OPINIÃO

DIONÍSIO ANDRADE                                                                              

Liberdade amordaçada

Mário Soares, antigo Presidente da República, antigo Primeiro-ministro, e antigo líder do partido socialista, pai da democracia portuguesa e principal impulsionador da entrada de Portugal na CEE, em 1985, era um homem sem medo, que lutou contra a ditadura fascista, tendo sido preso várias vezes pela PIDE, polícia política de Salazar, e tendo sido deportado para São Tomé e Príncipe, e depois exilado em Paris antes da revolução de abril de 1974.

Mas, Mário Soares tinha medo de uma coisa - que o poder económico tomasse conta do poder político.

E, infelizmente, é o que se verifica neste momento na Madeira. PSD, PS e CDS estão nos bolsos dos Donos Disto Tudo, a saber Luís Miguel de Sousa, Avelino Farinha, Dionísio Pestana e Jaime Ramos.

Eu já não tinha muitas dúvidas do que se estava a passar nos últimos anos na comunicação social na região em termos de liberdade de imprensa, e o cerco que os poderosos que enriqueceram à custa da autonomia, devido aos privilégios que tiveram do jardinismo, dariam o golpe à liberdade de imprensa na região com a compra dos dois jornais diários, condicionando o que lá se escrevia. 

Veja-se o posicionamento do Diário de Notícias que antes anunciava que havia roubo de pedras nas ribeiras, e que depois de Avelino Farinha entrar no capital social da empresa, já não havia roubo de pedras, mas sim limpeza das ribeiras. Em relação ao monopólio dos portos da Madeira, antes havia privilégio ao grupo Sousa, agora é um pagamento pela exploração dos portos da Madeira e Porto Santo. E as minhas previsões sobre o futuro da comunicação social na Madeira ficaram desvanecidas esta semana, quando soube do despedimento de três jornalistas da TSF/Madeira, Nicolau Fernandes, Isabel Vieira e António Ferreira, com a desculpa esfarrapada de ser por questões económicas. Mas o que é dezenas de milhares de euros, para empresários que ganham milhões com a proteção política que têm tido do poder político do PSD, nos últimos 40 anos, e presentemente, com a conivência do CDS e PS?

O objetivo é calar jornalistas incómodos para o regime político e para o poder económico. Espero que o Sindicato dos Jornalistas esteja à altura deste acto cobarde dos poderosos, e denuncie em todas as instâncias nacionais e internacionais esta incongruência de uma rádio de informação trabalhar sem jornalistas, o que é ilegal perante a lei da rádio, e o estatuto do jornalista. O Governo Regional também deveria suspender os apoios a estas empresas de comunicação social que tratam os jornalistas como lixo. Mas conhecendo o histórico dos governantes na Madeira que chamavam os jornalistas de bastardos para não lhes chamar filhos da puta, e escorraçavam jornalistas das suas sedes partidárias e da residência oficial na Quinta Vigia, não espero muita coisa em termos de liberdade de imprensa. Numa democracia, a liberdade de imprensa é um dos seus pilares fundamentais, mas como vivemos numa oligarquia na região, não espero muito dessa liberdade enquanto os eleitores não escorraçarem os coveiros dessa liberdade amordaçada.