INSULTAR
Estimado leitor, vemos
muitos insultos aqui na internet. Vimos muitos comentadores da atualidade
política a serem injuriados sistematicamente e publicamente. Uma boa parte
deles a certa altura desistiu de intervir.
Este escrito é para
ajudar os insultados a racionalizarem a situação. Ao racionalizar a dor
provocada pelo insulto será menor, e o insultado poderá utilizar as críticas
para seu benefício e contra os seus detratores.
O insulto é uma ofensa
feita de propósito com insolência e desprezo. Esta ofensa tem tendência a
afetar o injuriado, tal como Cícero disse: “o insulto e a injúria têm certo
aguilhão que mesmo os homens prudentes e bons dificilmente podem suportar”.
Penso que a reação ao
insulto é do género “all-or-none”[i]: ou há
ausência de reação ou a reação é feita no máximo de sua força. Isto quer dizer
que um insulto, ou não aborrece ou aborrece muito, não existindo graduações de
reação intermédias.
Algumas das maneiras de
insultar são descritas por Schopenhauer:
· “(…)
é assombroso ver como se repugna de uma maneira infalível, e muitas vezes se
sente dolorosamente afetado por qualquer lesão de sua ambição, em qualquer
sentido, grau ou circunstância, e por todo desdém, por toda negligência, pela
menor falta de consideração.”
· “Revelar
intelecto e juízo é apenas um meio indireto de acusar os outros de incapacidade
e estupidez.”
· “Demonstrar
uma superioridade intelectual acentuada, sobretudo perante testemunhas, é uma
grande ousadia. Isso provoca sua vingança e, em geral, buscarão uma
oportunidade para fazê-lo por meio de insultos, porque assim passam do domínio
da inteligência ao da vontade, no qual todos são iguais.”
A maneira mais comum de
insultar é alegar que outros pensam negativamente sobre o alvo (exemplo:
“Tu és….”). Este tipo de ofensa resulta pois: “Em tudo que
fazemos ou deixamos de fazer, consideramos a opinião dos demais quase como
superior a tudo, e dessa preocupação vemos nascer, depois de um profundo exame,
quase a metade dos tormentos e das angústias que temos sentido.”
(Schopenhauer)
Alguns gostam muito de
insinuações no ar com utilização de palavras de teor pejorativo[ii] sem
identificar ninguém nem nenhuma situação específica, como por exemplo, a "maledicente
ignorância dos comentadeiros de ocasião e de costume que, na falta de melhor e
mais produtiva ocupação, entreter-se-ão, já de seguida, no seu exercício
estéril de dar às teclas[iii]"
e os “"fortes e corajosos" anónimos da blogosfera”.
Parece-me óbvio que
muitos dos insultos aos comentadores políticos que vemos na internet têm por
objetivo fazê-los calarem-se; para que a atividade política seja pertença de
uns quantos iluminados que poderão negociar entre si à vontade, não deixando
que ninguém mais se aproxime do “gamelão”. O insulto faz parte do arsenal da
retórica, tal como Schopenhauer declara:
“A vileza é uma
qualidade que, nas questões de honra, supera e suplanta qualquer outra. Se, por
exemplo, durante uma discussão ou um colóquio, outro demonstra um conhecimento
de causa mais exato, um amor mais rigoroso à verdade e um juízo mais sadio que
nós, ou uma superioridade intelectual qualquer que nos faça sombra, podemos
logo eliminar essa e qualquer outra superioridade, para não dizer nossa própria
inferioridade assim posta a nu, e por nossa vez sermos superiores, tornando-nos
vis: uma vileza prevalece e leva a melhor sobre qualquer argumento e, a não ser
que nosso adversário não replique com uma vileza ainda maior... somos nós os
vencedores, a honra fica conosco, e a verdade, o conhecimento, o espírito e o
engenho devem cair fora, derrotados e encurralados pela vileza.”
O que fazer se
insultado?
1- Pode
nada fazer ou desistir de publicar, pois outros estão a ouvir as injúrias e poderão
nelas acreditar. Basta lembrar que: “opiniões favoráveis de outrem, em todas
as formas, auxiliam-nos na obtenção de posses”.
2- Pode fazer como
Fábio Máximo: continuar para não se deixar manipular pelos insultadores.
Acusavam Fábio de ser medroso.
“Quando os amigos
contaram a Fábio estas notícias e o aconselharam a libertar-se destas afrontas
com uma empresa arriscada, ele respondeu: “Assim, certamente”, disse,
“parece-me que seria mais cobarde do que agora pareço se, por temer sarcasmos e
injúrias, deixasse cair a minha estratégia. Além disso, não é vergonhoso temer
pela pátria e não me parece digno de um homem de tamanho cargo deixar-se
influenciar pelas calúnias e censuras dos homens, mas antes próprio do escravo
que se submete aos insensatos, sobre os quais ele deve ser chefe e mestre”.
(Plutarco, Vidas Paralelas: Péricles e Fábio Máximo)
3- Pode apresentar
queixa-crime no Ministério Público… mas depois vai ter que gastar uns euros
para se constituir assistente e para isso é preciso ter um advogado[iv], que são mais uns
quantos euros.
4- Ser
ainda mais grosseiro. Pessoalmente não acredito muito nesta solução apresentada
por Schopenhauer:
"Se o adversário
foi grosseiro, você deve superá-lo exatamente nesse campo; se já não for
possível por meio dos insultos, poderá passar às vias de fato e encontrar,
precisamente neste campo, uma solução para salvar sua honra. As bofetadas são
reparadas pelas bengaladas, e estas pelas chicotadas.
Contra estas últimas
alguns recomendam, como excelente remédio, cuspir na cara. Só no caso em que
não seja mais possível valer-se a tempo de tais meios, deve-se recorrer
inevitavelmente a uma decisão sanguinária".
Eu, O
Santo
[i] Não
sou psicólogo. Esta teoria de acordo com Jung foi formulada por Rivers, e
estabelece que ou há ausência de reação ou há uma reação muito forte, não
existindo graduações intermédias.
[ii] Palavras
com teor pejorativo: “maledicente”, “ignorância”,”comentadeiro” (em vez de
comemtador), … Insinuações: desempregado, desocupado, ignorante, improdutivos,
…
[iii] Na
minha opinião, quem emite opiniões destas não é a favor da liberdade de
expressão. O que é que o leitor acha que o emitente desta opinião faria aos
“comentadeiros” se o pudesse fazer impunemente?
E, também sou muito sincero, acho muita piada aos
anónimos que apoiam quem faz este tipo de comentários.
2 comentários:
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teriam tido mais votos se nome do partido fosse Mudança Forte
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