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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Reflexão



O Natal é quando um homem quiser



Uma daquelas frases feitas, cheias de vazio, que costumam aparecer por estes dias, “o Natal é quando um homem quiser”, parece trazer este ano algum sentido. De facto, o Natal andou por aí todo o ano e andamos todos numa roda viva de natalidade (a que não dá filhos).
Comecemos pelo Pai Natal que entrou pelo DN dentro, carregadinho de suplementos e saúde financeira, e lá se enraizou para uma festa constante de positividade. Este Pai Natal, aconchegado por uma legitimidade escusa, daquelas que saem dos gabinetes de advogados com lugar cativo nos parlamentos, enche-se de estratégias comerciais fazendo-nos todos esquecer o apoio, esse sim legítimo, que os contribuintes dão aos órgãos de comunicação social para que não se tornem publicações tendenciosas (http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-07-14-Madeira-aprova-subsidios-a-jornais-e-sites-de-informacao-privados). É importante notar que não será fácil para qualquer jornalista tomar atitudes anti natalícias neste contexto… a economia da RAM pode não estar de saúde, mas jorra saúde lá dentro e é preciso muitos tomates para ser o grinch do Natal.
Mas o natal é daquelas coisas mágicas que enchem de luz e alegria todos nós. O natal do DN aconchegou-se e fez o natal de toda uma Região. Podemos não sentir na pele as belas notícias que nos vão chegando todos os dias, como aquelas que nos dizem que o desemprego está a cair aos trambolhões, que a receita fiscal se envigora a cada Viagra político de Miguel Albuquerque ou Paulo Cafofo, que os chineses são os novos Sousas e que os Sousas são os novos chineses, que a Ribeira Brava está tornando-se a capital do silicone tantas são as “empresas boas” que por lá germinam como cogumelos. O Natal anda aí a rodos e o DN faz a cobertura todos os dias.
Mas por muito bonito que seja o Natal da Madeira, o Natal da Nação também é coisa iluminada! O natal progressista da Geringonça acabou com esse garrote oportunista e imperial, a vil austeridade, e embrulhou-nos a todos em impostos manhosos que só lá estão para o “nosso bem”! É o imposto no açúcar que faz mal, é o imposto nos combustíveis que nos fazem mal, é o tabaco que parece ter a responsabilidade de financiar o Serviço Nacional de Saúde por inteiro, o álcool, etc. O Natal da Geringonça até tem pai natal, é o afetuoso Marcelo que apaparica tudo e todos e só arregala o olho com aquela coisa das barrigas de aluguer. Dizem os mais sérios que isto anda tudo no fio da navalha, que Portugal é um baralho de cartas armado em castelo e os ventos de tempestade começam a zurzir um pouco por todo o mundo. Mas nos entretantos temos o Natal, um natal rico, próspero e cheio de esperança! Não acreditam? Tomem lá o novo aeroporto de Lisboa! (Close up a Sócrates triunfante apontando com um sorriso para um Galamba cúmplice)
Mas por lá anda um grinch que é teimoso como um raio! Ainda não perceberam que aquilo é depressão pós-natal? Explico: Passos Coelho tem um natal diferente do nosso. No Natal de Passos, não há cá essa coisa de solidariedade para com os mais desafortunados da vida! No Natal de Passos há vadios que não querem fazer nada e os vadios extremos que preferem viver na rua a ter de fazer alguma coisa. Para Passos a pobreza é uma escolha melhor combatida com um gênero de “Portuguese dream” para estimular o pessoal vadio. Passos teve o seu Natal, um Natal sofrido para todos nós, mas um Natal muito posh para ele e para outros alienados do mundo real.
Mas nisto de Natais, quem ganha é o PCP! O grande recordista para a maior quadra natalícia da história moderna! No natal do PCP o Pacto de Varsóvia nunca foi rompido, a URSS é a resposta social ao Mundo imperialista dos EUA e o Terreiro do Paço responderá perante Moscovo, essa Capital do Mundo dos livres (de dinheiro principalmente). No Natal do PCP, Putin e o seu regime de oligarcas são a pura emanação do ideal comunista, o socialismo on the making! As políticas externas de Moscovo são pinceladas de liberdade dadas em territórios doentes como os da Chechénia, Geórgia, Crimeia e Síria. O PCP faz me recordar aquele soldado que se manteve entrincheirado numa gruta durante 28 anos após o fim da II Grande Guerra (https://pt.wikipedia.org/wiki/Shoichi_Yokoi), destoando apenas no facto do PCP manter-se em guerrilha ativa quando o comando socialista de Estaline foi substituído por um regime muito próximo do fascismo. Mas o Natal é o que o homem quiser e o PCP insiste em seguir as pisadas de Moscovo quando Moscovo já não representa nada do que o PCP diz representar. É um Natal, no mínimo, de luta e abnegação sem igual reconheça-se.
Acabemos no natal dos Leões. O Leão de lá, acostumado a estas andanças de natal, lá manteve a tradição não estivessem eles untados pela liderança de Jesus. Não que torça pela luz ou outras figuras mitológicas do retângulo, mas apraz-me sentir que alguma boçalidade possa estar a se preparar para abandonar a ribalta dos holofotes constantes do futebol português, refiro-me ao dito oitchencha oitcho e ao tipo bafiento que manda nele. O Leão de cá, bem que se engalanou para o Natal com o novo estádio, mas aquela equipa demora a convencer. Os maritimistas desesperam por um presente no sapatinho que traga um ponta de lança e uma resolução eficaz para o caso do Diego Sousa. Não estou a deixar de reconhecer o bilhete do Djoussé nas Antas (vai ser sempre Antas para mim), mas tirando isso, o Casillas bem podia ter plantado umas semilhas lá na pequena área que não interferia no jogo. Vá lá Pai Natal Carlos Pereira, traz aí qualquer coisa de jeito para o Natal! (era muito bem feito se o Djoussé metesse três no saco hoje…)


Ricardo Meneses Freitas

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