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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Reflexão




Cinzas lavadas com Neoblanc



Ricardo Meneses Freitas



Já se passaram 4 meses desde os incêndios de Agosto na Madeira, que resultados temos?
Uma das maneiras mais eficazes de medir a vontade política é deixar um intervalo de tempo suficientemente longo para que a temática saia da ribalta, penso que atingimos esse patamar agora.
De grosso modo, os madeirenses ficaram sem saber o que realmente se passou durante aqueles três dias. Como seria de esperar, a comissão parlamentar entretanto criada, infestada de desejos de enterro da temática, não vieram esclarecer as muitas denúncias que foram feitas aqui no Fénix. Entre elas destaco:
- As rejeições de telefonemas da CMF por parte do GR na Segunda-feira 8 de Agosto;
- A ausência do Vereador com o pelouro da Proteção Civil da CMF durante a catástrofe;
- A descoordenação entre os bombeiros voluntários e municipais;
- A rejeição de ajuda de Lisboa e outras entidades externas na Segunda-feira e Terça-feira.
- O deslocamento de uma viatura de combate que estava no “Choupana Hills” para acudir à casa de um proeminente socialista cá da Praça.
Se para algumas destas denúncias foram avançadas (fora da dita comissão) algumas justificações, a gravidade do ocorrido necessitava de um esclarecimento cabal e não apenas de uma ou outra justificação sem contraditório e meio de prova. A culpa morreu solteira… Nada que não fosse de esperar de uma comissão onde de cada lado havia suspeitas de culpa.
Oportunamente escrevi um pequeno texto (meados de Setembro) onde abordei as questões de planeamento e ordenamento para que, de alguma forma, fosse estimulada alguma discussão pública que julgo indispensável para encontrar soluções para um problema paradigmático de ordenamento do território. Isto é, defendo que acima de tudo, o problema das nossas florestas é um problema de enquadramento regulatório. Sendo assim, só poderá ser resolvido recorrendo a instrumentos que alterem a realidade da intervenção no espaço e a uma consequente adaptação do espaço a uma função que se revela primacial para a vivência na ilha, a segurança contra incêndios e aluviões.
Caros leitores, digo-vos que, muito humildemente, este texto colheu opiniões muito favoráveis de vultos técnicos a nível nacional que por uma questão de cortesia não irei nomear. De cá da Tabanca, não recebi um único feedback sobre as minhas propostas! A não ser que os grandes especialistas em ordenamento do território e ambiente do País estejam todos cá na ilhota, não posso como não me sentir como um papagaio parolo ao insistir em gastar os meus poucos neurónios a escrever textos para esta gente. Assim, agora, e sempre que o Caro Sr. Calisto me permitir, mandarei para cá as minhas humildes reflexões técnicas.
Mas voltemos aos incêndios (o texto está em anexo para quem quiser ler). Verifico com muita preocupação que não houve uma única intervenção que indicasse a absoluta inaceitabilidade de ter-se permitido a realização do Rali Vinho Madeira no quadro climático que se verificava e que redondeou nos incêndios descontrolados verificados (quadro climático que começou na quarta-feira dia 3 de Agosto). Ninguém, que eu saiba, se questionou o que teria acontecido se em vez dos incêndios terem começado na Segunda-feira dia 8 de Agosto, tivessem começado na Quinta-feira dia 4 de Agosto ou na Sexta dia 5 de Agosto, ou mesmo no Sábado dia 6 de Agosto. As nossas serras estavam apinhadas de gente, com muito álcool à mistura, sou só eu que imagino aquele inferno com milhares de pessoas retidas e rodeadas pelo fogo? Sou só eu que imagino o pânico desses milhares a se fazerem todos à estrada para fugir às chamas entupindo as pequenas vias de comunicação que dão acesso a alguns dos locais mais procurados no rali, impedindo a movimentação das equipas de combate ao fogo? Sou só eu que acha que com tanta festa lá em cima, a probabilidade de se começar um incêndio negligente era incrivelmente alta? Tudo isto torna bastante claro que nada aprendemos com os recentes incêndios e que infelizmente a perceção de risco por parte das autoridades competentes é claramente insipiente.
Ouvi uns “zuns zuns” que a SRARN iria intervir no espaço florestal a partir de Janeiro. Como já não faço parte do PSD não tenho informação privilegiada sobre estas ações, mas espero sinceramente que se comece a pensar a sério e a agir em consonância. Por mais tristes que sejam as tragédias que nos assolaram nos últimos anos, o potencial de dano é imensamente superior ao que já se verificou, basta consultar dados históricos e cruzá-los com os cenários das alterações climáticas para verifica-lo. Por mim e enquanto por cá andar na ilhota, prometo estar atento. A todos os leitores peço que não deixem estas temáticas morrerem, só assim poderemos ter esperança que alguma coisa relevante seja efetivamente feita... Se não, à primeira oportunidade, vai para a gaveta, a prova está na maneira como todos os agentes políticos fugiram à responsabilidade centrando a questão nos apoios às vitimas e não nas suas responsabilidades perante a tragédia e na maneira como evitá-la.

















3 comentários:

Anónimo disse...

Se o incêndio fosse no fim de semana do rali, haveria muita gente para o apagar.

Anónimo disse...

SOS- Porto Santo . Hoje ao fazer uma visita a um familiar internado no Centro de Saúde, ouvi um zumzum que é uma Vergonha. Não há água quente para dar banho aos doentes.ESCANDALOSO!

Anónimo disse...

O senhor esqueceu-se que os últimos incêndios foram uma série de televisão, com dois actores a lutarem para ver qual deles ia receber o prémio de melhor actor.