CRÓNICA
JUVENAL XAVIER
PELOS CAMINHOS
DO FUTEBOL
A bem ou a mal a bola, forçosamente, tem de beijar a rede – num beijo possessivo nos lábios em chama do golo – seja a que preço for ou custe os maços de notas que custar. Logo se confirma, sem rodeios, a vitória antecipada que serve à justa medida uns e outros; vitória acertada no balneário, à porta fechada, limpinha, sem razão para equívocos.
(O golo, rematou Álvaro Magalhães, em Jogo Perigoso – 50 Crónicas do Futebol, é “o fim de um ciclo produtivo.”)
A justiça que fabrica a martelo o tramado resultado final não se discute; aceita-se como um dogma que finta a crítica e o exame. Da mesma forma, no futebol os dogmas não se questionam; são irrefutáveis como os golos, irreversivelmente, anulados.
A corrupção sempre invisível e o sistema enquanto esquema, ela e ele como malhas, como fraudes, são agentes produtores e portadores de estratagemas que tecem planos inclinados no futebol. Planos por onde escorregam as mais inocentes tentações de uma qualquer vulnerável cabeça de abóbora.
A política e o futebol (e se calhar não restam incertezas) têm subordinações, vassalagens, como a subsidiodependência ou a influência do peso eleitoral que geram relações íntimas e perigosas, às vezes de interesse público, às vezes de interesses indefinidos de vários públicos.
Ninguém duvida da dívida, do orçamento, do plano ou propriamente do subsídio. O plano até que é do melhor, mas o orçamento é magrinho. O subsídio, esse, anda constantemente de atraso em atraso, causando enorme angústia ao nível da insegurança que rodeia o duvidoso peso das promessas do discurso da campanha para presidente.
Estrategicamente, futebol e negócios dão-se fatalmente bem porque o alvo é mútuo, recíproco.
Fernando Cascais, autor do Dicionário de Jornalismo – As palavras dos media e, entre 1996 e 2010, diretor do Cenjor (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas), entende que “a lógica empresarial despromoveu o amor às camisolas”.
Observando com atenção a civilização do espetáculo da bola – em que se misturam charlatães de bancada, debaixo da pala VIP, com mutismos esquizofrénicos – desnudam-se nos camarotes, a olho nu, estereótipos do microcosmo de cata-ventos que padecem de divisão de personalidades ou de personalidades múltiplas e que exibem, sem cansaço, vaidades miméticas das estrelas da Champions League.
Porém, “dizer que o futebol é apenas um negócio – defende Desmond Morris, n’A Tribo do Futebol - equivale a ignorar uma das suas mais importantes características.”
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