Luta pelo poder na Praça Amarela

Victor Freitas ensaia regresso

à liderança do PS-M

O projecto visa levar os socialistas à Quinta das Angústias em 2019 com Paulo Cafôfo à cabeça da lista, o que passa por derrotar Carlos Pereira no próximo congresso

A agenda político-partidária de Victor Freitas tem como primeira prioridade a reconquista da liderança do PS-M. Militantes e até dirigentes actuais já receberam sinais claros do próprio antigo presidente: Carlos Pereira é para derrubar no próximo congresso de modo a possibilitar o arranque vitorioso dos socialistas rumo a 2019, com Paulo Cafôfo indicado para presidente do governo regional. 

A questão da data do congresso será ventilada na reunião da comissão regional a realizar de hoje a oito, dia 13. Portanto, na sequência das reuniões do Secretariado, hoje, e da comissão política, segunda-feira, em que serão abordados os resultados eleitorais do dia 1. A convocatória para o dia 13, assinada pelo presidente da comissão regional, Gil França, além dessa análise aos resultados, dedica o último ponto à análise da situação política do partido, a que não escapará a questão do congresso.

Carlos Pereira, presidente actual, começou a revelar logo na noite eleitoral a sua satisfação, presumivelmente táctica, por resultados que muitos socialistas consideram dolorosamente negativos. O que dá razão à mobilização a favor de uma mudança no partido e a um projecto vencedor para 2019.

O plano é aquele de que já se falava: PS a concorrer às legislativas com um líder disposto a indicar Paulo Cafôfo como candidato às Angústias. 

A fórmula jamais funcionaria com Carlos Pereira, cujo objectivo é apresentar-se ele mesmo como candidato a presidente do governo. Mas a mesma fórmula teria pés para andar com Victor Freitas, estratego partidário competente como poucos, na liderança do partido. Depois do erro cometido em 2015, ao impor-se como candidato a chefe de executivo regional, Victor tem revelado que aprendeu a lição. Tendo sido o 'descobridor' de Cafôfo em 2013, reconhece neste novo político, detentor de duas vitórias na capital, o trunfo para o desafio final de desalojar o PSD-Madeira do poder que ocupa desde 1976.  

O projecto na forja é um rolo compressor a que Carlos Pereira dificilmente escapará. Depois de prolongada ausência em S. Bento, o actual chefe nem sequer foi protagonista durante a pré e a campanha eleitoral. Limitou-se a umas presenças descoloridas em acções de rua ou comícios. Com uma agravante: no Funchal, quase não foi visto ao lado de Cafôfo, obviamente por táctica do autarca, na linha do que tem feito desde Setembro de 2013. 

Não estamos a ver Carlos Pereira, apesar de ser indiscutivelmente o elemento mais competente do partido, técnica que não politicamente, não estamos a vê-lo hoje em dia com o domínio do PS-M. Ao que se diz, o actual líder, que sempre se disse interessado em chegar a 2019 em condições de liderar o projecto eleitoral, tenciona, caso vença o congresso, substituir Jaime Leandro do cargo de secretário-geral do partido, substituindo-o por um nome-surpresa. Desconhecemos os motivos para tal mudança, já comentada em Lisboa. Mas a simples cosmética não lhe resolverá o problema.

Do outro lado, levanta-se o movimento que trabalha como se Carlos Pereira não existisse. O ás de trunfo da nova-velha vaga chama-se Paulo Cafôfo, que conta com um vasto leque de apoiantes nas autarquias do Funchal. Há depois presidentes de câmara da mesma linha como Emanuel Câmara, Célia Pessegueiro e possivelmente Ricardo Franco. Também a vasta experiência e a sabedoria estratégica de Victor Freitas, única no Partido Socialista. Com Cafôfo, os grandes empresários farão o que puderem pela candidatura. E, como se tudo isto fosse pouco, a onda que se prepara para inundar o PS-M e o governo regional conta ainda com o mais do que decisivo empurrão de António Costa, do seu governo central e do Partido Socialista nacional, que em 2019 estará no topo das sondagens e em condições de oferecer bacalhau a pataco e o céu na Terra tanto no Continente como nas Ilhas. Nessa altura, Costa  também estará a disputar novo mandato governamental para o PS, talvez sem necessidade de recurso à Geringonça. 

Há uma pequena corrente na chamada área socialista regional que aponta para chefiar o PS, no pós-Carlos Pereira, o actual presidente da junta de freguesia de São Martinho, também com a missão de permitir a candidatura de Cafôfo em 2019. Duarte Caldeira representa uma família que integrou o socialismo caviar derrotado nos tempos do jardinismo, pelo que esta solução poderia permitir a 'vingança' da mesma corrente, aliás já com alguns elementos incrustados na máquina municipal cafofiana.

Mas quem vai decidir tudo é Paulo cafôfo, que tem de jogar pelo seguro na medida em que, como se sabe, quem perde o comboio raramente consegue apanhá-lo mais adiante.