OPINIÃO
GIL CANHA
As irritantes moscas-varejeiras I
Os senhores leitores já passaram muitas vezes por esta experiência irritante de ouvir o matraquear desesperado de uma mosca varejeira embatendo no vidro da sala. Como o pobre inseto não consegue vislumbrar o vidro, vai batendo teimosamente no obstáculo até cair de exaustão.
E a propósito deste fenómeno acasmurrado, mas perfeitamente compreensível, este fim-de-semana um amigo ligou-me e disse-me:
- Gil, vê o último programa ´Interesse Público´ da RTP/Madeira, sobre a pavimentação do caminho das Ginjas, e vais ver a lavagem que os ambientalistas deram em cima do Presidente da Câmara de São Vicente, até meteu dó!
Curioso, abri a televisão, e depois de premir botões para a frente, botões para trás, lá descobri o programa. Reparei que lá estavam representantes de várias associações ambientalistas que, com argumentos e factos consistentes, desmontaram completamente a ideia estapafúrdia e ridícula do governo e da autarquia de abrirem mais uma ´ferida´ na nossa bela Laurissilva. E de vez em quando e sem nunca olhar de frente para a câmara, vi o sr. Presidente da autarquia vicentina, meio embaraçado, a tocar irritantemente na mesma tecla: - A população quer… não é gente de fora que vai mandar no nosso concelho… a população quer… não é gente de fora que vai mandar no nosso concelho… - e um gajo sentado no sofá a ver aquela aflição e aquela teimosia saloia começa a se passar, começa a sentir que tem uma espécie de varejeira irritante a lhe moer a paciência, e só lhe apetece berrar para o ecrã: - Porra, abram a janela para ver se essa mosca cor verde metálica ganha asas para a liberdade!
Tenham piedade do bicho! Olhem como ela está a sofrer!
O Caso do Fanal
Existe um bando de matarruanos meio asselvajados que, sempre que se fala da pavimentação da Estrada das Gingas, vão buscar o famigerado exemplo da Estrada do Fanal. Ora, o asfaltamento da Estrada do Fanal foi um dos maiores atentados ambientais que se cometeram nesta terra.
O alargamento e pavimentação da estrada derrubou centenas de tis centenários cujas ramagens se cruzavam e formavam verdadeiras galerias verdejantes ao longo do caminho. (Junto da velha casa da guarda, outrora construída em madeira, e em quase todo o trajeto da antiga estrada de terra batida até às proximidades da Ribeira da Janela).
O denominado Chão do Fanal era atapetado de relva fofa, e só no início da Primavera é que alguns criadores de vacas se davam ao trabalho de trazer o gado para serra, porque no rigor do inverno, o pasto não tinha capacidade nutritiva nem calórica para manter o gado bovino em condições. Com a melhoria da acessibilidade, começou a ser altamente lucrativo criar gado subsidiado para produzir carne, e agora, com uma simples carrinha leva-se rapidamente ração para a serra permitindo que o gado se mantenha lá todo o ano. A pressão dos bovinos provocou (e está a provocar) a morte lenta dos velhos e centenários tis do Chão do Fanal, e nas cercanias, a vacaria tem aberto verdadeiros corredores pela Laurissilva adentro, destruindo espécies vegetais características desta floresta, que, como é de conhecimento publico, é um verdadeiro ´fóssil´ vivo e raro no Mundo.
Um local outrora paradisíaco, presentemente está salpicado de bosta, de parasitas do gado, de espetos de tis agonizantes, de restos de comidas e rações (alimentam ratos que são altamente prejudiciais à avifauna autóctone) e em vez dum local de contemplação da natureza transformou-se num ponto de passagem motorizado e ruidoso; e se, no passado, os turistas desciam desde o Paul da Serra a pé até à Ribeira da Janela, e lá esperavam pelos autocarros nos cafés e restaurantes, hoje passam a correr e nem param nem consomem nada. Em resultado disso, a freguesia sofreu a maior desertificação populacional da costa norte, e quem hoje passa por lá só encontra meia dúzia de idosos melancólicos. Uma tristeza de partir o coração.
No passado, os solos da Serra do Fanal não estavam impermeabilizados, e as águas das chuvas introduziam-se lentamente no solo, alimentando nascentes e cursos de água.
Com a impermeabilização de milhares de hectares de solo com asfalto, as águas agora correm rapidamente em direção ao mar, fenómeno que a atual Secretária do Ambiente sabe muito melhor explicar do que eu. Finalmente, existe um dado preocupante (muito pior que a introdução de infestantes e de outras espécies exóticas) que é a pressão humana em determinados percursos turísticos a pé-posto.
Recentemente (antes da atual pandemia), locais como o Ribeiro Frio, Rabaçal, Queimadas, e muitas levadas da ilha começaram a sofrer problemas de excesso de caminhantes, e até há guias turísticos que relatam casos de conflitos entre turistas por direitos de passagem em locais apertados ou em certos pontos mais emblemáticos, onde existem maiores ajuntamentos. Uma forma estratégica de ´descomprimir´ e ´descompactar´ este crescente problema de pressão humana é preservar e criar mais caminhos a pé-posto, e não destruí-los, como se fez com a Estrada do Fanal e querem fazer agora com as Ginjas.
Infelizmente, e apesar dos avisos dos técnicos e ambientalistas para situações que não se vêem ao primeiro olhar e muitas delas ocultas aos nossos sentidos, vamos continuar a ver e a escutar o irritante embate teimoso e suicida destas moscas varejeiras contra os vidros da nossa martirizada casa comum.
P.S. Continua (a Frente-mar de São Vicente)
19 comentários:
Abaixo a estrada das Ginjas. Barreto é um catavento!
Claro que é verdade. O presidente da câmara tem razão.
Os ambientalistas de bancada que metam a viola no saco.
Numa terreola africana com mais matarruanos e brogessos por metro quadrado da europa e áfrica, é natural que apareçam cada vez mais moscas varejentas (como dizem os indígenas) em postos de decisão. E temos que apanhar com este irritante analfabetismo ambinetal. E como diz o povo a ignorância é atrevida.
A varejenta já respondeu, continua a dar cabeças na janela
Vão destruir a ilha estes selvagens! TERRA DE SELVAGENS!
Para mim, o mais grave é a secretária regional do Ambiente ter estudos científicos para condenar aquele atentado ambiental, na estrada das ginjas, e estar calada como um rato, e de uma forma cobarde fugir ao debate.
Sobre este tema, não opino
Deixarei para os homens e mulheres entendidos na matéria e de cátedra e para a nossa coronélia especialista em gaguejanço
Uma coisa é certa:
-os Vicentinos burros não são.
Se o Sr. Alcaide das ginjas e arredores no próximo verão andar atrás do emproado e arrogante ambrósio das angústias de bandeirinha laranja na mão, que conte com uma realidade que os "unidos por S. Vicente" vão mandá-lo para o C...Caramujo
Tanto a secretária, como o presidente do IFCN andam caladinhos.
Já se questionaram o porquê da estrada estar inscrita na rubrica da Sec. da Agricultura? Terá sido com medo do que diria a Secretária do Ambiente? Ou terá sido por recusa dela?
Se tivessem coluna vertebral (e esta é para o Tó Filipe, que não tem muito tempo, escreveu no diário sobre malta que não tinha coluna vertebral e se avergava aos poderes instalados), já tinham saído. Está nas mãos deles defender isto. Se eles batessem o pé, conhecedores da matéria, com factos (e não opiniões, como dizia o tonto do presidente da CMSV), MA provavelmente voltaria atrás. Eles podem abrir uma ferida no governo. Terão coragem? Coluna? Defenderão mesmo o Ambiente?
O Barrete ainda é contra a estrada ou já virou a casaca?
Canha rebenta com o Caldeira ele escreveu um artigo meio tonto no Diário do Sousa. Rebenta com ele!............
Sr. Gil deixe essas moscas da m**** baterem com os cornos no vidro para aprenderem.
Na Finlândia, país de matarruanos inimigos do desenvolvimento e com um povo atrasadíssimo, há estradas de terra não só nas florestas, como até a ligar vilas e aldeias e até cidades.
Claro que eles lá são atrasadíssimos, nada avançados se em comparação com o povo superior da Madeira. Os governantes deles são burros que nem portas, se comparados com os nossos renovadinhos governantes. Vejam lá que eles são tão estúpidos que até vão de autocarro ou bicicleta para os ministérios, em vez de ir de automóvel com motorista como muito bem fazem os nossos presidente e secretários.
Que imbecis aqueles finlandeses. Eles até arranjam as estradas de terra em vez de asfaltá-las. Que atrasados. Até dão vontade de rir.
Estes agachados e incompetentes do Governo o que estão à espera de porem N caterpilares nas encostas do Paúl da Serra e noutros locais a arrancarem pela raiz as giestas e carequeija antes da floração?
Senhor Gil, está no seu pleno direito em dizer o que quiser, mas também seja correto e diga a verdade. MILHARES de hectares asfaltados? Onde? Mesmo assumindo uma via de 10km com 6m de largura (que não chega a ter)falamos de 6 hectares de asfaltamento. Acha mesmo que 6 hectares ou 0,06km2, tem algum impacto na infiltração e escoamento de uma área superior a 3 km2 como é o planalto do Fanal? O mesmo nas Ginjas. Uma estrada de 9km com uma largura de 5m, terá um asfaltamento de 5 hectares ou seja, 0,05km2, numa encosta com muitos km2 de área... Este argumento é cómico.
Tis? Na berma da antiga estrada de terra do Fanal? A fazer galeria verdejante? Falamos do mesmo sítio? Quanto muito urzes molares. Ou confundiu-os com eucaliptos?
Que seja contra a pavimentação da estrada, compreendo. Até eu sou, mas por achar que é dinheiro gasto desnecessariamente e sem retorno, e que seria muito mais útil noutras coisas, ainda para mais em tempo de crise. Mas não minta, nem atire areia para os olhos dos outros para defender as suas posições. Seja honesto, até porque argumentos bem fundamentados não lhe faltam.
O meu familiar Branco Camacho e mais eu ficamos a dormir nessa casinha de madeira no Chão do Fanal em finais dos anos sessenta. O Gil que é filho dum grande amigo meu fez me lembrar belos tempos, aquilo era mais bonito e tinha ramos grossos de tiles que passavam a estrada de um lado a outro e a velha estrada de terra batida passava acima da lagoa, eles abriram a estrada grande e aterraram parte da lagoa que ainda está lá, uma vergonha que aquilo é uma cratera. Uma selvajaria.
17:18
Lá diz o povo na sua milenar sabedoria que é mais fácil apanhar um mentiroso, do que um coxo. Então se é contra a pavimentação da estrada, vem com os argumentos todos de que é uma pequena área que vai ser pavimentada em relação à área envolvente, e isso já é aceitável? Não bate a bota com a perdigota. Se é contra não pode vir defender o seu contrário!
Não meu caro das 07:37! Não se engane, ou não confunda os argumentos de forma propositada. Eu sou contra (aliás deveria ter escrito anteriormente que não concordo, os sentidos são ligeiramente diferentes), por que acho que é dinheiro a ser gasto de forma não prioritária e que seria mais útil para coisas muito mais produtivas. Tecnicamente, os impactos na floresta já foram feitos aquando da abertura da(s) estrada(s). Na ausência de intenção de fechar os caminhos, limpar as invasoras e regenerar a floresta destruída aquando da abertura, a pavimentação é o menor dos males para caminhos florestais abandonados. Como vê não extremo posições e não sou contra apenas por que sim, para fazer pirraça ou porque o promotor não é do meu partido e eu odeio quem está no Governo.
A questão aqui é que, o argumento da impermeabilização é um não argumento, facilmente desmontável e que não aquece nem arrefece na avaliação do impacto de uma estrutura destas. Quis apenas alertar o sr. Gil para a incongruência de dizer que foram asfaltados milhares de hectares quando, na realidade nem chegaram a 10... É porque depois, o ónus do descrédito cai sobre quem profere essas afirmações, utilizando argumentos perfeitamente terciários, levando a que se eclipsem os bons argumentos que podem ser utilizados. Fiz-me entender?
Canha não ligues aos falinhas mansas do 09:33. Esses gajos são assim para branquear a m****tipo Domingos e demais.
Moscas destas existem aos montes na Mamadeira
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