Albuquerque não é a solução, é o problema

Ao ler as declarações de Miguel Albuquerque sobre a remodelação do governo fiquei perplexo.

Pensava que já tinha visto o pior, mas descubro que, afinal, a sua inabilidade política ultrapassa tudo aquilo que já tinha observado nas remodelações anteriores.

Ingenuamente, Miguel Albuquerque confessa-se um adepto das remodelações contínuas porque “nós vamos sempre melhorando e mudando para melhor”¹. Só assim se compreende que, em apenas 2 anos, já só restem 3 dos 8 secretários do governo, sem contar com as mudanças em catadupa de diretores regionais, de presidentes de institutos e de empresas públicas. O SESARAM é um exemplo paradigmático da política de “mudar para melhor”.

Dando mais um tiro no pé, Miguel Albuquerque revela, ainda, “penso que neste momento estamos num novo ciclo. O ciclo de expansão, de crescimento, que exige, obviamente, um bom governo”. Com uma clamorosa inabilidade política, Miguel Albuquerque confessa que não tinha um bom governo para o novo ciclo. Acontece que já tinha remodelado o governo três vezes e, afinal, continuava a não ter um “bom governo”. No entanto, paradoxalmente, fez questão de “agradecer aos secretários cessantes pelo belíssimo trabalho que fizeram” ¹. Outro exemplo gritante de inabilidade política é a nomeação de Paula Cabaço. Quem não se lembra de ouvir Miguel Albuquerque criticar duramente Paula Cabaço acusando-a de estar a “dormir na forma e que nós vamos mudar” ², acabando por substitui-la em dezembro de 2016, para nomeá-la Secretária do Turismo e Cultura nove meses depois.

Contudo, nesta remodelação, a inabilidade política atinge o seu máximo esplendor com a nomeação de Pedro Calado para Vice-Presidente com as pastas das Finanças, Economia e Transportes e a delegação da sua competência de “coordenação política” do governo. Esta delegação de competências é um reconhecimento cabal da incapacidade política de Miguel Albuquerque, o qual, num ato de desespero, chama Pedro Calado e nomeia-o, de facto, Presidente do Governo Regional, sem que este seja submetido ao escrutínio eleitoral dos madeirenses.

Mas, o que mais me surpreende é o facto de Miguel Albuquerque não ter consciência de que assinou a sua sentença de morte política. Porquê? Porque a legitimidade de um líder é dada por aqueles que lidera. Por outras palavras, a legitimidade do líder pode mudar a cada momento, pois é dada pelos secretários. Neste contexto, aquilo que um bom líder faz “é conservar o seu espaço de poder e massacrar todo o liderado talentoso que possa tomar o seu lugar” ³. Basta entrar numa empresa para percebermos que o que pensa um líder de departamento é ocupar o lugar do Vice-Presidente e que “o que pensa o Vice-Presidente é ocupar o lugar do Presidente” ³. Na política não é diferente, como se comprova pelo “vale-tudo” a que assistimos nas guerras de poder nos dois maiores partidos regionais, pelo que Miguel Albuquerque entregou, conscientemente, todo o seu espaço de poder ao Vice- Presidente Pedro Calado, o qual nem precisará de se esforçar muito para ocupar o lugar do Presidente.

Assim, tudo isto só é compreensível se, num rasgo de lucidez, Miguel Albuquerque tiver concluído que já não é a solução, mas sim o problema. Neste caso, o novo ciclo será liderado, na prática, por Pedro Calado como Presidente em exercício com Miguel Albuquerque no papel de “Comunicador”.

A. Lima

PS: No primeiro ano, os novos secretários nomeados vão elaborar as orgânicas, conhecer os

dossiers e, entretanto, começa a campanha para as Regionais de 2019.

¹ Remodelação resulta da necessidade de melhoramos a eficácia do Governo

² Albuquerque praticamente demitiu a presidente do IVBAM

³ Liderança