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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

 

ESTÓRIAS 


JUVENAL XAVIER                                                                                  





A GUERRA DO FUTEBOL 

 

 

A curta viagem para o México custou uma guerra às Honduras e a El Salvador. Em 1969, a paixão latina pelo futebol trocou a bola pelas balas, quando a seleção salvadorenha (a pera doce) derrotou os vizinhos hondurenhos, por 3-2, num jogo de desempate para a qualificação do Mundial de 1970. Na final, Brasil 4 Itália 1, no Estádio Asteca, perante 107.000 espetadores. “Tri” para o escrete canarinho de Pelé, Tostão e Rivellino, no auge da ditadura militar (1964/1985) que derrubou João Goulart (Jango), democraticamente eleito. 

 

José Esteves (O Desporto e as Estruturas Sociais) relata a Guerra do Futebol: “Houve zaragatas, várias mortes, muitos feridos. Uma semana depois, foi o corte de relações entre os dois países. As Honduras expulsou uns cem mil camponeses salvadorenhos, que ali trabalhavam, desde sempre, nas colheitas; e em resposta, os tanques de São Salvador atravessaram as fronteiras. A guerra durou 4 semanas e fez quatro mil mortos. As guerras, pois, a desportiva e a militar. Ambas com o mesmo sinal de referência, o ódio que leva à morte, no mínimo simbólica, a desportiva, a do adversário-inimigo-a-liquidar”. 

Esta Guerra do Futebol, na análise de Desmond Morris (A Tribo do Futebol), “constitui o exemplo clássico da des-ritualização e do regresso às raízes primitivas do grande ritual simbólico do jogo. É verdade que, neste caso, as relações entre os dois países já eram más, mas o facto de um simples jogo de futebol conter um significado tal que seja capaz de funcionar como detonador de uma guerra em larga escala sublinha o poder do desporto e o modo como ele domina os espíritos dos que o seguem tão avidamente, por vezes até à morte”. 

O conflito (A Guerra das 100 horas) foi sanado graças à intervenção da Organização dos Estados Americanos (OEA). Depois do cessar-fogo, a 18 de julho de 1969, o acordo de paz foi assinado a 4 de Junho de 1970. O Mundial ia já no seu sexto dia. 

Vivíamos, então, o tempo longo das ditaduras do “Cone Sul” (Argentina, Chile e Uruguai) e do terrorismo de Estado culpado por 50 mil assassínios, 35 mil desaparecidos, 400 mil presos e 4 milhões de exilados na América do Sul, entre os anos 60 e 80. Ficaram tristemente célebres Jorge Videla (condenado a prisão perpétua, em 2010, por crimes contra a humanidade), Augusto Pinochet (faleceu no Dia Internacional dos Direitos Humanos) e Juan Maria Bordaberry (condenado a 30 anos de prisão, também, em 2010, por violação da constituição). 

Não se foge, impunemente, ao julgamento da História. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro amigo, falou de todos os ditadores criminosos da America Latina mas esqueceu-se de Fidel Castro que matou milhares de pessoas e encarcerou outras tantas após a revolta cubana. Ou será que existem ditadores bons e ditadores maus?!