Mezinha para o suplício do fogo irado

Carta aberta 

a Gil Canha

Caro companheiro, a minha mínúscula alma de Tolstoi convertido esforça-se por acreditar na Paz, desde que foste ameaçado por uma Miss Kampanáriu, numa investida, que melou o chão da Cidade, com baba espumosa, que ainda vaza dos queixos tão rancorosos quanto cintilantes, da ofegante besta. Rezam os rituais de Satã e os esmerados apêndices da férrea "Inquisição Espanhola", que a ameaça da vetusta concubina daquelas belas serranias, quando morde e ataca, é com mais virulência e pressão mortal, do que as mandíbulas daqueles carnívoros africanos matriarcais denominados de hienas. De facto, Gil, tu não poderias ter sido bafejado com maior desgraça, nessa sofrida altercação, que faz do nosso estimado ex-Grande Líder John Garden, um menino de coro de missal romano na mão, com opa vermelha, e rendilhadas meias da mais pura candura com sonoras harmónicas angelicais, cujo conjunto rivaliza com as pias virtudes do laborioso Criador, relatado no Livro do Génesis. Mal soube deste teu amaldiçoado infortúnio, fui rapar o estoque de anti-diarreicos como os gulosos do "bloom" histriónico, temendo a diluviana "chorricada", que estes distúrbios naturalmente provocam nalguns fragilizados metabolismos, pelo que, receio que as paletes que te enviei, não sejam suficientes, pelo menos até às eleições deste Outono. Recuso-me a acreditar que a enternecedora aldeia natalícia, dê lugar à pira das purificadoras labaredas prometidas à tua expiação em plena Praça do Município, como nos recintos medievais de pretéritos horrores fossilizados. Lembra-te que em 2014 ias sendo linchado naquelas imediações, e escapaste por pouco ao frenesim duma finória alcateia proletária, como o escorregadio personagem do Dr. Kimble representado pela sétima arte de Harrison Ford. Para já a querida Ti Manhosa da Gouve que é parca em palavras, mas com uma bonomia transbordante, e senhora duma eficiente alquimia acrimoniosa como bem sabes, ao ver um bando de aves necrófagas a esvoaçar em círculo, perseverantemente à espera dos teus despojos na tua Lombada, percebeu a cabala desenfreada que se soltou neste início do Ano da Graça de 2017. Assim, deixou-me hoje [há dias] à porta, um embrulho num cesto de vimes, recomendado a ti, com um quilo de farinha; um frasco dum líquido laranja gaseificado e ainda, uma garrafinha com um chá, oriundo duma fecunda madre-de-louro encontrada num misterioso segmento de caminho-real, que ela bem calcorreia em inenarráveis desfrutes dos "trails" da moda. Assim que eu possa, envio-te a mezinha caseira que me foi confiada, que estou certo, ser a chave para que te livrará do suplício do fogo irado, dessa "miss" encabrestada pelo nó negro do feitiço. «Domine miserere nobis»

Donato Macedo, deputado (quase tão) independente como tu