Ninguém pode com o Cafôfo!

Mayor invoca a 'morte do porco'

para não ir à comissão parlamentar

Depois de várias evasivas para escapar ao interrogatório parlamentar sobre as suas alegadas responsabilidades na morte de 13 pessoas no Monte, o Xerife dos Mossos já estuda mais desculpas para o caso de continuarem a chateá-lo da Assembleia para cima

Do mar à serra, Cafôfo!

Se o pedido de audição ao Mayor do Funchal apresentado nos inícios de Setembro pelo deputado independente Gil Canha invocasse uma 'comissão de inquérito parlamentar', Cafôfo já se tinha sentado para responder aos deputados. A não ser que preferisse meter-se em embrulhadas jurídicas. Como o assunto foi remetido para ser tratado por uma simples 'comissão parlamentar' - a 5.ª Especializada, Saúde e Assuntos Sociais -, o visado dá-se ao luxo de desrespeitar o principal órgão da nossa Autonomia, brincando às desculpas para 'fintar' quem propôs a audição e os outros deputados da Região.

Primeiro, foi o próprio Parlamento a protelar a marcação do 'interrogatório', com a explicação lógica de que havia eleições a 1 de Outubro.

Quando se aproximou a data entretanto marcada, Cafôfo alegou dificuldades de agenda oficial. Adiado.

A pedido parlamentar, Cafôfo indicou depois os dias em que lhe seria possível corresponder ao pedido de audição.

A data foi escolhida e comunicada ao interessado.

Mas Cafôfo mais uma vez fugiu, anunciando que precisava de se deslocar a Barcelona.

Perante o sequente assédio, o presidente da Câmara do Funchal avisa arrogantemente que não vai comparecer à audição, por considerar, lá na sua cabeça, que a convocatória não apresenta "fundamento e fim específico" que justifiquem uma 'audição urgente'. Ponto!

O texto do deputado independente a fundamentar a audição referia: "Este trágico acidente que ceifou a vida a estes nossos [13] cidadãos e que causou um incomensurável sofrimento às suas famílias teve repercussões não só a nível nacional, mas também a nível europeu e internacional. Também é do conhecimento público que existem várias versões sobre a(s) causa(s) desta catástrofe como existem vários documentos agora tornados públicos em que se alega que a autarquia do Funchal (concelho onde se deu a tragédia) teria sido avisada/informada atempadamente sobre o estado periclitante do parque arbóreo do local onde se deu este trágico evento."

Mas Paulo Cafôfo decide que nestes dados reais não encontra "qualquer fundamento ou fim específico". Está decidido, ele é que sabe.

O pedido de audição fala também do "grande alarme e preocupação pública em toda a Região com consequentes reflexos no nosso quotidiano, na nossa economia e no nosso turismo". Que ideia! Paulo Cafôfo resolve que não vê nada que imponha "depoimento parlamentar urgente".

Pronto, está decidido. O homem foi eleito por maioria absoluta para a regedoria funchalense e agora quem é que pode com ele?

Logo no dia 15 de Agosto, com os cadáveres ainda a ser transportados do Monte para a morgue, o Mayor falava calma e friamente à comunicação social a respeito da sua inocência na tragédia. Atenção que era um carvalho e não um eucalipto, disse ele, acrescentando, muito senhor de si, que os avisos de perigo falavam de eucaliptos e não de carvalhos. 

Nessas primeiras horas de desgosto e sofrimento geral, o homem garantia que o arvoredo no Monte estava todo visto e revisto, sem apresentar problema nenhum. Não se percebendo como caiu uma árvore - eucalipto ou carvalho - nem se percebendo por que cargas de água o edil mandou abater arvoredo em série nos dias e semanas seguintes, tanto no Monte como no Funchal inteiro.

Há gente que protesta. Que proteste! Ninguém pode com o Cafôfo!

Com a tragédia quente, ele mandou as suas brigadas ao Largo da Fonte fossar nos restos do crime, sem se preocupar com PJ nem MP. E por lá continuou uns dias bons, até que o incrível chefe do MP, outro que tal, percebeu que tinha qualquer coisa para fazer lá em cima.

Por esses dias, Cafôfo mandou vir técnicos do Continente e como que ordenou ao chefe dos procuradores da República que aguardasse pelas conclusões da investigação municipal. Para depois se basear nos resultados.

Desde então, é o que se tem visto. O Mayor diz que vai ao parlamento, mas na hora alega ter a agenda ocupada. Depois, é preciso acertar bem o dia, mas no dia, por azar, tem viagem a Barcelona. Finalmente, para acabar com a saga, esclarece que não tem nada que ir à comissão. 

Por que razão não o disse desde início?

Engraçadas são as decisões e as ordens daquele que pediu votos para trabalhar 'Pelas Pessoas'. Ele continua a mandar nos tribunais e tudo. Se o MP começou há dias a ouvir funcionários da câmara sobre o assunto, alto lá senhores da 5.ª comissão, que ninguém vai andar a mexer no caso quando o MP está a trabalhar - manda Cafôfo, ultrapassando o próprio MP e a ALM.

É isso, o indivíduo que já pôs em movimento a sua 'Bagunça Rumo a 2019' acha ter legitimidade para se substituir às autoridades em tudo o que lhe diz respeito a ele. Assim, na nota que enviou ao Parlamento, ele esclarece, de cátedra, que o regime jurídico das comissões de inquérito manda, nas condições em apreço, suspender o processo de inquérito (ele fala na suspensão de um inquérito que nem existe ainda) e então deixem-se de inventar, senhores deputados, que o homem não põe mesmo os cotos na comissão.

Se estes argumentos não chegarem, há outro: Cafôfo não admite que os deputados causem "alarme e aproveitamentos políticos" à custa das vítimas da tragédia. E agora quem é que lhe vai à mão, se ele entende que os outros, populistas de um raio, é que fazem aproveitamentos?

Cafôfo certamente tenta impedir que aproveitamentos políticos nesta altura vão inquinar as eleições de 2019 e de 2021. Neste pormenor, o homem tem o tempo todo ocupado e precisa de andar de olho no fogão. Até porque há ainda um pormenor, que são as eleições internas no PS-M. E ele ou bem que anda a perder tempo com memórias perdidas do arraial do Monte ou bem que trata profissionalmente do assalto ao PS, que só resultará com a vitória do Emanuel Câmara em 19 de Janeiro. 

Muito tem andado Cafôfo por esses concelhos onde há mais militantes socialistas, a prometer para dentro de dois-três meses emprego a eleitores e seus rebentos. A Frente Mar já está sobrecarregada de boys, mas depois de 2019 a Frente Mar, que actualmente se resume ao Funchal, pode tornar-se em Frente Madeira, albergue espanhol onde caberão muitos dos que votarem agora no Emanuel/Cafôfo.

O próprio José Castanha sabe que em 2019, além de ocupações de luxo para si e para os seus, poderá tornar-se o homem forte da junta de São Martinho, já que Cafôfo levará o Caldeira para o governo.

Por estes dias, Cafôfo acompanha de perto os seus homens de mão que trabalham para o 19 de Janeiro eleitoral. Avelino Conceição bate o seu concelho de Machico de lés-a-lés, e é se quiser ser o próximo secretário-geral do partido. Victor Freitas não pára de almoçar com criadores de gado e um dia destes vai com o Amândio a um convívio de pescadores de Câmara de Lobos. Célia Pessegueiro aproveita o centro de dia (aliás manhãs) que ganhou na câmara da Ponta do Sol para tratar ao minuto da eleição de Emanuel Câmara enquanto batedor do motoqueiro funchalense, o ídolo Paulo Cafôfo. O sargento do Norte, agora com três elementos a tempo inteiro para gerir no Porto Moniz uma população inferior à de 98% das ruas do Funchal, não pára um segundo na campanha pessoal, ciente de que está em jogo o seu futuro e o dos seus, além do 'milho frito' que será para ele o lugar de secretário da Agricultura no governo de Cafôfo-2019.

De modo que o nosso Mayor e Xerife dos Mossos Funchalenses, esse inveterado Almocreve-das-Petas que todos os dias enfia uma desconcertante mentira aos madeirenses, não está para andar a brincar às audições parlamentares sobre os azares do Monte. Se acaso na Assembleia se lembrarem de criar uma 'comissão de inquérito' para o obrigar a lá ir mesmo, há já um elenco de argumentos para dar seca aos deputados. Há mortes do porco na agenda do presidente da câmara, bem como missas do parto, missa do galo, fogo de S. Silvestre e dia de reis, tudo situações que exigem preparação e provocam ressaca. E há cerimónias para levar o mercado ao Município. O mercado à praça. A praça ao mercado.

Está visto que duas vitórias eleitorais na regedoria funchalense criaram um figurão muito forte. Hoje em dia ninguém pode com o Cafôfo. Um terror! Um cacique a quem tudo é permitido, mesmo mentir à descarada.

O homem promete chuva e dá vento.

Fala em reabilitação e os prédios da cidade estão cada vez mais degradados.

Diz agora que não há projecto nenhum para o Lazareto e daqui a 2 minutos explica que se trata de um prédio de 5 andares. 

Diz que o Savoy está legal, mas depois acusa que não está por culpa do antecessor Albuquerque, e volta a dizer que vai tudo certo para depois embargar e ainda desbloquear, mesmo que estes avanços e recuos precisassem de uma assinaturazinha falsa.

Quer ser eleito governador da Madeita pelo PS em 2019, mas não se faz militante do PS.

É convocado pela comissão parlamentar, engonha uns tempos e depois diz que não aparece à comissão parlamentar.

Merecia um raspanete solene que o fizesse baixar à Terra e à sua insignificância, igual à de todos nós. Mas é o fazes. Quem é que pode com o figurão, que ganhou eleições? 

Paciência.

Que seja tudo pelo amor e Pelas Pessoas.