O “outro” melhor do mundo!

José Prada

Em complemento à minha recente intervenção na Assembleia Legislativa da Madeira.

Anda Bernardo Trindade num frenesim de entrevistas. É vê-lo na RTP Madeira. É lê-lo no Funchal Notícias... Até parece candidato às eleições do PS Madeira. Que eu saiba não é, pese embora o seu (e de son ami Costa) indisfarçado empenho em Cafôfo, via lebre do Norte.

Claro que esta excitação toda tinha de ser por causa da TAP. E claro que falou, sempre, na sua qualidade de administrador não executivo.

Depois da TAP ter aberto a porta à possibilidade dos madeirenses e porto-santenses apenas pagarem, à cabeça, 86 euros por bilhete de avião (65 euros no caso dos estudantes) para logo a seguir e sem mais nem menos, fechar essa porta na nossa cara, com enorme estrondo, julguei que Bernardo Trindade desdobrava-se em entrevistas para apresentar e/ou justificar a sua demissão de administrador ou para, pelo menos, se demarcar da posição assumida pela (sua) companhia de bandeira(da).

Continuei a pensar.

Não é por ter sido ilustre auditor ou ilustre funcionário bancário que Bernardo chega a administrador não executivo da TAP.

Também não será, certamente, por ter sido secretário de estado do turismo dos dois governos de José Sócrates. Até porque, hoje, sem exceção e a começar pelo atual primeiro-ministro (foi então nº 2 de Sócrates, como Ministro de Estado e da Administração Interna) todos tentam apagar essa mácula do seu curriculum.

Não creio que seja também por ser ilustre administrador de um grupo hoteleiro.

Eureka! Só pode ter sido nomeado por ser madeirense!

É que da mesma penada nomearam, estrategicamente, um açoriano (se bem que este até se compreende, pois, foi presidente do conselho de administração da SATA) para lhe fazer companhia, deixando-nos, desta vez, sem argumentos para denunciar o habitual desfavorecimento à Região.

E, de facto, na sua entrevista à RTP Madeira, arengou que era a “circunstância” de ser madeirense que o tinha feito administrador da TAP.

Eu também sou madeirense. Há, pelo menos, mais 250.000 madeirenses como nós.

Dou de barato que Bernardo Trindade tenha os seus encantos para ter sido “O Eleito”!

Saiu-lhe a sorte grande, concluí eu. É que neste cargo ganham (pelo menos, de acordo com notícias que foram publicadas aquando das nomeações e jamais negadas), aproximadamente, 60.000 euros por ano.

E, pela boca do próprio, na sua entrevista à RTP Madeira, percebeu-se que o seu “trabalho” se resume a 6 reuniões por ano.

Portanto, Bernardo ganha 10.000 por reunião, só mesmo ao nível do melhor do mundo. Aliás, se a reunião até nem demorar muito, ganha mais, por minuto, que o melhor do mundo!

Adiante. Se ainda defendesse, de peito aberto, os interesses da Região e de cada um dos madeirenses e porto-santenses nos conselhos de administração da TAP, então aí sim estaria bem justificada a sua escolha e quase todos os euros que ganha.

Convém não esquecer que a TAP é 50% pública e recebe mais de 50 milhões, por ano, por conta do subsídio à mobilidade. O mesmo é dizer que mais de 50% da remuneração dos administradores resulta dos nossos impostos, dos impostos que os madeirenses e porto-santenses também pagam.

Se Bernardo Trindade fosse madeirense, como nós, se vivesse na Madeira ou no Porto Santo e tivesse que pagar mais de 400 euros por uma viagem a Lisboa para ser reembolsado apenas uns meses depois, claro que se teria insurgido contra esta intolerável e desprezável posição da TAP.

Já deveria tê-lo feito antes, pois já lá está há 5 meses. Motivos não faltaram. Os preços exorbitantes das viagens entre a Região e o continente? Os preços pornográficos no Verão entre o continente e o Porto Santo? A pouca sensibilidade e disponibilidade da TAP para repor voos em caso de condicionamento do aeroporto da Madeira? A forte aposta na promoção de voos para as ilhas Canárias, contra zero para a Madeira? A inexistência de voos diretos entre destinos de emigração madeirense, como, por exemplo, entre Caracas e a Madeira. A falta de voos diretos entre a Madeira e alguns dos mercados que, do ponto de vista turístico e económico, importava explorar, como é o caso dos EUA ou do Brasil. E muitos mais exemplos de situações sem resposta se poderiam acrescentar ao rol.

Será que Bernardo Trindade anda, assim, tão distraído?

E agora que a TAP, aparentemente e para enorme satisfação da Região, parecia permitir que o grande desejo da esmagadora maioria dos residentes (pelo menos dos que cá vivem) se concretizasse – que apenas se pagassem os 86/65 euros, quando se comprassem as passagens, tendo sido publicadas noticias a esse propósito – eis que de repente, não sei por ordem de quem, a companhia volta atrás e sentencia que afinal tal não é possível. Que os madeirenses se desenrasquem! Os mesmos madeirenses que sustentam aquela que deve uma das rotas (senão a principal) mais rentável para os bolsos de quem por lá anda.

Pior: a TAP recua publicamente, através de comunicado, na mesma altura em que a Easyjet – que tem alimentado uma estratégia de chantagem ao mais alto nível, baseada na tese de que não pode acompanhar a TAP na cobrança do valor, à cabeça, do bilhete da viagem (os tais 86/65 euros) porque o seu software de reservas não possibilita – estava reunida com o ministro Pedro Marques, que tutela a TAP e os transportes.

Pior ainda: no fim dessa reunião e em vez fazer o que lhe era exigivel, que supostamente seria censurar o comportamento abusivo da EasyJet (e, já agora, também da TAP), a única coisa que Pedro Marques faz é manifestar a sua preocupação pela eventual saída da EasyJet da linha da Madeira. Não há coincidências!

E com isto fez-se luz, de repente.

Bernardo Trindade não foi nomeado administrador da TAP por ser madeirense, mas sim por ser amigo de Costa. Portanto, tem é de defender os interesses de Costa, do PS, do seu governo e da geringonça. Mesmo que sejam conflituantes e até antagónicos com os da Região e dos madeirenses e porto-santenses, como agora se viu.

É por isso injusto e descabido pedir responsabilidades a quem não as tem. Não podemos pedir a Bernardo Trindade que defenda a Região e os seus residentes no Conselho de Administração não executivo da TAP porque ele não foi aí colocado para isso.

Mea culpa Bernardo, mas fui induzido em erro pela entrevista da RTP Madeira.

Não te serve nem fica bem o fato de defensor do residente, que vive na Madeira ou no Porto Santo, e que aqui sofre por culpa da TAP.

E mais mea culpa Bernardo, pois percebi, entretanto, que estás pro-bono enquanto presidente da estrutura de missão pomposamente chamada de Portugal In, sob dependência directa de Costa, por isso não devia ter criticado os cerca de 10.000 euros que te pagam, por reunião, enquanto administrador não executivo da TAP.