VANDALISMO DE FIM-DE-SEMANA
Gil Canha
Tenho a confessar que não sou um aficionado do futebol profissional, mas tenho de reconhecer que tem uma importância socioeconómica relevante como também não é de todo necessário ler a obra de Hannah Arendt ´Sobre a Violência´, para se perceber que esta atividade desportiva ajuda a libertar as tensões acumuladas, principalmente entre os mais jovens. Mas esta minha intromissão num mundo onde sou completamente alheio nasceu a propósito das eleições em curso para uma nova direção do Club Sport Marítimo, e que me fez recordar um lamentável e repugnante episódio protagonizado pelo atual Presidente do Clube, o sr. Carlos Pereira.
Num fim-de-semana de meados do ano de
2013, (quando os fiscais da autarquia estavam menos vigilantes) o sr. Carlos
Pereira resolveu alterar a fachada dum edifício emblemático do Sec. XVII,
existente na Rua D. Carlos I (Zona Velha da Cidade), propriedade da Câmara
Municipal do Funchal, e cedido por Protocolo ao Club Sport Marítimo, a 19 de
outubro de 1990, para aí o clube criar ´um centro sócio-cultural de arte,
desporto, recreio e apoio social à sua sede´.
Assim, no rés-do-chão do referido prédio,
o Presidente do Marítimo ordenou a abertura dum vão, em arco, para criar uma
montra pirosa, tudo clandestinamente e à revelia do proprietário, a CMF. E onde havia um janelão em cantaria vermelha da região com grade em ferro forjado tão
característico da nossa arquitetura urbana antiga, o cavalheiro destruiu e
mutilou tudo isso na maior das impunidades.
A alarvidade clandestina do sr. Carlos
Pereira causou na altura grande polémica, e no dia 1 de agosto de 2013, por
deliberação tomada em reunião de Câmara, foi decidido mandar levantar um
processo de contra-ordenação, e foi dado um prazo de 8 dias para a direção do
CSM repor o vão existente.
E o mais grave é que numa vistoria
realizada ao edifício por fiscais da câmara, verificou-se que nos pisos
superiores os ´compartimentos e salas se encontravam completamente
abandonados com teias de aranha e um manto de poeira, onde os troféus que
constituem um valioso património cultural, em vez de estarem expostos nas
vitrinas existentes (…) estão arrumados no chão de um dos compartimentos do
terceiro piso´, e mais alertam que esses pisos estão ´deixados ao
desleixo, sem qualquer utilização, contribuindo para o agravamento do estado de
deterioração do prédio´, o que contrariava grosseiramente a cláusula
quinta do Protocolo celebrado entre a Câmara e o Clube, onde estava
bem explícito o dever e a responsabilidade pela conservação do imóvel.
E além da descaracterização da fachada do edifício, veio-se a descobrir que no piso térreo, onde funciona a loja do clube, ´encontra-se montado um quiosque com balção próprio, afecto a uma instituição financeira - Real Transfer - que opera no mercado de câmbios e de transferências de dinheiro´, o que contrariava escandalosamente a cláusula terceira do referido Protocolo, pois era ´dado um fim diverso do convencionado entre as partes´. (Na altura, os funcionários da autarquia não conseguiram apurar se o negócio financeiro era do clube ou se era mais um negócio de Carlos Pereira e de Luís Miguel de Sousa, de aluguer de apartamentos e de carros a jogadores).
E o mais escabroso disto tudo, é que no
Protocolo acordado, se escriturara que o clube deveria ´manter sempre as
fachadas exteriores nas melhores condições´ (cláusula Quinta do articulado), e
que se comprometia ´a realizar, anualmente, um encontro de futebol, com uma
equipa de escalão nunca inferior ao seu, cuja receita líquida reverterá em
favor da Câmara, e para ser doada a uma Instituição Social de Beneficência a
definir´. (cláusula Quarta do articulado). Obviamente que nem uma coisa nem
outra foi cumprida, nem o Presidente Carlos Pereira, na sua proverbial
sobranceria alguma vez se importou em executar, aliás, eram tudo situações
flagrantes que levariam imediatamente à rescisão do acordo e à devolução do
bem.
Perante estes factos, a Câmara de Miguel
Albuquerque agachou-se, fez de conta que atuava para enganar a opinião pública,
e o processo foi metido bem fundo na gaveta. Quando em finais de
2013 assumi funções de vereador do urbanismo, peguei no assunto, e resolvi
atuar, para no mínimo, obrigar o sr. Carlos Pereira a repor aquilo que
destruíra e dar um sinal forte que não seriam os poderosos a mandar na urbe.
Quando levei o assunto ao sr. Paulo Cafôfo, o tipo encolheu-se manhosamente
como uma hiena malhada, grunhiu algumas palavras impercetíveis, e
envergonhadamente me disse: “Não me digas que queres meter uma ação de
despejo ao Marítimo!” Eu repliquei: “temos de fazer algo duro para
apertá-los, e os tipos da direção serão obrigados a repor o vão destruído da
fachada e a organizar o tal jogo que se comprometeram, no fundo será dinheiro
para ser utilizado na solidariedade social, mas que raio, serão só os pobres
das zonas altas a demolir obras clandestinas?!”
E quando eu apertava o cerco a estes
mariolas que têm manias que mandam no bem comum, o sr. Paulo Cafôfo,
juntamente com o tal cantor miserável de opereta, e coadjuvados pelo sr. José
Manuel Rodrigues (o criado da Sousalhada), trataram logo de me defenestrar da
Câmara, precisamente porque eu punha em causa os privilégios e a presunção
arrogante de certo canalhedo.
Por estes lamentáveis factos, acho que os sócios do glorioso Marítimo deveriam de se libertar da velha tralha poeirenta e desleixada do Pereirismo serôdio e esclerosado, e apostar numa nova direção que se comprometa a recuperar um belo prédio que foi mutilado por um puro ato de vandalismo de fim-de-semana e a promover anualmente o tal jogo de beneficência.
2 comentários:
Espero que os sócios do Marítimo corram com o sr. Carlos Pereira, que foi para Presidente para fazer os seus negócios com os jogadores do Marítimo. Os jogadores ao assinarem contrato com o Marítimo já ficam vinculados a alugar um apartamento por valor exorbitantes e a alugar um carro da empresa do Presidente. E depois o srº Carlos Pereira arma-se em benfeitor do Marítimo. Só se for benfeitor das suas alzibeiras!
Agora percebo porque razão o prof. Paulo Cafôfo retirou os pelouros de urbanismo ao vereador Gil Canha em 2014. Era para não beliscar a máfia no bom sentido. Só espero que o novo Presidente da CMF Pedro Calado exija a reposição da fachada do edifício do secúlo XVII.
Enviar um comentário