Como diz que disse? 

Traz água no bico a estapafúrdia ideia de, assim de repente,  pôr deputados a trabalhar!

Li com estupefacção a notícia de que o Presidente do Parlamento Regional contrariou a tendência das Angústias sobre a tolerância de ponto na terça dos mascarados, mandando José Manuel Rodrigues que os deputados comparecessem nas suas cadeiras para trabalhar nesse dia.

Trabalhar? Os deputados?

 

Penso que todos eles, os deputados, reclamaram para as respectivas entranhas. Se o lugar de deputado na Madeira fosse para trabalhar, tinham ficado onde estavam antes das eleições - pelo menos os que tinham emprego.

Era carnaval e pode ter acontecido José Manuel Rodrigues querer contrariar também o Governo Regional nas restrições carnavalescas oficiais ao desfile de gala, ao trapalhão, aos assaltos e aos bailinhos de hotel. Terá pensado Rodrigues: pelo menos uma vez no ano, estes que me elegeram chefe do centro de dia/creche podem disfarçar-se de trabalhadores.

 

É uma ideia.

Mas já agora vai outra ideia, se o meu antigo companheiro Zé Manel das conferências de imprensa, inaugurações e viagens à CEE não levar a mal.

Neste tempo em que os (reais) trabalhadores passam as passas do lay-off, perdem o emprego e são convidados a dispensar até metade do vencimento, como na TAP, que tal se os deputados e os governantes também fizessem um pequeno desconto na transferência mensal para descomprimir a vida dos necessitados neste vale de lágrimas e asfixia costista/albuquerquista?

Tudo isto numa altura em que muitos súcias, laranjas, direitolas e mesmo a primeira-ministra Catarina se marimbam para o Estado Social, porque a sua carreira profissional não está em risco de entrar em lay-off ou de sofrer cortes salariais. A cambada acertou na mouche ao escolher o trajecto de vida e quando se trata de ajudar o povo não se vê nenhum desses coirões chegar-se à frente! 

Só se chegam à frente para levar a pica salvadora, enquanto os médicos, enfermeiros, bombeiros, polícias, motoristas e demais profissões de altíssimo risco andam de pulmões à vela, sem direito a prevenção imunitária. 

Pois, Zé: sabe muito bem receber do chorudo, parquear o popó gratuitamente, almoçar mais barato do que no 'Tasco de Santo Antão', ser prioritário na caçada às vacinas que salvam vidas, aumentar desalmadamente os seus próprios vencimentos sempre que dá na veneta - e depois justificar as pipas de mel 'trabalhando' na terça de carnaval. 

Bom proveito. 

 

PS 1 - Zé Manel Rodrigues, acossado e preso por ter e por não ter cão, está a dirigir-me uma das perguntas incómodas e acutilantes daquelas que fazia nas entrevistas do seu tempo. Muito bem, aqui vai a resposta: dou sim senhor autorização para retirarem parte do meu vencimento num eventual plano de entreajuda nacional ou regional.

PS 2 - Para amenizar, Amigo Zé: podes explicar-nos o que é que realmente a Madeira perdia se se fechasse o 'centro de dia' parlamentar até ao fim do ano?

 

Luís Calisto (amigo do Zé e crítico do Sr. Presidente)