemporânea. Na
verdade, quando o JM fez exactamente a mesma coisa com a oposição ou
sectores da sociedade que rejeitaram o 'status quo', não se ouviu qualquer
pio de indignação e repúdio.
Mas, como já
disse, o JM é também um problema económico. A sua existência nos moldes
conhecidos e a concorrência desleal que produz compromete seriamente o
mercado da comunicação social regional. Vende barato pagando tudo
com dinheiro fácil, retirado dos bolsos dos contribuintes.
Finalmente, o
JM é um problema financeiro grave que contribui para o buraco financeiro
da Madeira.
A dívida da
RAM decorrente dos suprimentos a este matutino já ascende a 40 milhões de
euros.
A segunda
questão foi o disparate da assunção, sem qualquer discussão, da dívida
oculta em mais de 1100 milhões de euros. Ainda não está demonstrado que
este valor, que corresponde a 20% do PIB e que agravou a dívida da RAM,
tenha sido
legitimamente acordado entre GR e fornecedores.
A existência
de um processo em curso, Cuba Libre, reforça esta dúvida e deveria obrigar
o GR a adiar a aceitação das facturas escondidas. Um governo PS-M não
assumiria esta dimensão da dívida e recorreria aos tribunais para defender
o povo madeirense.
Terceira
questão: na mesma linha de pensamento, encontram-se os contratos Swap. A
Madeira verificou prejuízos potenciais de 170 milhões de euros até meados
de 2013. Porventura o valor já é mais elevado. Este valor de prejuízos corresponde
a 3,4% do PIB da RAM enquanto os prejuízos no continente
ascendem a
3000 milhões, cerca de 1,7 % do PIB, metade da situação regional.
O PSD-M evitou
a fiscalização dos gestores (e não houve afastamentos), impediu a
responsabilização da tutela (como no plano nacional), não se
verificou qualquer negociação e, pior que tudo isto, o governo regional
está a assumir os custos sem garantir que não houve má fé e dolo dos
bancos. Um governo PS-M
actuaria em
prol do interesse regional e só pagaria o que os tribunais obrigassem a
pagar.
A quarta
questão são as famigeradas PPP’s regionais. É consensual que
foram negócios ruinosos. Pagamos demasiado pelo que recebemos em troca. Os
juros dos empréstimos entregues ao governo ascendem a 6% (na altura
praticava-se taxas de 1 e 2%); a manutenção associada aos contratos é
manifestamente exagerada, conforme o próprio Secretário Regional das
Finanças admitiu nas
audições da
comissão de inquérito pedida pelo PS-M e que se têm realizado à porta
fechada; a taxa de rentabilidade são bastante acima da média dos
negócios semelhantes. Perante tudo isto ninguém assume
responsabilidades.
A RAM
já pagou 900 milhões de euros e falta ainda pagar 1800 milhões. A questão
é: tendo em conta o enquadramento anterior, era possível ter pago muito
menos. Todos concordam que sim, mas todos fingem que nada disto merece
rectificação.
Entretanto, a
Via litoral e Via Expresso terão em 2013 um lucro acima dos 30 ME (20
Vialitoral e 10 Viaexpresso).
Já a maior
empresa pública da RAM, a EEM, fica-se pelos 2,4 milhões de lucro.
As mentiras do
Secretário das Finanças, um dos autores do problema, revelam que nada de
bom se passa neste sector e que há muito que as mudanças já deviam ter
acontecido.
A quinta
questão é o polémico dossier da jornada de trabalho. O GR afirmou várias
vezes que não estaria de acordo com a lei das 40 horas.
Contudo, publicou
uma resolução em que deixa tudo em aberto, introduzindo entropia, confusão
e sobretudo injustiça entre funcionários públicos. Metade da
função pública trabalha 35 horas e outra metade 40, sem critério
absolutamente nenhum. O PS-M já deu indicações às suas autarquias para
avançarem com a contratação colectiva de trabalho e garantirem o
funcionamento das 35 horas. Sem hesitações, porque esta lei não demonstra
aumentar a produtividade, baixa o
custo do
trabalho e representa um retrocesso civilizacional.
A sexta
questão foram os despedimentos na função pública. Até Setembro de 2013, o
GR tinha afastado mais de 800 funcionários públicos (4,5% do total, i.e.,
0,5 % acima do previsto no PAEF). Também aqui pensamos diferente.
A reestruturação da administração pública exige projecto. Exige
planeamento.
O PSD-M
começou pelo lado mais frágil sem resultados positivos em
sectores estratégicos como a educação e a saúde, bem pelo contrário.
A sétima
questão é a apatia do governo sobre os limites do défice regional.
O governo
Regional segue um caminho errado e muito mais exigente em termos de
consolidação do défice que a república. Admitir obter um superavit este
ano é exigir mais carga fiscal (aumentou 200 ME em 2013, mas o PIB caiu
400 ME!!!), reforçar a queda do investimento público e reduzir a despesa
de forma cega em
sectores
básicos. O PS-M defende moderação nos défices mas quer aumento da receita
fiscal pela via da dinamização da economia. Só assim se torna
sustentável a consolidação das contas.
Finalmente, a
oitava questão. O Governo Regional, ao mesmo tempo que estoirou as contas
regionais, também à socapa deu cabo do equilíbrio das contas das autarquias.
As autarquias do Funchal, Machico, Santa Cruz e Câmara de Lobos são donas
de 40% da Sociedade Metropolitana de Desenvolvimento. Isto significa que
são responsáveis solidários pela dívida de 200 milhões de euros, o que
perfaz um valor astronómico de 35 ME para o Funchal e 15 para cada uma das
restantes autarquias. Isto representa uma duplicação do endividamento.
Esta situação
tem de ser clarificada e torna-se indispensável uma solução urgente.
Carlos J. Pereira
1 comentário:
Quem o conhece é o novo sócio do Banif
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