Uma
lei estúpida só pode
dar resultados estúpidos
O perigo dos demagogos em lugares
com influência legislativa é a sua total impreparação para lidar com o complexo
balancear de sensibilidades e impactes que deve preceder o esforço legislativo.
A partir de Abril do corrente
ano, a Assembleia Legislativa Regional, impôs a proibição do abate de animais
de companhia e errantes.
Atentemos a este parágrafo da
notícia do público:
“Os animais serão depois esterilizados num centro de atendimento médico
veterinário (público ou privado), e após a intervenção que inclui a colocação
de um microchip de
identificação, serão encaminhados para adopção onde permanecem durante 60 dias.
Findo esse prazo, ou regressam aos canis ou gatis municipais ou são devolvidos à liberdade no mesmo local
onde foram recolhidos.” (https://www.publico.pt/2016/03/12/sociedade/noticia/madeira-proibe-abate-de-animais-de-companhia-e-abandonados-1725899)
Sejamos claros, só um individuo
com distúrbios mentais graves poderá não concordar que o abate de cãezinhos e
gatos é uma violência emocional para a sociedade profundamente hipócrita no
tratamento dos animais. De facto, a hipocrisia desta legislação é profundamente
acutilante quando atentamos às condições dos animais em produções industriais.
Relevante é esta hipocrisia ser maioritariamente defendida por forças de
esquerda que assim promovem uma desigualdade gritante no tratamento dos animais
consoante a sua espécie, os tais paladinos da igualdade.
Mas passemos para além da
hipocrisia óbvia dos legisladores e atentemos aos resultados desta legislação.
Por todo o Funchal crescem matilhas de cães que dando vasão aos seus instintos,
atacam tudo o que mexe na escuridão da madrugada. Pelos lados da APEL/Dom João,
já são incontáveis os gatos mortos por uma matilha que cresce a olhos vistos e
já atinge o valente número de 9 cães, alguns deles de grande porte. É claro que
esta situação se aproxima rapidamente de uma potencial tragédia, para os
animais ou para alguma pessoa incauta que seja apanhada pela atenção noturna da
matilha.
Pergunto-me como foi possível
passar uma legislação destas sem dar condições aos
serviços de recolha de animais errantes para continuar a fazer o seu trabalho
em nome do bem-estar dos animais e segurança dos humanos? Onde neste mundo
voltar a jogar animais abandonados na rua é uma solução aceitável? O que será
emocionalmente mais violento, saber que há animais de companhia que são
abatidos por causa de donos irresponsáveis, ou ver um qualquer gatito, ou uma
criança, ou um idoso, a ser estraçalhado por 9 cães raivosos, ou ainda ver cães
e gatos envenenados na rua a caminho do trabalho ou da escola? Claro que nisto
os animais não têm culpa nenhuma, a culpa é dos animais do parlamento que na
voraz fome de protagonismo, fazem aprovar leis estúpidas que trazem sofrimento
para animais e humanos.
Os mesmos paladinos aproveitam a
época natalícia para repudiar a tradicional “morte do porco”. Acredito que
nenhum deles alguma vez criou um animal para alimentação, na verdade, nem eu
que sempre vivi em cidades. Mas o meu gosto pela ruralidade me aproximou desta
tradição e fez-me ver a questão fora dos olhos dos queques da cidade. Se é
verdade que a “matança do porco” por si só é um ato violento, é mais verdade
que o stress causado ao animal é menor do que a morte industrial (incluindo o
transporte para o matador, o acondicionamento do animal e o medo e desespero do
animal quando se apercebe do seu destino, quando não é esquartejado ainda com
vida), a rapidez da morte do animal é uma questão de honra para o matador
porque o stress “estraga a carne”. Por esta ilha fora, os mestres da matança
são escolhidos a dedo pela sua proficiência em acabar rapidamente com o
sofrimento do animal.
Claro que esta realidade não cabe
na cabeça de demagogos que vivem no paraíso das maravilhas dos supermercados e
demais filmes da Disney. Para eles, o mundo é um gênero de fofilândia onde os
animais falam e pululam em nuvens cor-de-rosa. Que assim sejam, é a
prerrogativa deles, mas quando chegam ao parlamento e começam a influir
decisivamente em questões sérias, aí é que a “porca torce o rabo”. Continuemos
a eleger infantis…
Amanhã vou a uma matança do
porco, feliz natal!
Ricardo Menezes
4 comentários:
Excelente artigo!
Mas vão matar políticos este natal?
Excelente, você acertou em cheio nos urbanos depressivos que se julgam com uma moral superior do politicamente correcto.
E o pior é que existem jaulas para animais cheias e passam a vida em sofrimento só porque não podem ser abatidos.
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