Duas semanas e nada!

Alô, MP!!! 

Miguel de Sousa afiança que um deles consentiu e outro beneficiou de um regime corrupto de quase 40 anos. O JM avança que os prevaricadores aventados por Miguel são Jardim e Jaime Ramos. Então, o MP terá de averiguar a grave acusação dos 10% que Jaime levaria das empreitadas. Ou se estamos perante uma gravíssima denúncia caluniosa pública, merecedora de consequências. Para já, que se saiba, ninguém respondeu ou apresentou queixa contra as comprometedoras acusações que começaram num artigo de opinião no DN. 

Vai quase para duas semanas que Miguel de Sousa, estuporado com os ataques à sua pessoa movidos por um blogue anónimo, deu honras de artigo de opinião a uma resposta violentíssima, que mais parece um 'manifesto anti-velhos parceiros'.

No seu artigo de opinião, o político e também administrador da ECM contra-atacava um certo "ele" que, mesmo não sendo o "escritor" do blogue anónimo, "aceita o que está escrito e possivelmente até incentiva e dá as principais orientações". Depois, desviava o canhão fumegante para o "capataz político, financeiro e empresarial, o que 'mamou' nas suas barbas (nas barbas do 'ele') e obviamente com o seu consentimento". Escreveu Miguel que esse 'capataz' "é o porcalhão que ainda estrebucha para se vingar dos que se opuseram à pouca-vergonha que orientou a sua conduta criminosa." 

Assim mesmo, sem tirar nem pôr.

Especificando melhor: "Todos os negócios tinham de ser dele ('capataz'). Ou pelo menos 10%, se fossem grandes empreitadas."

As gravíssimas acusações atingem também o "ele", a quem Miguel de Sousa chama "o verdadeiro chefe", insinuando: "Tão inteligente que ele é e nunca viu a permanente vigarice do seu braço corrupto."

Cuidado com o que vem a seguir, Leitor. Mas é Miguel de Sousa a dizer, no seu explosivo artigo: "O terror sobre as pessoas permitia tudo. Dava para ter imunidade total. O povo votava no líder amado e abria a caça ao tesouro por parte do Ali Babá do regime."

O Ali Babá do regime!

Pese bem o Leitor, mesmo que tenha acompanhado desde a nascença o tsunami desencadeado por Miguel de Sousa. Porque nós aqui trememos só de reproduzir: "Onde anda essa ave de rapina (o tal 'capataz')? Fugido? Escondido? Auto-destruído? À beira do suicídio? Só aparece no blogue? Ou anda a trabalhar para novos ataques e crimes a coberto de soluções políticas futuras que vem orientando? Ainda não é tudo seu e, qual vampiro, certamente quer mais."

Valha-nos santa Bárbara com mais esta: "Terá sido democrático um regime que tinha como coordenador e 'alma mater' um bastardo tirano deste quilate?"

Íamos fugir agora à última citação, porque é um remate final digno de Ronaldo e não queremos estar à baliza numa situação destas. Mas, perdido a velas, perdido a remos. Aí vai: "Era tudo dinheiro para o partido! Só que o partido está falido e o homem está rico!"

Como numa brincadeira do rapa-e-põe, podemos concluir... Não, não concluímos nada.

Só pensamos nisto: há dias de calor e capacete no céu em que uma pessoa anda pegajosa e reage à menor provocação como se tivesse o diabo no corpo. Podia ter sido o caso de Miguel de Sousa. Um artigo escrito com pólvora mas que, se conduzido a tribunal, acabava com um pedido público de desculpas, com o autor do texto a dizer que não teve intenção de ofender os vilipendiados e não se falava mais no assunto.

Mas qual! Faz hoje exactamente oito dias, já com tempo suficiente de Miguel ter dominado a birra, eis que o JM pega no assunto do DN para ouvir, do próprio articulista desassombrado, a confirmação da escaldante opinião: "Tudo o que escrevi é pouco" - bradou até Miguel de Sousa. "Essas pessoas baixas não merecem nada. Nem dó nem piedade."

Mais: o autor dizia-se certo de que toda a gente sabia a quem se estava a dirigir, tanto o "ele", o "verdadeiro chefe" que ganhava as eleições, como o "porcalhão" que delas beneficiava, isto é, o "Ali Babá do regime", o dos "10% das grandes empreitadas". 

Se toda a gente sabe quem são, no sentir de Miguel, afinal quem são mesmo eles? O JM fez luz sobre o assunto: com base naquilo que, afirma o jornal de Avelino Farinha, "é entendido" em vários patamares da política tabanqueira - "no partido, no governo e mesmo entre os políticos da oposição (...), as críticas vão essencialmente para dois nomes: Alberto João Jardim e Jaime Ramos, com alguns respingos de outros nomes pelo meio".

"Miguel de Sousa não os identifica", clareia o JM, depois de escrever em letra de forma os nomes dos dois barões principais do velho regime. Mas a verdade é que este texto do JM tem oito dias e o depoente não veio desmentir que os seus ataques visassem Jardim e Jaime Ramos, o primeiro um poderoso Rei da Tabanca durante 40 anos e o segundo o conhecido operacional secretário-geral do PPD, líder parlamentar do mesmo PPD com todos os poderes sobre os presidentes de comissões das várias áreas da vida regional, detentor de ascendente sobre os secretários regionais do governo, tendo chegado a pôr alguns na rua (como Caldas de Oliveira, das obras), líder de uma cooperativa habitacional e, entre outras presidências e titularidades atrás de testas-de-ferro, presidente da Assicom, organização perante a qual baixavam a crista todos os empresários da construção civil, nos tempos das grandes obras do regime. É de perder o fôlego, mas estas funções foram todas em simultâneo.

Em que pé ficamos, depois destes desenvolvimentos serôdios à conta de um blogue anónimo e da reacção virulenta de um antigo e actual barão laranja?

É que, senhores, quem diz que o tal "Ali Babá do regime" tratava de que todos os negócios fossem dele, "ou pelo menos 10%, se fossem grandes empreitadas", quem o afirma não é um político qualquer, muito menos um Zé das Iscas. Miguel de Sousa sabe que nós todos sabemos que ele é vice-presidente do parlamento e que, durante muitos daqueles anos loucos do desenvolvimentismo à base do cimento e do alcatrão, ele próprio, Miguel de Sousa, foi vice-presidente do governo regional, abaixo do "ele" e com o "Ali" a desempenhar cargos importantes na esfera do poder e dos negócios. 

É esta mesma personagem com grandes responsabilidades quem atribui ao "ele" a paternidade do tal blogue anónimo, o mesmo "ele" que outrora foi o "verdadeiro chefe" - aliás "tão inteligente que ele é e nunca viu a permanente vigarice do seu braço corrupto".

É um político regional com este currículo a produzir as gravíssimas acusações. Até hoje não desmentidas. Não estamos perante uma corriqueira briga de comadres.

Em que ficamos, pois? Alô, MP, estamos a falar para esse lado. Queremos saber os prejuízos que a corrupção criminosa denunciada causaram à Região e aos Madeirenses durante quase 40 anos. Ou então, se acaso estamos perante denúncias ignóbeis e caluniosas, queremos saber qual o castigo para o infractor. 

Assim, como se estas duas semanas não tivessem existido, é que não pode ficar. Evidentemente.