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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Com os cumprimentos de Lisboa


Temporal arrasou Funchal ribeirinho faz hoje 90 anos


Funchal, 15 de Dezembro de 1926

Havia um século que a Madeira mendigava a Lisboa que durante algum tempo não levasse na totalidade as suculentas receitas arrecadadas pela Alfândega do Funchal. Que deixasse um poucochinho, durante um par de anos, a fim de que se pudesse construir a tão ambicionada muralha diante do calhau da cidade e dessa forma se evitasse desgraça maior do que as que costumavam acontecer sempre que o mar acordava de sudoeste para cá.
Em vão. Havia sempre umas obras prioritárias no reino a justificar o adiamento dos anseios ilhéus. Nos anos 20, era o porto de Leixões, era o porto de Lisboa... E o dinheiro da Alfândega e não apenas continuava a seguir limpo de espinhas para os governos alfacinhas se banquetearem.
Quem aproveitou para brilhar foi o Oceano Atlântico, em dia de má disposição, que por acaso faz hoje 90 anos. Em 15 de Dezembro de 1926, vagas açoitadas por um ciclone medonho vieram por aí para cá, destruíram todas as centenas de embarcações surtas na baía, depositando algumas delas na Rua da Praia, na Rua da Alfândega, inundando mercado e praça (antigos) e rebentando contra o calhau o simbólico iate 'Phyzalia' de Humberto Passos Freitas, que se preparava para uma expedição científica no Pacífico.
Os funchalenses da época viram o mais pavoroso cenário e sofreram a mais dolorosa destruição de quantas tragédias insulares a História conta. Humberto Passos Freitas morreu a bordo do iate, bem como a companheira inglesa Angela e os restantes do total de oito tripulantes, escapando apenas Óscar Mota 'Marão'.
Por motivos de serviço nesse dia na agência do pai, Agência João de Freitas Martins, o futuro escritor Carlos Martins não se encontrava no 'Phyzalia'. Faria parte da expedição prevista para breve, mas nesse dia falharia aos ensaios programados. Carlos Martins viveu o 15 de Dezembro da tragédia e ficou para contar histórias de arrepiar. Como contou. No seu caso, a perda do melhor amigo, Humberto Passos Freitas, foi uma ferida para o resto da vida.
O Funchal permaneceu semanas envolto num ambiente de depressão e ruínas, com as carcaças de barcos a servir de quadro ideal para as Kodacs dos turistas que passavam pela Madeira. Um cartaz turístico que os madeirenses nunca agradeceram convenientemente ao centralismo pindérico da Lusitânia.
E acham que se comoveram na capital do reino com a tragédia no Funchal? Comoveram-se tanto que só meio século depois começaram a deitar blocos para a futura Pontinha...

7 comentários:

Anónimo disse...

Olha, afinal o outro tinha razão?

Anónimo disse...

Agora os alfacinhas não se comovem com e necessidade de um sistema fiscal próprio... talvez com medo de ficarem sem receitas para os seus "novos portos".

Anónimo disse...

Agora, para onde vão as receitas fiscais cobradas na Madeira? Não ficam cá?Comparando, são na mesma suculentas?

Anónimo disse...

Humberto Passos Freitas, um homem do mundo, muito à frente para o seu tempo, foi entre muitas coisas o funfafor do Club Sports Madeira.
Era filho de um dos fundadores das cervejas da Madeira.
Um nome que merecia uma homenagem, nem que fosse a nível da toponímia.

Ricardo Meneses Freitas disse...

Isto só vem demonstrar que apesar da Autonomia tão dificilmente ganha, a verdadeira autonomia só se consegue com emancipação financeira.

Tal como nesta altura, há sempre prioridades rectangulares que se sobrepõe aos distantes ilhéus. Nesta últimos tempos que ouvimos falar de um perdão de 700 milhões à Carris de Lisboa, uma injecção de 300 Milhões na CP e Metro e não há dinheiro para a concessão da linha marítima de carga e passageiros (Ferry) para a Madeira, um direito constitucional claro que nos é negado.

Aliás, esta constituição só parece ser lei quando toca na função pública e nos bolsos dos Juízes do Tribunal constitucional, tudo o resto é paisagem!

Anónimo disse...

Os primeiros dirigentes da autonomia sabiam que o excesso de regionalização era um disparate. Tinham já experiência do regime anterior, e de como as relações com o Terreiro do Paço efetivamente funcionavam. E continuam a funcionar do mesmo modo.
Burros foram os que vieram a seguir e comeram o barrete de tudo, ou quase tudo regionalizar. Esqueceram-se que também era preciso pagar.
Agora pagamos todos pela burrice dos anos oitenta.

Anónimo disse...

se Cabo Verde consegue sobreviver nos também conseguiríamos