PICA-MIOLOS 

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Luís Calisto                                                                                             

SONDAGEM INFECTADA 

 

A sondagem publicada pelo 'Económico Madeira' deste mês saiu fortemente condicionada pelo covid-19. E não é ironia.

Precisemos a ideia: não será a sondagem propriamente dita que precisa de vacinação urgente, mas os eleitores abrangidos pela pesquisa da Aximage.  

Uma diferença de quase 40 pontos entre Pedro Calado e Miguel Gouveia só tem esta explicação: a amostra de eleitorado submetida à consulta de opinião está rendida ao trabalho extenuante que o Governo Regional tem desenvolvido na organização da defesa regional face ao perigo mortal do '19'. 

É humano. 

Trata-se de premiar quem acompanha diariamente os infectados pelo vírus com um planeamento e uma acção discutíveis mas prenhes de resultados. 

Ora, fazer uma sondagem numa altura destas é como tecer um comentário ao ponta-de-lança do nosso Clube que acaba de marcar um golo importante.

Há todo o interesse em conhecer como vai de opinião o eleitorado funchalense depois de um ano de infecções, confinamentos, restrições, multas, bichas no supermercado, paralisação das aulas e por aí adiante. E é isso: qualquer sondagem há-de traduzir forçosamente a reacção aos dias de pandemia. Não propriamente a avaliação do trabalho de uma câmara, por mais que o seu presidente esteja sob escrutínio da dita sondagem.

Haverá 61% de funchalenses interessados em retirar Miguel Gouveia da presidência da Câmara do Funchal, para lá colocar o vice do Governo, Pedro Calado? 

Pode ser. Mas só se escorre pelos corredores e becos da cidade uma onda encrespada contra o Engenheiro. Uma vaga de fundo ao contrário, matreira, que por enquanto não se anuncia aos que ficam em casa distanciados, confinados, mascarados, de mãos lavadas e obrigatoriamente recolhidos.

Sejamos francos: essa onda contra Miguel Gouveia não existe, nem pouco mais ou menos.

Não está em causa a popularidade de Pedro Calado no meio político insular. Mas quando as opiniões cavam uma diferença daquelas e dão maiorias absolutas a uma coligação (PSD-CDS) encabeçada seja lá por quem for da área laranja, seja por Eduardo Jesus, Pedro Ramos ou Manuel António, aí temos de procurar o 'gato' que se escondeu na mecânica da sondagem.

Sem dúvida que o eleitorado se 'apaixonou' pela grande máquina montada nas Angústias e no Sesaram para combater a pandemia, com os profissionais da Saúde à frente. E a forma de declarar o 'amor à segunda vista' foi transferir e aumentar loucamente o impacto da maioria regional para a maioria municipal funchalense. À primeira oportunidade que apareceu, fogo! Amo-vos, heróis anti-covid.

Para esse eleitorado, soaria mal se qualquer coisa envolvendo Miguel Albuquerque, Pedro Calado, Pedro Ramos e o Governo em geral não desse numa grande maioria, com festa cheia de abraços e beijos. 

Desse estado de alma beneficiou a laranjada que se prepara para disputar a autarquia da capital.

Não acredito que lá mais para Setembro-Outubro, quando as autárquicas aquecerem, os funchalenses confundam a pandemia 19 com a pandemia partidária. A não ser que Cafofo continue a dizer para os madeirenses votarem PSD porque até ele e o PS estão rendidos à laranja. A menos que Miguel Iglésias continue com panfletos de autêntica e despropositada campanha em páginas de opinião que não passam do 'abraço do urso' ao trunfo Miguel Gouveia. 

Vejo bem sem óculos.

Acredito numa reviravolta destas sondagens. E grande. Mas, seja que resultado for, parabéns a quem vencer o Funchal, com ou sem vírus passional. Mesmo com 40 ou 70% de diferença.