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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

 

OPINIÃO


Carlos Jardim                                                 


“Câmaras não se ganham, Câmaras perdem-se!”



A vida política em 2021 ficará marcada pelas eleições autárquicas. Quer se realizem no momento que está previamente marcado, quer sejam adiadas por força dos efeitos da pandemia, o tecido social, as convivências, as discussões políticas estarão centradas na escolha local que será efetuada em breve.

Quem será o Presidente da Câmara? Quem será o Presidente da Junta? Quem será o Vereador? Quem apoia o quê? Este está com quem e aquele está com não sei quem.

Por muito que queiramos discutir projetos ou visões para os nossos concelhos e para as nossas freguesias, estas serão as dúvidas incontornáveis que marcarão as conversas de ora em diante, até à exaustão.

Vamos então dar o pontapé de saída nesta discussão, procurando colocar umas balizas enquanto o discernimento ainda paira no ar e ainda conseguimos realizar uma discussão com troca de ideias. Vamos então deitar umas achas para a discussão acerca das Autárquicas na Região Autónoma da Madeira.

“Mano a mano”

Se calhar, a primeira ideia que quero expor é a minha perceção que estas eleições têm tudo para serem as mais bipolarizadas de todas. Vejamos. Na maioria dos concelhos da nossa região existe a perceção que pode ganhar o PS ou o PSD. Ou para um lado ou para outro. Se quisermos ser mais abrangentes, cobrindo assim todos os concelhos, diremos que tanto pode ganhar quem governa como quem agora exerce a oposição. Mais. Existe a convicção que esta vitória será tangencial para quem vier a ganhar, para a generalidade dos concelhos, potenciando uma concentração de votos numa e noutra força política. Por uma questão de economia de espaço e simplificação de raciocínio, acreditemos que assim é. Temos então de compreender que, se tal não acontecer, a responsabilidade para o crescimento de outras forças partidárias é da exclusiva responsabilidade e inépcia das cúpulas partidárias do PS e PSD. Significa que terão falhado na resposta às necessidades dos cidadãos desses concelhos.

“Quem decide ou quem é que manda aqui?”

A segunda ideia que quero partilhar tem a ver com o poder de decisão sobre os resultados eleitorais. Cultivou-se durante muitos anos a visão que, para ganhar eleições, era preciso moldar os partidos à semelhança dos antigos senadores romanos, com um séquito sustentado a partir do erário público, garantido um número de votos capaz de manter no poder o seu senador. O que a história eleitoral recente nos tem mostrado é que isso não corresponde à verdade. Se bastasse a distribuição de cabazes de compras e uns beijos numa qualquer vereda a história política da nossa “democracia regional” era substancialmente diferente. A verdade é que quem decide os atos eleitorais é a Maioria Silenciosa. São aqueles profissionais que vergam o serrote no seu dia-a-dia, labutando de sol a sol para se prover e aos seus. Que não fazem muitas reclamações e não falam muito, mas que, quando chega a hora, fazem a sua avaliação e votam de acordo com a sua consciência, exercendo o seu direito e cumprindo a sua obrigação de votar.

“Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és!”

É compreendendo esta realidade acerca do eleitorado que podemos partir para a terceira ideia que voltarei a partilhar. Não me canso de reforçar esta ideia. Esta Maioria Silenciosa, que pouco reclama, porque ocupada com a sua vida profissional, familiar e social, não deixa de observar. Atentos estão às listas eleitorais. Discutirão quem será o candidato a Presidente da Câmara e da Junta, mas não deixarão de ver quem será o candidato a vereador, os restantes elementos da lista e quem andará à volta. É verdade que é preciso criar uma moldura humana e juntar elementos para poder criar uma força política mobilizadora. Mas não é menos verdade que também há elementos que, em vez de acrescentar votos, tiram. Ora, estas considerações servem para dizer que compete aos partidos apresentar os melhores e mais bem preparados para os combates eleitorais. E aqui, sejamos claros, as cúpulas dos partidos que falharem neste ponto, terão de retirar as ilações. Qualquer um dos partidos nunca teve tão boas condições para apresentar os candidatos que entendem apresentar. Traduzindo em miúdos: não apresentem os melhores candidatos em cada lugar que vão ver o que é bom para a tosse…

“Tu, de novo?”

Todos nós conhecemos os crónicos das eleições autárquicas. Aqueles que, ato eleitoral após ato eleitoral, são candidatos aqui e ali. Dar espaço deve ser a palavra de ordem. Deixem aparecer gente que nunca esteve na política. Que já deram mostras na vida profissional e pessoal e que têm algo a dar à vida pública. Os órgãos autárquicos não podem ser um mero espaço de socialização para quem não sabe fazer outra coisa.

E finalmente… “Câmaras não se ganham, Câmaras perdem-se!”

Para quem anda na política há um certo tempo, conhece uns ditados que traduzem as “leis” da vida política. Não sendo leis das ciências exatas, são leis das ciências sociais que traduzem uma certa regularidade de acontecimentos em determinadas condições. Este é dos ditados que melhor traduzem o sentimento para as eleições autárquicas. Mostram bem que a população, regra geral, não quer mudar de presidente. Se o que está não faz mal, deixa-se ficar. Podemos interpretar isto de tanta maneira, mas os resultados eleitorais mostram mesmo esta realidade. Então, o que isto quer dizer é que, os resultados de 2017 foram construídos de 2013 a 2017, os de 2013 foram construídos de 2009 a 2013 e assim por diante. E é mesmo assim. Não tenhamos dúvidas, a responsabilidade dos resultados eleitorais de 2021 é dos participantes na vida política autárquica de 2017 a 2021. E devem também retirar ilações.

“I have a dream!”

Em jeito de post-scriptum, uma ideia a que voltarei, insistindo e persistindo. Era porreiro, pá que os candidatos apresentassem projetos, ideias e visões para o lugar a que se candidatam. Nem que fosse só para que a Maioria Silenciosa ou “populaça”, como gostam de nos chamar, se deixasse enganar e acreditasse que era por dedicação à causa pública e não por ganância que se candidatam.

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