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sexta-feira, 20 de outubro de 2017


INSULTAR

Estimado leitor, vemos muitos insultos aqui na internet. Vimos muitos comentadores da atualidade política a serem injuriados sistematicamente e publicamente. Uma boa parte deles a certa altura desistiu de intervir.
Este escrito é para ajudar os insultados a racionalizarem a situação. Ao racionalizar a dor provocada pelo insulto será menor, e o insultado poderá utilizar as críticas para seu benefício e contra os seus detratores.


O insulto é uma ofensa feita de propósito com insolência e desprezo. Esta ofensa tem tendência a afetar o injuriado, tal como Cícero disse: “o insulto e a injúria têm certo aguilhão que mesmo os homens prudentes e bons dificilmente podem suportar”.
Penso que a reação ao insulto é do género “all-or-none[i]: ou há ausência de reação ou a reação é feita no máximo de sua força. Isto quer dizer que um insulto, ou não aborrece ou aborrece muito, não existindo graduações de reação intermédias.

Algumas das maneiras de insultar são descritas por Schopenhauer:
·         “(…) é assombroso ver como se repugna de uma maneira infalível, e muitas vezes se sente dolorosamente afetado por qualquer lesão de sua ambição, em qualquer sentido, grau ou circunstância, e por todo desdém, por toda negligência, pela menor falta de consideração.”
·         “Revelar intelecto e juízo é apenas um meio indireto de acusar os outros de incapacidade e estupidez.”
·         “Demonstrar uma superioridade intelectual acentuada, sobretudo perante testemunhas, é uma grande ousadia. Isso provoca sua vingança e, em geral, buscarão uma oportunidade para fazê-lo por meio de insultos, porque assim passam do domínio da inteligência ao da vontade, no qual todos são iguais.”
A maneira mais comum de insultar é alegar que outros pensam negativamente sobre o alvo (exemplo: “Tu és….”). Este tipo de ofensa resulta pois: “Em tudo que fazemos ou deixamos de fazer, consideramos a opinião dos demais quase como superior a tudo, e dessa preocupação vemos nascer, depois de um profundo exame, quase a metade dos tormentos e das angústias que temos sentido.” (Schopenhauer)
Alguns gostam muito de insinuações no ar com utilização de palavras de teor pejorativo[ii] sem identificar ninguém nem nenhuma situação específica, como por exemplo, a "maledicente ignorância dos comentadeiros de ocasião e de costume que, na falta de melhor e mais produtiva ocupação, entreter-se-ão, já de seguida, no seu exercício estéril de dar às teclas[iii]" e os “"fortes e corajosos" anónimos da blogosfera”.

Parece-me óbvio que muitos dos insultos aos comentadores políticos que vemos na internet têm por objetivo fazê-los calarem-se; para que a atividade política seja pertença de uns quantos iluminados que poderão negociar entre si à vontade, não deixando que ninguém mais se aproxime do “gamelão”. O insulto faz parte do arsenal da retórica, tal como Schopenhauer declara:
“A vileza é uma qualidade que, nas questões de honra, supera e suplanta qualquer outra. Se, por exemplo, durante uma discussão ou um colóquio, outro demonstra um conhecimento de causa mais exato, um amor mais rigoroso à verdade e um juízo mais sadio que nós, ou uma superioridade intelectual qualquer que nos faça sombra, podemos logo eliminar essa e qualquer outra superioridade, para não dizer nossa própria inferioridade assim posta a nu, e por nossa vez sermos superiores, tornando-nos vis: uma vileza prevalece e leva a melhor sobre qualquer argumento e, a não ser que nosso adversário não replique com uma vileza ainda maior... somos nós os vencedores, a honra fica conosco, e a verdade, o conhecimento, o espírito e o engenho devem cair fora, derrotados e encurralados pela vileza.”

O que fazer se insultado?
1-        Pode nada fazer ou desistir de publicar, pois outros estão a ouvir as injúrias e poderão nelas acreditar. Basta lembrar que: “opiniões favoráveis de outrem, em todas as formas, auxiliam-nos na obtenção de posses”.
2-      Pode fazer como Fábio Máximo: continuar para não se deixar manipular pelos insultadores. Acusavam Fábio de ser medroso.
Quando os amigos contaram a Fábio estas notícias e o aconselharam a libertar-se destas afrontas com uma empresa arriscada, ele respondeu: “Assim, certamente”, disse, “parece-me que seria mais cobarde do que agora pareço se, por temer sarcasmos e injúrias, deixasse cair a minha estratégia. Além disso, não é vergonhoso temer pela pátria e não me parece digno de um homem de tamanho cargo deixar-se influenciar pelas calúnias e censuras dos homens, mas antes próprio do escravo que se submete aos insensatos, sobre os quais ele deve ser chefe e mestre”. (Plutarco, Vidas Paralelas: Péricles e Fábio Máximo)
3-      Pode apresentar queixa-crime no Ministério Público… mas depois vai ter que gastar uns euros para se constituir assistente e para isso é preciso ter um advogado[iv], que são mais uns quantos euros.
4-        Ser ainda mais grosseiro. Pessoalmente não acredito muito nesta solução apresentada por Schopenhauer:
"Se o adversário foi grosseiro, você deve superá-lo exatamente nesse campo; se já não for possível por meio dos insultos, poderá passar às vias de fato e encontrar, precisamente neste campo, uma solução para salvar sua honra. As bofetadas são reparadas pelas bengaladas, e estas pelas chicotadas.
Contra estas últimas alguns recomendam, como excelente remédio, cuspir na cara. Só no caso em que não seja mais possível valer-se a tempo de tais meios, deve-se recorrer inevitavelmente a uma decisão sanguinária".

Eu, O Santo





[i] Não sou psicólogo. Esta teoria de acordo com Jung foi formulada por Rivers, e estabelece que ou há ausência de reação ou há uma reação muito forte, não existindo graduações intermédias.
[ii] Palavras com teor pejorativo: “maledicente”, “ignorância”,”comentadeiro” (em vez de comemtador), … Insinuações: desempregado, desocupado, ignorante, improdutivos, …
[iii] Na minha opinião, quem emite opiniões destas não é a favor da liberdade de expressão. O que é que o leitor acha que o emitente desta opinião faria aos “comentadeiros” se o pudesse fazer impunemente?
E, também sou muito sincero, acho muita piada aos anónimos que apoiam quem faz este tipo de comentários.
[iv] Voltarei ao tema da necessidade de advogado daqui a uns tempos. 

2 comentários:

Anónimo disse...

Também pode-se deixar de assinar os comentários para evitar que a nossa presença identificada deixe de servir como pretexto para atacarem os nossos familiares com exposição política.

Anónimo disse...

teriam tido mais votos se nome do partido fosse Mudança Forte