Alta Política

PROFE MENTIRAS

Ninguém ousará duvidar da coerência de Paulo Cafofo. Sempre que fala, o chefe do PS mente. Não é um daqueles casos em que o freguês diz uma verdade hoje, uma mentira amanhã, uma meia verdade depois de amanhã, com um critério tão instável que deixa o auditório desconfiado, desconfortável, sem saber se hoje é o dia da mentira ou da meia verdade.

Com o nosso chefe da casa socialista, se ele diz que vai cumprir o mandato inteiro na Câmara é porque vai abandoná-lo a meio. Se garante hoje que não existe projecto nenhum para o Lazareto, obviamente que amanhã descreverá o projecto inexistente como um edifício de 5 pisos. Quando ele jura a pés juntos que deu em Lisboa um murro na mesa do Sargentão, está visto que ele nem chegou a ver o patrão nacional.

E os mais exemplos diários que o Leitor conhece.

A gente sabe deste estilo catavento e não se deixa enganar. Quando ele diz verde, sabe-se que é encarnado.

Daí o Profe Mentiras.

A verdade é que hoje o homem do Fica na Cidade é apanhado logo à nascença da sua afirmação. 

Estamos esclarecidos.

Mas na noite eleitoral o Profe, sem ferir o seu princípio de dizer uma coisa e fazer outra, usou de um requinte para servir as suas mentiras que faz favor.

Como já aqui referimos, ele atestou solenemente que perante os resultados abandonava a liderança do PS para não voltar a candidatar-se ao cargo. E que saía também da Assembleia Legislativa. deixando vago o seu banco de deputado.

À primeira, todos reagiram mal: ele não larga o tacho de líder e vai continuar na ALM para não deixar os 3,3 milhões do grupo parlamentar por mãos alheias.

Mas deu-se ali uma representação teatral tão emotiva, com a referência à dignidade pessoal e aos princípios apreendidos na família, enfim, o homem criou um ambiente de inevitabilidade que nem o Eduardo Luís consegue nas peças do TEF.

O homem entrou bem na política, em 2013, e olha que depois de tanta decepção acaba por também sair bem - pensou tanta gente. 

Da minha parte, arvorado em analista de meia tigela, elogiei o Profe por ter sabido sair de cabeça erguida, ao contrário de tantos que vi definhar nas noites eleitorais da nossa história recente.

E não me venham dizer que, embora com alguma desconfiança, não acreditaram todos no que poderia ser a primeira verdade do mestre de História.

Afinal, o protagonista da récita de finalistas preparara outro banho de aldrabice. 

Bom, a atitude é condenável. Trata-se de nova mentira. Mas reconheço que a partida foi bem pregada. Se foi!

Os próprios camaradas caíram que nem patinhos, como diz o povo. Alguns coelhos saltaram da toca, com auto-elogios acerca do que já fizeram e podem fazer ainda pelo partido, como que lançando candidaturas sem grande futuro.

Outros, ao cheiro de poder, exibiram-se já em bicos-de-pés, chamando os jornalistas para mostrar qualidades - risíveis, na maior parte dos casos. 

Agora, estão todos queimados, com a mais do que provável recandidatura do Profe por alturas do próximo congresso.

Lá chegou a novidade, no fim-se-demana: o Profe meteu a papelada, sim, mas para suspender o mandato no Parlamento. Não se trata de renúncia. Afinal, ele disse na noite eleitoral: "Saio da Assembleia". O que é outra meia verdade. Não será a primeira vez que ele sai da Assembleia. Em dia de plenário, ele sai sempre no final dos trabalhos... para voltar na sessão seguinte, como os demais deputados.

O processo interno continuará de maneira que não custa adivinhar: com o passar dos dias, ele afinal não se demite do partido (está grudado ao tacho até à medula) nem estará fora da próxima eleição na Praça Amarela. E tudo continua como nos últimos anos, a tal carreira do 0-4. Continuidade que leva os laranjas a respirar fundo, após o susto de uma mudança com cabeça no PS.

Partida do Profe bem pregada, sim senhor.

E o 'saco de gatos' continua com boa saúde.