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sexta-feira, 3 de novembro de 2017


A Canga


Miguel Torga, nos seus “Novos Contos”, falava da canga, peça de madeira assente numa junta de bois. Nalgumas regiões portuguesas, também se chama canga ao pau colocado no ombro de duas pessoas para transportar objectos pesados.
Na Madeira, a palavra ganhou mais um sentido de opressão, de jugo contra os direitos de alguém. Veja-se, sob esse título, o romance de Horácio Bento de Gouveia. 
Quem estudar a sério o comportamento das “massas” na sua acefalia inorgânica, que as torna o oposto de “Povo soberano” organizado democraticamente, aterroriza-se com a atitude suicidária de seguir modas, só porque são modas - políticas sobretudo - de não ter iniciativa para analisar criticamente o “politicamente correcto”, e de estagnar “Maria vai-te com as outras” ante o “pensamento único” que as oligarquias dominantes dos Estados e dos partidos vão impondo conforme os seus interesses ilegítimos. Impondo sobretudo através de opinião publicada.
É o gosto pela canga. É um gosto pelo reles.
Sangue de escravo, explicação genética cientificamente não comprovada.
Em Portugal, mercê do nosso retrocesso no mundo desde a ocupação filipina, nunca faltaram os basbaques a endeusar o que vem de fora - a começar pelo Pensamento - enquanto que, destroçados por injustificados complexos de inferioridade e pela maldita inveja, os mesmo se assumiram desdenhosos de tudo quanto do seu país ou da sua terra, inclusive de pessoas e de iniciativas nacionais. 
Uma engraçada, para verem. Uma multinacional europeia, com capitais até de portugueses que na emigração triunfaram na vida, vem encontrando forte hostilidade ao se estabelecer em Portugal. Claro que mexe com “interesses” estabelecidos, e daí as campanhas.
Mas, por outro lado, o Zé Pagode assiste indiferente à passagem para a mão de capitais dominantes da República Popular da China e de Angola, de sectores ESTRATÉGICOS da economia portuguesa, com repercussão na SEGURANÇA nacional!
Triste mentalidade!...
E, então aqui na Madeira, toda a gente conhece quão tristemente, ao longo da nossa História, a inveja provocou conflitualidades internas de trágica repercussão pública!
Vou-vos contar duas histórias.
Há muitos, muitos anos, no início da minha vida política, uma mulher com casa de conforto burguês, no Caniçal, gritava-me asneiras próprias da extrema-esquerda.
Quando lhe perguntei o que é que a vida lhe fizera, para ela desesperada e revoltada querer nivelar por baixo, em vez de se melhorar as condições de vida de toda a gente, respondeu: “Não me importa passar a dormir no chão, só para vocês também dormirem assim!”.
Trata-se de uma falta de carácter assente em ignorância, ódio, inveja e falso sentido de “igualdade”.
Anos depois, em Londres, estava em casa de uns familiares e a minha prima disse: “Vou-te apresentar a senhora que vem cá trabalhar a dias, é do Estreito de Câmara de Lobos, ela quer te ver”.
Assim foi.
Quando lhe perguntei o trabalho do marido, disse que ele era pedreiro, mas em Londres fazia a limpeza de grandes edifícios, normalmente vidros, pelo que tinha de começar às seis da manhã, no inverno com muito frio. 
Ao saber ordenados, observei à nossa conterrânea que, na altura e na Madeira, um pedreiro ganhava mais do que um limpa-vidros em Londres.
Resposta: “Ah, mas estar aqui é diferente. Lá, temos de trabalhar para os nossos...”.
Reparem bem, “para os nossos...”, todos os outros seriam “superiores”.
Aliás, o gosto pela canga, desenvolvido nalguns sectores da vida madeirense, tem estado bem patente em dois fenómenos da vida regional. 
Primeiro, a defesa local dos abusos de Lisboa, só para politicamente contrariar os autonomistas. Isto, apesar de todos os atropelos e roubos históricos, e do actual contencioso das Autonomias! (Que só não existirá para quem “in office, but not in charge”).
Segundo, a guerra que desde o início do percurso autonómico    - pelo menos desde então - é feita aos Empresários madeirenses de sucesso, enquanto se calam vergonhosas explorações do nosso Povo, efectivadas por gente de fora, portugueses ou estrangeiros, nalguns casos desde longos tempos!
Bem sei que, nisto, conta muito a propriedade de comunicação social...
A propósito. Já repararam que há um Empresário ultimamente a ser atacado, porque não quis vender a sua parte num órgão de comunicação social e assim evitou o pretendido monopólio?...


Funchal, 3 de Novembro 2017

Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim

2 comentários:

Anónimo disse...

A Canga? Faltou a que foi imposta pelo PAEF.

Paulo Silva Vieira disse...

Da má memória dos homens, aproveitam-se os que têm menos vergonha, o que parece ser o seu caso, mas felizmente ainda existem pessoas menos distraídas que acompanharam o processo e se lembram de como foram fabricados os tais empresários de sucesso a que se refere.
Ao Zé Povinho que acreditou nas suas patranhas voçê chamou de Povo Superior e a Canga foi-lhe sendo imposta à medida que aumentava a dívida pública e a fortuna dos seus empresários de sucesso.
Eu já nem peço que se faça justiça porque o processo Cuba Livre serviu para ver que ninguém iria prestar contas, mas pelo menos podia viver a sua reforma dourada poupando-nos aos seus comentários cretinos.