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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Reflexão


Brava Valley vai ensinar
pássaros a voar



Por Vitorino Seixas


Eduardo Jesus tem referido o Brava Valley como um “projeto sem igual em todo o país”. Nas recentes visitas às comunidades madeirenses na Venezuela, Estados Unidos, Canadá e África do Sul, Miguel Albuquerque tem apresentado o Brava Valley como um projeto de importância estratégica para o desenvolvimento económico da Madeira. Na mesma linha, António Costa não poupou nos elogios ao Brava Valley: “Espero que seja apenas uma semente que frutifique e possa ter um crescimento infestante ao longo de todo este vale para fazer da Madeira um dos grandes locais da economia digital” ¹.
No entanto, apesar de se atribuir uma importância estratégica ao Brava Valley parece que estamos perante mais um plano estratégico confidencial, pois o mesmo não está disponível no sítio da Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura (SRETC). Numa pesquisa mais completa na internet apenas se consegue aceder à imagem da capa de uma brochura com o título “Brava Valley, Madeira Island” ², elaborada pela SRETC.
Neste contexto, de grande secretismo sobre o Brava Valley, é altura de desafiar Eduardo de Jesus a publicar o projeto no sítio da SRETC e a promover a sua discussão pública. A falta de transparência e de discussão de um projeto de tamanha importância para os madeirenses não se coaduna com a promessa “Governar democraticamente é decidir tendo sempre presente o interesse de todos os cidadãos” ³ efetuada por Miguel Albuquerque logo após a sua tomada de posse como Presidente do Governo Regional.

Esta discussão é essencial e urgente pois o projeto tem sido apresentado como o “Silicon Valley” da Madeira, o que suscita, desde logo, uma questão pertinente: Será que os mentores da clonagem conhecem a génese de Silicon Valley e quais as razões do seu sucesso?

Provavelmente não pois Silicon Valley não nasceu por decreto do governo americano. Nasceu porque a Universidade de Stanford se empenhou, desde 1890, em alinhar a sua missão com as empresas de alta tecnologia instaladas em Silicon Valley e em incentivar os seus professores e doutorandos a criarem as suas próprias empresas. O papel decisivo da Universidade de Stanford, nas décadas de 1940 e 1950, levou a que Silicon Valley tenha surgido, de modo informal, à volta do campus da Universidade, com tanto sucesso que o seu reitor, Frederick Terman, é considerado o “pai de Silicon Valley”. A tudo isto, acresce que Silicon Valley possui mais 28 universidades classificadas entre as 100 melhores do mundo, um laboratório da NASA e três centros de investigação do governo dos EUA, um dos quais do Departamento de Defesa.

Pelo contrário, o Brava Valley surge num contexto completamente diferente, o qual será analisado à luz de 5 fatores críticos de sucesso: a génese, o ambiente empreendedor, a âncora, a capacidade de transformar investigação em negócios e a existência de capital de risco privado.

Quanto à génese, o Brava Valley nasceu em 2016 por decreto do Governo Regional, uma iniciativa pública assente numa estrutura hierarquizada, enquanto Silicon Valley nasceu por iniciativa de empresas e de universidades de forma orgânica e colaborativa. Quanto ao ambiente empreendedor, Silicon Valley surge num ambiente empreendedor criado ao longo de mais de 50 anos de parcerias inovadoras entre as universidades e as empresas de alta tecnologia. No Brava Valley, não há histórico de ambiente empreendedor nem de parcerias inovadoras entre universidades e empresas de tecnologia. Quanto à âncora, no Brava Valley será uma empresa regional de informática, a ACIN, enquanto que em Silicon Valley foi a Universidade de Stanford, uma das mais prestigiadas no domínio da investigação. Quanto à capacidade de transformar investigação em negócio, em Silicon Valley a Universidade de Stanford assim como as outras universidades incentivaram os seus milhares de professores e doutorados a criarem as suas empresas de alta tecnologia, enquanto que no Brava Valley o número de professores e doutorandos de universidades interessados em criarem startups tecnológicas é extremamente reduzido, para não dizer nulo. Por fim, quanto à existência de investidores privados, em Silicon Valley há milhares de investidores privados, que de forma individual ou organizados em grupos, investem em startups tecnológicas, com a vantagem de conhecerem muito bem as últimas novidades da investigação tecnológica e de também serem empreendedores de startups tecnológicas. Por exemplo, um dos mais famosos grupos de investidores em startup tecnológicas, a “Máfia do PayPal”, é constituída por muitos doutorados da Universidade de Stanford que também são empreendedores de renome mundial. Pelo contrário, no Brava Valley só há garantias de financiamento público do governo regional e, provavelmente, de fundos de capital de risco como o Madeira Capital, criado em 2004 pelo Instituto de Desenvolvimento Regional da RAM (IDERAM) com financiamento público, e dissolvido em 2009 devido ao falhanço da sua gestão.

Em síntese, enquanto Silicon Valley é um habitat natural onde os “pássaros” expressam a sua aptidão para voar, Eduardo Jesus pretende criar um habitat artificial no Brava Valley, baseado na ilusão de que o mundo funciona devido ao planeamento e ao financiamento público burocrático, uma ilusão a que Nassim Taleb chama “ensinar pássaros a voar”.

“Governação ao serviço do interesse comum, colocando a Região em primeiro, para fazer desta, a terra da felicidade”, Eduardo Jesus

¹ “António Costa aprova Brava Valley”, Diário de Notícias da Madeira, 22 de Março de 2016.
http://www.dnoticias.pt/hemeroteca/576469-antonio-costa-aprova-brava-valley-NIDN576469
² “Brava Valley promovido em brochura”.
http://ccmm.madeira.gov.pt/index.php/publicacoes/noticias/182-brava-valley-promovido-em-brochura
³ “As promessas são para cumprir”, Diário de Notícias da Madeira de 30 de Abril de 2015.

http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/513650-as-promessas-%07sao-para-cumprir

13 comentários:

Anónimo disse...

O "Brava Valley" é um projeto duma empresa, a ACIN que é propriedade dum empresário com muito estreitas relações de amizade com um ex Ministro de Passos Coelho, O Poiares Maduro que lhe deu alguma projeção em, digamos, viagens de "negócios".
É uma empresa de sucesso (até ver).
Tem uma forte componente de avanças com o Governo Regional e algumas Câmaras que lhe dão sustento.
Oxalá seja mais do que um fogacho passageiro.
Oxalá, mesmo, porque esta pobre ilha bem precisa de algumas empresas tecnológicas.
No entanto o passado diz-nos que quando o Governo entra, alguns enriquecem mas a falência é coisa mais que certa.

Anónimo disse...

Brava Valley ou Vilhão Valley?

Anónimo disse...

Mais um excelente artigo do eng. V. S.
Vejam a citação com que termina: o Jesus do empreendedorismo a promover a felicidade... a RAM como a terra da utopia realizada, em que o governo trabalha para bem do povo. Incrível a desvergonha. Gargalhada total. Como se não os conhecêssemos de ginjeira...

Anónimo disse...

o do 1º comentário deve ser o vendedor de ledes que queria uma roda gigante

Anónimo disse...

A tal ACIN, tão famosa, que explora os parquímetros em Santa Cruz sem contrato desde 2009, com a conivência da JPP (Juntos Pelo Poder).
Onde andas, Mistério Público?
Onde andas, Tribunal de Contas?

Anónimo disse...

O Brava Valley é um pequeno carrapato que os vilões criaram para se fazerem importantes.

Anónimo disse...

Como é evidente, o Brava Valley é um projeto nascido para o fracasso.
Estas iniciativas têm sucesso quando nascem da iniciativa de empresas e instituições com motivos e razões pensadas, estruturadas, e com objetivos definidos.
Não é com decisões públicas marteladas.
Criou-se o Tecnopolo, incubadora de empresas, quere-se start-up a toda a força. Mas agora que vão para a Ribeira Brava.
Não é assim Dr. Jesus. A sua vontade e desejo é maior do que a sua competência.
Não aprendeu nada nos cursos de Madrid ?
Bem sei que metade dos seus companheiros daqueles cursos de excelência estão falidos. Talvez Vossa excelência teve o mesmo aproveitamento didático...

Ricardo Meneses Freitas disse...

Caro amigo Vitorino Seixas, para mim, o mais preocupante não é o Presidente e o Secretário embarcarem nesta parvoíce. O mais grave é não haver ninguém próximo deles com dois dedos de testa que lhes diga que isto é uma patachada de ponta a ponta. É o que dá rodear-se de yes mans...

Anónimo disse...

Ainda não perceberam que é tudo tão simples: enquanto um tinha a Singapura do Atlântico estes têm o Brava Valley.

Anónimo disse...

Este Vitorino Seixas não era uma daquelas criaturas que iam fazer do Tecnopolo a Singapura do Atlântico?
Tenho ideia que a eminência parda, que agora vem perorar sobre os males do mundo, andou anos a fio a compactuar com as loucuras do Dr. Jardim e as fantasias despesista que andaram a ser cometidas no seu reinado.
Foram muitas as formações que este senhor "patrocinou", com dinheiro do FSP, claro está, com faustosas viagens a Londres, Paris, NY, and so on... É mais não digo.

Anónimo disse...

Gerir parcometros remotamente e fazer cobranças coercivas ilegais a partir FR escritórios de advogados que nem as respectivas leis sabem invocar, é Inovação Tecnológica ou é mais um esquema de enriquecimento fácil dum vilão de direito armado em cientista da NASA?

Farinha disse...

Oh criatura (19 de dezembro de 2016 às 19:11). Este é o meu 1 comentário nesta publicação. Pelos vistos sofres de perseguição e andas com a cabeça à roda a ver LEDs com tantos espalhados pela ilha e em especial nesta quadra festiva.
Ser importador e técnico de tecnologia LED não é propriamente um vendedor. Pelo facto de comentares anonimamente, crês que pode comentar com rédea solta. Há pois!
A roda! Pois, o meu avô paterno tinha uma, movida a àgua, para produção de massas alimentícias.
A roda! A mais antiga roda gigante existe na Áustria desde 1897, recordo-te que a minha mãe nasceu no Império Austro húngaro.
Quanto à roda continuo a projectar, é movida a electricidade e oferece lazer aos utentes, e cheia de lâmpadas LED. Lol! Quero uma roda só para mim! Lol!
Sugiro que ponhas o sapatinho junto à lapinha ou àrvore de Natal, e peças ao Pai Natal juizinho nessa cabecinha.
Boas festas.

Anónimo disse...

Brava Valley sonha-se de noite para fazer de dia? A única empresa que se fala é acin e as restantes empresas de informática RAM que se encontram com dificuldades, não poderiam ser integradas nesse projecto com financiamentos de dinheiros da Europa, com apoio da Universidade da Madeira e do MITI com complemento de Recursos Humanos em projectos úteis para a RAM? Mas "El Comandante" (acin) é que manda, o que podemos interpretar como a passagem de atestado de incompetência a alguns políticos próximos desse senhor.