Com um choque de geringonças previsto para 2019

'COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL'

DE MIGUEL ALBUQUERQUE 

CONTINUA A BARALHAR UM PEDAÇO

Falo por mim, porém tenho a certeza de que não serei o único burro a não entender aonde pretende chegar o presidente do governo regional com o esquisito tipo de  'comunicação' que passou a utilizar. Ele prometeu 'comunicação' melhorada, para responder à 'comunicação profissionalizada' dos adversários políticos. Mas ainda ontem, ao vê-lo arengar na TV sobre a remodelação, ainda por cima com uma carranca nada comunicativa, de fugir, fiquei sem perceber que comunicação é aquela, aplicada pelo chefe de um governo e de um partido político maioritário na Madeira durante 40 anos, contando ainda tal personalidade com a experiência de 'comunicar' durante muito tempo à frente da JSD - quando a Jota se fazia ouvir - e durante 20 anos na presidência da câmara do Funchal.

'Chover no molhado' é comunicar? Baralhar é comunicar? Debitar palavreado sem nexo é comunicar? Contradizer-se várias vezes na mesma conversa é...?

Albuquerque disse ontem aos microfones que assumia a responsabilidade pelas alterações que operou no governo. Novidade. Então quem é que ia assumir as mudanças que ele fez no governo?

Justificou: "A decisão insere-se na necessidade de melhorarmos a eficácia do governo ao nível governativo." Olha lá, e a gente a julgar que era para 'piorar a eficácia do governo'. Sr. presidente, por favor, melhorar a eficácia em quê, concretamente? 

Uf!

Miguel Albuquerque foi peremptório quando algum jornalista perguntou se a remodelação era admitir que existiam fragilidades no governo. Respondeu ele que não: "[A remodelação] Demonstra é a dinâmica do governo, porque é melhor as coisas mudarem para melhor do que não mudarem e a situação entrar em declínio. Agora será ao contrário: nós vamos sempre mudando e para melhor."

Entenderam alguma coisa, caros Leitores? Até aqui, a estratégia era mudar para pior? 

Esqueçamos a tirada filosófica de que "é melhor as coisas mudarem para melhor". Pode ser a infeliz corruptela de uma ideia de Karl Popper. Mas é confuso para as pessoas dizer-lhes taxativamente que as remodelações consubstanciam "a dinâmica do governo". Que tal uma remodelação de 3 em 3 meses, para manter a dinâmica sempre em alta?

Albuquerque relevou o sucesso nestes dois anos da resposta às exigências do PAEF, programa que obrigou a um resgate penoso, de facto. Mas, mesmo sem autonomia financeira por causa do garrote e com "dívidas assoberbantes para pagar", a Madeira pagou uma carga de milhões e mais milhões de dívidas, em medicamentos e no Sesaram em geral. "Essa recuperação foi feita", suspirou Albuquerque. E qual foi a consequência desse trabalho? Nem mais: secretário das Finanças obrigado a pôr-se ao fresco. 

Apesar de dois anos de retracção, diz ainda o novo Rei da Tabanca: "Conseguimos que a Região retomasse o seu crescimento económico e que o desemprego diminuísse substancialmente." Consequência dessa melhoria na economia: o secretário ficou sem a pasta e foi à vida.

Não se entende. Ou é da nova comunicação?

Nas declarações aos jornalistas, Albuquerque disse que decidiu "adaptar a estrutura organizativa do governo às necessidades da nova conjuntura". Mas a que conjuntura se refere? - pergunto na minha humilde ignorância, caso não seja mesmo iliteracia oral. Que adaptação foi feita na 'estrutura organizativa do governo' a não ser a novidade - essa sim relevante apesar de prevista - da entrada de Pedro Calado para vice? De resto, a 'estrutura organizativa' mudou funções de uma secretaria para outra, desta para aquela, daquela para a outra. Mas com pelouros iguaizinhos - distribuídos em função da saída dos secretários. Agora ex-governantes que não estiveram para aturar uma remodelação feita por fazer, para lançar uma nuvem de fumo sobre o desastre autárquico.

A propósito dos que saíram, Miguel Albuquerque, umas frases depois de afirmar que agora com as mexidas é que vai ser, deixou escapar um "trabalho belíssimo" atribuído aos mesmos governantes que saíram de cena. Deixar sair governantes que faziam um "trabalho belíssimo" é normal? Ou faz parte do novo estilo de comunicação? Uma palavrinha a quem trabalhou, muito bem. Mas cuidado com a 'comunicação'. Que superlativo acima de 'belíssimo' vai arranjar Miguel para comunicar quando falar dos sucessos que aí vêm? Até porque o presidente não acabou esta linda comunicação de ontem sem voltar à carga, deslustrando quem saiu: a nova situação exige "um bom governo". Não era o caso do anterior, portanto.

Voilá.

E ainda disse uma outra coisa antes de se ir embora, a propósito dos resultados autárquicos, para insistir em que não foi por causa deles que aconteceu remodelação. Tive de ir à gravação para perceber se ouvira bem. Ouvi. A reestruturação executiva deveu-se à circunstância de "estarmos a meio do mandato". Preparem-se pois os quadros que forem convidados para o governo em 2019, caso o PSD cometa a suprema proeza de vencer: mais de dois aninhos de 'carro preto' não pode ser para todos. A meio mandato, fora! Aliás, no mandato actual, houve secretários que não chegaram a conhecer as casas de banho todas da secretaria.

Na sua, Miguel teima que não vale a pena fazer drama da derrota em 1 de Outubro. Aliás, não foi derrota. Se foi derrota, também foi vitória, porque não há drama. Bom, para não ser eu a confundir, a palavra para Miguel Albuquerque na sua nova comunicação: "Se nós olharmos para o número de votos que o PSD teve, nós subimos. Portanto, não descemos. Evidentemente não ganhámos as eleições, não somos como aqueles que perdem e dizem que ganham. Mas não foi uma derrota dramática, da qual tirámos alguma conclusões políticas. Agora é preciso levar em linha de conta que estamos a meio do exercício do nosso mandato."

Em suma, senhores: olhando ao número de votos, subimos, logo não baixámos, então subimos mas não ganhámos, subimos mas não houve derrota dramática e tirámos conclusões de uma derrota que não houve, e se houve não foi dramática. 

Caramba, Miguel!

Da comunicação do chefe, tínhamos curiosidade em perceber quem vai mandar na política do governo. Porque nas funções de Calado há 'coordenação política'. Quem ditará as linhas basilares dos orçamentos? Quem dirá se vai mais dinheiro para o social, se para o cimento dos amigos, se a educação será reforçada, se as bandeiras governativas vão contemplar o Ambiente e a Cultura ou se a luta será pelo regresso da agricultura? Quem dará essas ordens? O presidente, em equipa com os seus secretários, ou será Calado a tratar pela sua cabeça das linhas políticas orientadoras para o futuro próximo, enquanto o presidente vai treinar comunicação na savana africana ou nas coutadas do Alentejo? A 'coordenação política' de Calado contempla também a política de relacionamento entre governos, de entendimentos com a oposição, de ligações ao exterior, diáspora incluída?

Se alguém já entendeu o que Miguel Albuquerque anda a comunicar, vou e venho.

Mas vou demorar a voltar. Os Leitores já se aperceberam, a partir da salada de movimentações para apoiar Cafôfo, e dos primeiros ameaços de uma esdrúxula AD cá na Tabanca - já se aperceberam do choque de geringonças que nos espera em 2019?