Uma maldição para a ladroagem

Caro amigo Luís Calisto

Não quero abusar da tua disponibilidade em publicar os meus artigos, mas como sabes tirei umas pequenas férias no estrangeiro e na minha ausência, uns seres inferiores, talvez uma espécie de homos neanderthalensis desconhecida, algum larápio esfaimado ou um traficante frustrado de animais domésticos, tiveram a ousadia de se introduzirem pela calada no meu galinheiro, situado na Quinta da Nora (atrás do campo do Liceu) e apoderaram-se dum lindo galo que eu lá tinha. 

A bela ave foi-me dada por um amigo de Santana (o Jacinto, que também gosta de animais), em troca dum jeitoso galinho palheiro, chamado Iglésias (os meus animais têm todos nomes).

Sempre assaltaram a quinta, mas até hoje nenhum ratoneiro agarrado levou animais. Levam mangos, maracujás, banana e papaias, mas nos animais nunca tocam, apesar do galinheiro ser em regime semiaberto, e as galinhas se passearem por vezes entre as bananeiras, à caça de bicharocos.

Há tempos, uma desgraçada de uma matilha de cães abandonados matou dois perus, salvando-se só o Jardim, (era um carneiro lãzudo mas muito dócil) que só escapou à voracidade canina porque subiu a escadaria até ao tanque de água e empoleirado no muro em ruínas, desbaratou a cachorrada à cornada, já que os cães não o podiam circundar traiçoeiramente. Ah!... já me esquecia… também há muitos anos, uns energúmenos envenenaram o Gabriel, o famoso Burro do Bar Amazónia e que fazia as delícias da clientela quando lhe dava para brincar com os cães às escondidas entre as árvores do Jardim.

Deste modo, as bestas que normalmente roubam a quinta nunca se apoderam de animais, só que desta vez, deu-lhes para me levar o meu belíssimo galo, o Napoleão. Dei-lhe o nome do imperador dos franceses, porque quando chegou ao galinheiro não se lançou pecaminosamente às galinhas nem perdeu a sua dignidade metendo a cabeça no cocho da ração. Pelo contrário, marchou marcialmente pelo pátio do galinheiro, imponente e de peito aberto, para mostrar às galinhas que dali para a frente tinham ali o seu líder incondicional. Embora depois desta marcha triunfal, Napoleão lançou-se avidamente em cima da Alice e da Idalina, as galinhas mais belas e formosas da minha capoeira.

Infelizmente, o Napoleão foi levado por algum drogado ou reles ladrão, que, espero, não tenha a ousadia ou a desfaçatez de o mergulhar em água quente ou algo semelhante. Deste modo, faço aqui um apelo público, não só à vizinhança, mas também aos negociantes de aves, que se alguém andou por aí a se gabar do roubo dum bonito galo ou algum miserável tentou transacioná-lo, por favor avisar para o meu facebook ou então deixar indicações no parque de estacionamento do Amazónia.

E se por acaso o atrevido gatuno se entregar a práticas de canibalismo doméstico com o meu Napoleão, que lhe nasçam furúnculos nas entranhas e que tenha um desarranjo intestinal mais poderoso que duas mil cloacas máximas romanas.

Gil Canha