OPINIÃO
Carlos Jardim
“Câmaras não se ganham,
Câmaras perdem-se!”
A vida política em 2021 ficará marcada
pelas eleições autárquicas. Quer se realizem no momento que está previamente
marcado, quer sejam adiadas por força dos efeitos da pandemia, o tecido social,
as convivências, as discussões políticas estarão centradas na escolha local que
será efetuada em breve.
Quem será o Presidente da Câmara? Quem será o Presidente da Junta? Quem será o Vereador? Quem apoia o quê? Este está com quem e aquele está com não sei quem.
Por muito que queiramos discutir projetos
ou visões para os nossos concelhos e para as nossas freguesias, estas serão as
dúvidas incontornáveis que marcarão as conversas de ora em diante, até à
exaustão.
Vamos então dar o pontapé de saída nesta
discussão, procurando colocar umas balizas enquanto o discernimento ainda paira
no ar e ainda conseguimos realizar uma discussão com troca de ideias. Vamos
então deitar umas achas para a discussão acerca das Autárquicas na Região
Autónoma da Madeira.
“Mano a mano”
Se calhar, a primeira ideia que quero
expor é a minha perceção que estas eleições têm tudo para serem as mais
bipolarizadas de todas. Vejamos. Na maioria dos concelhos da nossa região
existe a perceção que pode ganhar o PS ou o PSD. Ou para um lado ou para outro.
Se quisermos ser mais abrangentes, cobrindo assim todos os concelhos, diremos
que tanto pode ganhar quem governa como quem agora exerce a oposição. Mais.
Existe a convicção que esta vitória será tangencial para quem vier a ganhar,
para a generalidade dos concelhos, potenciando uma concentração de votos numa e
noutra força política. Por uma questão de economia de espaço e simplificação de
raciocínio, acreditemos que assim é. Temos então de compreender que, se tal não
acontecer, a responsabilidade para o crescimento de outras forças partidárias é
da exclusiva responsabilidade e inépcia das cúpulas partidárias do PS e PSD.
Significa que terão falhado na resposta às necessidades dos cidadãos desses
concelhos.
“Quem decide ou quem é que manda aqui?”
A segunda ideia que quero partilhar tem a
ver com o poder de decisão sobre os resultados eleitorais. Cultivou-se durante
muitos anos a visão que, para ganhar eleições, era preciso moldar os partidos à
semelhança dos antigos senadores romanos, com um séquito sustentado a partir do
erário público, garantido um número de votos capaz de manter no poder o seu
senador. O que a história eleitoral recente nos tem mostrado é que isso não
corresponde à verdade. Se bastasse a distribuição de cabazes de compras e uns beijos
numa qualquer vereda a história política da nossa “democracia regional” era
substancialmente diferente. A verdade é que quem decide os atos eleitorais é a
Maioria Silenciosa. São aqueles profissionais que vergam o serrote no seu
dia-a-dia, labutando de sol a sol para se prover e aos seus. Que não fazem
muitas reclamações e não falam muito, mas que, quando chega a hora, fazem a sua
avaliação e votam de acordo com a sua consciência, exercendo o seu direito e
cumprindo a sua obrigação de votar.
“Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem
és!”
É compreendendo esta realidade acerca do
eleitorado que podemos partir para a terceira ideia que voltarei a partilhar.
Não me canso de reforçar esta ideia. Esta Maioria Silenciosa, que pouco
reclama, porque ocupada com a sua vida profissional, familiar e social, não
deixa de observar. Atentos estão às listas eleitorais. Discutirão quem será o
candidato a Presidente da Câmara e da Junta, mas não deixarão de ver quem será
o candidato a vereador, os restantes elementos da lista e quem andará à volta.
É verdade que é preciso criar uma moldura humana e juntar elementos para poder
criar uma força política mobilizadora. Mas não é menos verdade que também há
elementos que, em vez de acrescentar votos, tiram. Ora, estas considerações
servem para dizer que compete aos partidos apresentar os melhores e mais bem
preparados para os combates eleitorais. E aqui, sejamos claros, as cúpulas dos
partidos que falharem neste ponto, terão de retirar as ilações. Qualquer um dos
partidos nunca teve tão boas condições para apresentar os candidatos que
entendem apresentar. Traduzindo em miúdos: não apresentem os melhores
candidatos em cada lugar que vão ver o que é bom para a tosse…
“Tu, de novo?”
Todos nós conhecemos os crónicos das
eleições autárquicas. Aqueles que, ato eleitoral após ato eleitoral, são
candidatos aqui e ali. Dar espaço deve ser a palavra de ordem. Deixem aparecer
gente que nunca esteve na política. Que já deram mostras na vida profissional e
pessoal e que têm algo a dar à vida pública. Os órgãos autárquicos não podem
ser um mero espaço de socialização para quem não sabe fazer outra coisa.
E finalmente… “Câmaras não se ganham, Câmaras perdem-se!”
Para quem anda na política há um certo
tempo, conhece uns ditados que traduzem as “leis” da vida política. Não sendo
leis das ciências exatas, são leis das ciências sociais que traduzem uma certa
regularidade de acontecimentos em determinadas condições. Este é dos ditados
que melhor traduzem o sentimento para as eleições autárquicas. Mostram bem que
a população, regra geral, não quer mudar de presidente. Se o que está não faz
mal, deixa-se ficar. Podemos interpretar isto de tanta maneira, mas os
resultados eleitorais mostram mesmo esta realidade. Então, o que isto quer
dizer é que, os resultados de 2017 foram construídos de 2013 a 2017, os de 2013
foram construídos de 2009 a 2013 e assim por diante. E é mesmo assim. Não
tenhamos dúvidas, a responsabilidade dos resultados eleitorais de 2021 é dos
participantes na vida política autárquica de 2017 a 2021. E devem também
retirar ilações.
“I have a dream!”
Em jeito de post-scriptum, uma ideia a que voltarei, insistindo e persistindo. Era porreiro, pá que os candidatos apresentassem projetos, ideias e visões para o lugar a que se candidatam. Nem que fosse só para que a Maioria Silenciosa ou “populaça”, como gostam de nos chamar, se deixasse enganar e acreditasse que era por dedicação à causa pública e não por ganância que se candidatam.
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